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sábado, 7 de março de 2020

Governo da Índia restringe exportações de medicamentos e IFAs que podem contribuir nos cuidados de pacientes com Coronavírus

Governo da Índia restringe exportações de medicamentos e IFAs que podem contribuir nos cuidados de pacientes com Coronavírus. A lista foi publicada no no último dia 3 de março de 2020, no jornal oficial do País, “Gazette of India Extraordinary, Part – II, Section 3, sub-section (ii), assinado pelo setor de Comércio Internacional do Ministro de Indústria e Comércio, Nova Delhi. Os produtos do Capítulo 29 (Química Orgânica) e no Capítulo 30 (Farmacêutica) constantes da lista em anexo, mudam de status de venda livre para restrita (“free para Restricted”) para exportação dos IFAs (insumos farmacêuticos ativos) e dos medicamentos acabados. A medida tem aplicação imediata.

Medicamentos e Ativos Farmacêuticos - IFAa, bloqueados em 03-03-2020, para exportação pelo governo Indiano: Paracetamol, tinidazol, metronidazol, acyclovir, vitaminas B1, B6, B12, progesterrona, cloranfenicol, eritromicina, neomicina, clindamicina, ornidazol


Associações que representam as indústrias farmacêuticas, ponderam que não qualquer razão para considerar eventual risco de desabastecimento, e, tem mantido às autoridades informadas sobre o acompanhamento sistemático sobre o mercado internacional de insumos farmacêuticos e de medicamentos.

A cadeia de medicamentos no Brasil opera com grandes estoques de matérias primas e produtos acabados. O varejo da rede privada está abastecido desde o distribuidor que também detém produtos suficientes para o consumo dos próximos meses. As fabricas seguem produzindo normalmente utilizando IFAs que já tinham sido embarcados nos países produtores, em especial da China, insumos que já tinham saído do País quando começaram a aparecer os primeiros sinais de restrições às exportações.

Vários fabricantes de insumos primários, IFAs e de medicamentos estão localizadas na região mais afetada pelo covid 19, “primo irmão” de outros coronavírus, como: SARS e MERS, estão na China, entre elas as províncias de Zheijiang e Hubei, adjacente a Wuhan, onde se originou a contagio. Dois polos industriais importantes que respondem pelo suprimento de vários produtos que dão origem aos medicamentos para tratamento de diabetes, antibióticos, vários analgésicos, dentre vários outros IFAs.

A indústria farmacêutica mundial, principalmente a que depende da China – chamada fábrica do mundo -, realiza uma frenética busca por alternativas de fontes de suprimento, correndo contra o tempo, esbarram em realidades que muitas vezes remetem as empresas globalizadas de volta para chineses para suprir os insumos intermediários. A substituição do IFA em um medicamento encontra outra barreira de ordem regulatória. Para garantir que o medicamento tenha qualidade, segurança e eficácia as agências reguladoras, de primeira linha como a ANVISA exigem que, quando o fabricante substitua ou aditive o insumo farmacêutico ativo, comprove o novo medicamento proporcionará a mesma resposta clínica do seu produto original. Substituição ou inclusão de IFAs nas formulações dos medicamentos podem demandar outras adequações na composição mestra do medicamento.

Estudos de comparabilidade entre produtos, após a substituição de IFAs, além de gerar significativos custos á indústria, demandam tempo e disponibilidade de centros de estudos o que pode levar às Agências Reguladoras a avaliar uma flexibilização emergencial pontual e específica para grupos de produtos críticos, efetivamente sob risco de desabastecimento.
Recentemente (26-02) publicamos no nosso blog: https://rmconsult.blogspot.com/2020/02/sanofi-cria-novo-fornecedor-europeu-de.html a notícia que a Sanofi - embora tenha mencionado que o projeto não está relacionado com o surto de coronavírus - está criando uma nova empresa, com sede na França, para produzir e comercializar insumos farmacêuticos ativos, em seis diferentes locais na Europa (dois na França e um no Reino Unido, Itália, Alemanha e Hungria) em meio aos riscos de crescentes escassez de medicamentos. A notícia foi divulgada na sequência do anúncio atribuído ao FDA expressando a preocupação de desabastecimento de cerca de 150 medicamentos.

No domingo (23-02) a Agência Americana, Food and Drug Administration – FDA, identificou 150 medicamentos prioritários, como: antibióticos, antitérmicos, hemoderivados (imunoglobulinas), inibidores de enzimas neuraminidase do vírus da gripe (carboxilato de oseltamivir – Tamiflu), dentre outros produtos sujeitos a risco de escassez de suprimentos, se o surto piorar, matéria completa publicada no nosso blog: https://rmconsult.blogspot.com/2020/02/coronavirus-ameaca-escassez-de-cerca-de.html.

Praticamente 13% de todas as instalações que fabricam ingredientes para medicamentos vendidos nos EUA estão localizadas na China e 85% dos medicamentos no estoque estratégico nacional dos EUA usam algum componente proveniente da China. A ameaça de escassez fez com que um porta-voz do FDA, se pronunciasse: - "Se uma potencial escassez ou interrupção de produtos médicos for identificada pela FDA, usaremos todas as ferramentas disponíveis para reagir rapidamente e mitigar o impacto nos pacientes e profissionais de saúde dos EUA",

O governo chinês está inventariando e controlando os estoques de produtos estratégicos que prioritariamente serão destinados a sua população, estuda restringir e até bloquear as exportações para garantir o atendimento da demanda interna

No Brasil o governo vem se estruturando e tentando administrar severamente toda crise causada pelo Covid 19 tendo deflagrado várias iniciativas. O Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE-COVID-19), sob responsabilidade da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS/MS), tem atuado como ferramenta nacional prioritária para a gestão coordenada da resposta à emergência no âmbito nacional. Vários produtos de EPIs para proteção de médicos, equipes de saúde e pacientes estão sendo adquiridos com entregas previstas para as próximas duas semanas.

Na questão de medicamentos várias inciativas já estão em desenvolvimento em parceria com as Associações dos Fabricantes locais. A ANVISA, também, se mobilizou para autorizar a importação de medicamentos, sem registro no País, em caráter de excepcionalidade, como é o caso público da imunoglobulina, cujo abastecimento depende da liberação, por ser um dos produtos utilizados no tratamento e na profilaxia dos pacientes contaminados, os embarques, mesmo que autorizados correm o risco de não se concretizar por restrições do governo chinês.

Se de um lado a indústria nacional transmite segurança e demonstra estar em posição razoavelmente confortável com os estoques disponíveis, não se pode negligenciar a atenção com os produtos não produzidos internamente e que não temos estoques nem alternativas no Brasil, a exemplo dos hemoderivados, algumas vacinas, insulinas, antibióticos, dentre tantos outros... que poderão causar grande impacto no SUS.

Outro viés a ser considerado, na égide do abastecimento e para a manutenção dos estoques, é que quando a produção na China for retomada e normalizada, é pouco provável que o mercado público brasileiro tenha prioridade para ser atendido antes dos top 10 do mundo que certamente receberão os IFAs ou dos medicamentos acabados, primeiro. Na maioria dos outros países - com o mesmo nível de exigências do Brasil - os preços são mais atraentes além de terem menores interferência cambiais que hoje contribui negativamente para o abastecimento.

Não há motivos para uma corrida ao mercado com a necessidade de estocar produtos, mas precisamos estar conscientes que poderemos ter motivações fora de nossa governança que nos levará a enfrentar possíveis riscos de desabastecimento de alguns produtos.


 Anexo:

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