A diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa F. Etienne, afirmou quarta-feira (24) que, na ausência de tratamentos eficazes ou na ampla disponibilidade de uma vacina, a Região das Américas pode sofrer surtos recorrentes de COVID-19, intercalados com períodos de transmissão limitada, ao longo dos próximos dois anos.
“Diante de uma pandemia que
muda rapidamente, a liderança tornará efetiva ou romperá nossa resposta. Agora
é a hora de os líderes superarem as divisões políticas e as fronteiras
geográficas para aumentar o apoio a uma resposta proporcional a essa crise sem
precedentes”, afirmou Etienne em uma coletiva de imprensa.
O número de casos de COVID-19
nas Américas ultrapassa 4,5 milhões, com 226 mil mortes em 23 de junho. Desde o
mês passado, os casos triplicaram na América Latina e no Caribe, de quase 690
mil em 23 de maio para mais de 2 milhões atualmente. “Hoje, a transmissão é
generalizada na maior parte da América Central. Na América do Sul, neste final
de semana, o Brasil superou um milhão de casos de COVID-19, juntando-se aos
Estados Unidos como o único outro país do mundo com casos de seis dígitos. O
Caribe está indo melhor, mas com zonas quentes na fronteira entre Haiti e
República Dominicana, bem como dentro do Planalto das Guianas”, explicou.
“Devemos ser realistas sobre o
futuro: todos temos que nos adaptar a um novo modo de vida e redefinir nosso
senso de normalidade”, disse Etienne. Os Estados Membros da OPAS aprovaram
nesta semana, no Comitê Executivo da organização, uma resolução que “procura
equilibrar a tripla ameaça que esta pandemia representa para a saúde das
pessoas, o bem-estar social e as economias nacionais”.
A diretora da OPAS disse que
os países devem ajustar e coordenar sua resposta à COVID-19 com base em dados
cada vez mais detalhados. “Os governos terão que tomar decisões, considerando
simultaneamente indicadores de saúde, econômicos e sociais. Isso permitirá que
as autoridades de saúde entendam onde a transmissão está acelerando e quais
grupos estão em maior risco, a fim de direcionar melhor seus esforços”,
acrescentou.
Segundo ela, a flexibilidade
na resposta é fundamental. “As medidas de saúde pública e os esforços de proteção
social precisarão ser revisados periodicamente para minimizar o impacto do
vírus em nossas sociedades. A provisão de proteção social, financeira e fiscal,
especialmente em comunidades altamente dependentes de economias informais, é
essencial”, afirmou.
“Não superaremos esta crise
sem atender às necessidades dos mais vulneráveis: os mais propensos a adoecer e
os menos propensos a receber cuidados, como povos indígenas, pessoas de
ascendência africana, pessoas em situação de pobreza nas áreas urbanas e populações
migrantes. Se nós os negligenciarmos, correremos o risco de que os próximos
dois anos pareçam os últimos meses”, disse a diretora da OPAS.
Etienne reforçou a necessidade
de se “priorizar a detecção precoce de casos suspeitos, exames laboratoriais,
seguimento de contatos e quarentena como base de uma estratégia específica e
sustentável para controlar a COVID-19”. Ela também indicou que serão
necessários mais investimentos em recursos humanos, suprimentos, melhor
vigilância, além do desenvolvimento e adoção de novas ferramentas.
A diretora também ressaltou a
importância do fortalecimento dos sistemas de saúde, considerada por ela como a
“defesa mais forte contra a COVID-19, hoje e no futuro”. Etienne insistiu na
recomendação da OPAS de que os países invistam em saúde pública pelo menos 6%
do PIB, algo que “é mais relevante agora do que nunca”. E pediu que, de todos
os investimentos em saúde pública, pelo menos 30% sejam destinados ao primeiro
nível de atenção.
“Se alocamos recursos em
unidades de atenção primária, hospitais e laboratórios, aumentamos a força de
trabalho em saúde, investimos em funções essenciais de saúde pública e
expandimos nossas reservas e suprimentos, podemos ficar à frente da pandemia e
salvar vidas”, afirmou.
A diretora da OPAS pediu uma cooperação regional concertada contra a doença. “Embora nos alegre quando um país aplaina com sucesso sua curva epidêmica de COVID-19, o risco de ressurgimento sempre existirá, a menos que todos aplainemos a curva nos níveis regional e global”.
Fonte:OPAS/OMS Brasil
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