Reaproveitamento de
medicamentos
A polêmica sobre o uso da cloroquina,
um medicamento originalmente desenvolvido para tratar a malária, está em todos
os noticiários.
O que poucos sabem é que o
chamado "reposicionamento de medicamentos" é uma estratégia utilizada
há vários anos por cientistas e empresas farmacêuticas, alegando a dificuldade
e o custo de desenvolvimento e teste de novos remédios. Assim, reaproveitar um
medicamento já existente permite eliminar as longas e caras etapas de ensaios
clínicos.
Desta forma, não deve causar
surpresa o argumento de que medicamentos para outras condições possam oferecer
um tratamento de primeira linha para a atual pandemia do coronavírus
sars-cov-2, causador da covid-19.
O grande risco com que essa
estratégia se deparou agora é que, uma vez que a informação de um potencial
reaproveitamento de um determinado medicamento chega ao público, as pessoas
corram às farmácias para comprá-lo e usá-lo antes que os testes adequados sejam
feitos - o reaproveitamento de medicamentos permite saltar várias etapas, mas
não todas, obviamente.
Assim, o primeiro alerta a
esse tipo de informação é que, se a automedicação por si só é perigosa e causa
danos reais, a automedicação com um remédio sem testes pode ser particularmente
danosa e absolutamente desaconselhada.
Feitos os esclarecimentos,
vamos às boas novidades: dois anúncios mostram que podemos não ter que esperar
os "meses e anos" que têm sido anunciados quando se fala em
medicamentos para tratar a covid-19.
Inteligência artificial contra
o coronavírus
A empresa Gero, especializada
na utilização de técnicas de inteligência artificial para descobrir novas
moléculas candidatas a medicamentos, anunciou ter usado sua plataforma para
identificar drogas potencialmente úteis contra a covid-19.
Foram encontrados vários
candidatos promissores: Seis deles já foram aprovados, três foram retirados por
não apresentar resultados para seus objetivos iniciais, enquanto outros nove já
foram testados em ensaios clínicos para outras indicações.
As drogas que se destacaram como
potencialmente úteis contra o sars-cov-2 são: niclosamida, nitazoxanida,
afatinib, ixazomib e reserpina.
A lista de possíveis
medicamentos anti-covid-19 também inclui vários senolíticos, moléculas que
"matam" as chamadas células senescentes ou danificadas, que estão
atraindo interesse do mundo acadêmico e da indústria pelo seu potencial contra
uma série de doenças relacionadas à idade.
"A descoberta torna
possível iniciar os ensaios clínicos em questão de semanas," anunciou a
empresa.
Antivirais candidatos para
tratar covid-19
Uma coalizão de pesquisadores
europeus, por sua vez, anunciou que alguns medicamentos já aprovados começaram
a ser avaliados para o tratamento do novo coronavírus - todos remédios vendidos
sob receita e a maioria para uso em ambiente hospitalar controlado.
"Por exemplo, a
teicoplanina, oritavancina, dalbavancina e monensina são antibióticos aprovados
que demonstraram inibir o corona [sars-cov-2] e outros vírus em
laboratório," disse o Dr. Denis Kainov, da Universidade Norueguesa de Ciência
e Tecnologia.
Kainov e seus colegas afirmam
que esses e outros medicamentos antivirais de amplo espectro "seguros para
o homem", já testados, são bons candidatos para o tratamento da covid-19 e
devem ser considerados pelos pesquisadores e médicos de todos os países.
Antivirais de amplo espectro
Os pesquisadores noruegueses
também revisaram informações sobre a descoberta e o desenvolvimento de agentes
antivirais de amplo espectro (BSAAs), que são medicamentos direcionados a vírus
de duas ou mais famílias virais diferentes. Eles resumiram a literatura para
120 medicamentos que já haviam se mostrado seguros para o uso humano e criaram
um banco de dados, com acesso aberto e gratuito para pesquisadores de todo o
mundo.
Trinta e um desses remédios
foram considerados pelos pesquisadores como possíveis candidatos à profilaxia e
tratamento das infecções por covid-19. Os pesquisadores também descobriram que
recentemente começaram as investigações clínicas de cinco possíveis candidatos
a medicamentos para tratar o vírus covid-19.
"No futuro, os BSAAs
terão impacto global, diminuindo a morbidade e a mortalidade por doenças virais
e outras, maximizando o número de anos de vida saudável, melhorando a qualidade
de vida dos pacientes infectados e diminuindo os custos do atendimento,"
concluíram os pesquisadores.
Checagem com artigo científico:
Artigo: Discovery and development of safe-in-man broad-spectrum antiviral agents
Autores: Petter I. Andersen, Aleksandr Ianevski, Hilde Lysvand, Astra Vitkauskiene, Valentyn Oksenych, Magnar Bjoras, Kaidi Telling, Irja Lutsar, Uga Dampis, Yasuhiko Irie, Tanel Tenson, Anu Kantele, Denis E.Kainov
Publicação: International Journal of Infectious Diseases
DOI: 10.1016/j.ijid.2020.02.018
Artigo: AI for the repurposing of approved or investigational drugs against COVID-19
Autores: Konstantin Avchaciov, Olga Burmistrova, Peter Fedichev
Publicação: Published online
DOI: 10.13140/RG.2.2.20588.10886
Artigo: Discovery and development of safe-in-man broad-spectrum antiviral agents
Autores: Petter I. Andersen, Aleksandr Ianevski, Hilde Lysvand, Astra Vitkauskiene, Valentyn Oksenych, Magnar Bjoras, Kaidi Telling, Irja Lutsar, Uga Dampis, Yasuhiko Irie, Tanel Tenson, Anu Kantele, Denis E.Kainov
Publicação: International Journal of Infectious Diseases
DOI: 10.1016/j.ijid.2020.02.018
Artigo: AI for the repurposing of approved or investigational drugs against COVID-19
Autores: Konstantin Avchaciov, Olga Burmistrova, Peter Fedichev
Publicação: Published online
DOI: 10.13140/RG.2.2.20588.10886
Redação da Diário da Saúde
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