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sexta-feira, 27 de março de 2020

ANTIRRETROVIRAIS CONTRA CORONAVÍRUS


Reaproveitamento de medicamentos

A polêmica sobre o uso da cloroquina, um medicamento originalmente desenvolvido para tratar a malária, está em todos os noticiários.

O que poucos sabem é que o chamado "reposicionamento de medicamentos" é uma estratégia utilizada há vários anos por cientistas e empresas farmacêuticas, alegando a dificuldade e o custo de desenvolvimento e teste de novos remédios. Assim, reaproveitar um medicamento já existente permite eliminar as longas e caras etapas de ensaios clínicos.
Desta forma, não deve causar surpresa o argumento de que medicamentos para outras condições possam oferecer um tratamento de primeira linha para a atual pandemia do coronavírus sars-cov-2, causador da covid-19.

O grande risco com que essa estratégia se deparou agora é que, uma vez que a informação de um potencial reaproveitamento de um determinado medicamento chega ao público, as pessoas corram às farmácias para comprá-lo e usá-lo antes que os testes adequados sejam feitos - o reaproveitamento de medicamentos permite saltar várias etapas, mas não todas, obviamente.

Assim, o primeiro alerta a esse tipo de informação é que, se a automedicação por si só é perigosa e causa danos reais, a automedicação com um remédio sem testes pode ser particularmente danosa e absolutamente desaconselhada.

Feitos os esclarecimentos, vamos às boas novidades: dois anúncios mostram que podemos não ter que esperar os "meses e anos" que têm sido anunciados quando se fala em medicamentos para tratar a covid-19.

Inteligência artificial contra o coronavírus
A empresa Gero, especializada na utilização de técnicas de inteligência artificial para descobrir novas moléculas candidatas a medicamentos, anunciou ter usado sua plataforma para identificar drogas potencialmente úteis contra a covid-19.

Foram encontrados vários candidatos promissores: Seis deles já foram aprovados, três foram retirados por não apresentar resultados para seus objetivos iniciais, enquanto outros nove já foram testados em ensaios clínicos para outras indicações.

As drogas que se destacaram como potencialmente úteis contra o sars-cov-2 são: niclosamida, nitazoxanida, afatinib, ixazomib e reserpina.

A lista de possíveis medicamentos anti-covid-19 também inclui vários senolíticos, moléculas que "matam" as chamadas células senescentes ou danificadas, que estão atraindo interesse do mundo acadêmico e da indústria pelo seu potencial contra uma série de doenças relacionadas à idade.

"A descoberta torna possível iniciar os ensaios clínicos em questão de semanas," anunciou a empresa.

Antivirais candidatos para tratar covid-19
Uma coalizão de pesquisadores europeus, por sua vez, anunciou que alguns medicamentos já aprovados começaram a ser avaliados para o tratamento do novo coronavírus - todos remédios vendidos sob receita e a maioria para uso em ambiente hospitalar controlado.

"Por exemplo, a teicoplanina, oritavancina, dalbavancina e monensina são antibióticos aprovados que demonstraram inibir o corona [sars-cov-2] e outros vírus em laboratório," disse o Dr. Denis Kainov, da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia.

Kainov e seus colegas afirmam que esses e outros medicamentos antivirais de amplo espectro "seguros para o homem", já testados, são bons candidatos para o tratamento da covid-19 e devem ser considerados pelos pesquisadores e médicos de todos os países.

Antivirais de amplo espectro
Os pesquisadores noruegueses também revisaram informações sobre a descoberta e o desenvolvimento de agentes antivirais de amplo espectro (BSAAs), que são medicamentos direcionados a vírus de duas ou mais famílias virais diferentes. Eles resumiram a literatura para 120 medicamentos que já haviam se mostrado seguros para o uso humano e criaram um banco de dados, com acesso aberto e gratuito para pesquisadores de todo o mundo.

Trinta e um desses remédios foram considerados pelos pesquisadores como possíveis candidatos à profilaxia e tratamento das infecções por covid-19. Os pesquisadores também descobriram que recentemente começaram as investigações clínicas de cinco possíveis candidatos a medicamentos para tratar o vírus covid-19.

"No futuro, os BSAAs terão impacto global, diminuindo a morbidade e a mortalidade por doenças virais e outras, maximizando o número de anos de vida saudável, melhorando a qualidade de vida dos pacientes infectados e diminuindo os custos do atendimento," concluíram os pesquisadores.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Discovery and development of safe-in-man broad-spectrum antiviral agents
Autores: Petter I. Andersen, Aleksandr Ianevski, Hilde Lysvand, Astra Vitkauskiene, Valentyn Oksenych, Magnar Bjoras, Kaidi Telling, Irja Lutsar, Uga Dampis, Yasuhiko Irie, Tanel Tenson, Anu Kantele, Denis E.Kainov
Publicação: International Journal of Infectious Diseases
DOI: 10.1016/j.ijid.2020.02.018

Artigo: AI for the repurposing of approved or investigational drugs against COVID-19
Autores: Konstantin Avchaciov, Olga Burmistrova, Peter Fedichev
Publicação: Published online
DOI: 10.13140/RG.2.2.20588.10886

Redação da Diário da Saúde


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