Dispositivo
de metal que é colocado nas trompas já causou danos físicos e psicológicos em
centenas de mulheres
Gustavo
Sales/Câmara dos Deputados
Raphael
Câmara, do Ministério da Saúde, informou que pretende enviar recursos aos
estados para apoiar o tratamento psicológico das mulheres
O
secretário de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, Raphael Câmara,
anunciou em audiência da Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados nesta
sexta-feira (27) que será emitida uma nota técnica de orientação sobre como
tratar as mulheres que sofrem de problemas causados pela colocação do
contraceptivo Essure.
Raphael
disse ainda que pretende enviar recursos aos estados para apoiar o tratamento psicológico
destas mulheres. O Essure é um dispositivo de metal que é colocado nas trompas,
considerado uma solução definitiva para a contracepção.
O
dispositivo, elaborado pela Bayer, foi autorizado em 2009 pela Anvisa. Em 2017,
ele foi proibido depois que a detentora do registro no Brasil, a COMMED, não
teria enviado para a Anvisa respostas para alguns questionamentos.
No
final de 2018, a Anvisa voltou a liberar o dispositivo após receber respostas
da empresa, mas a própria Bayer pediu o cancelamento do registro logo em
seguida.
Antes
disso, porém, a partir de 2012, centenas de mulheres colocaram o dispositivo
pelo Sistema Único de Saúde e começaram a relatar reações, principalmente dor
crônica. Os estados mais atingidos seriam Rio de Janeiro, São Paulo, Pará,
Tocantins e o Distrito Federal.
Relatos
de problemas
O secretário Raphael Câmara, que é ginecologista, disse que, na época, quando
atendia pacientes no Rio de Janeiro, não apoiou o uso do dispositivo:
“Eu
não aceitei porque eu já sabia por diversos relatos que isso estava dando
problemas nos Estados Unidos. Então, como eu estou falando em uma audiência no
Parlamento, eu acho que o Parlamento não deveria focar só na empresa não. A
empresa certamente tem a responsabilidade dela, mas acho que o Parlamento também
deveria focar nas pessoas que autorizaram isso", observou.
O
secretário explicou que é preciso avaliar caso a caso se é possível ou não
fazer a retirada do dispositivo:
“Às
vezes quando você opera, você piora porque você provoca mais aderência. Então
cada caso é um caso. Não existe isso de vamos operar todo mundo, vamos fazer
mutirão, isso seria uma irresponsabilidade”, disse.
Desinformação
A presidente da Associação de Mulheres Vítimas do Essure no Brasil, Kelli Luz,
disse que o fabricante não afirma que a colocação do dispositivo cause
problemas, mas não tem explicação para a alta relação entre os sintomas e o
procedimento:
Gustavo
Sales/Câmara dos Deputados
Kelli
Luz, da Associação de Mulheres Vítimas do Essure no Brasil, disse que muitas
mulheres que receberam o contraceptivo estão sofrendo dores e perda de
movimentos
“Sofremos
de dores constantes e se você chega no hospital o médico não sabe do que se
trata. Mulheres que hoje estão em cadeiras de rodas e não sabem por que estão
perdendo o movimento das pernas. E os médicos não sabem. Mulheres que estão
perdendo a libido, o cabelo, os movimentos... a vida. E ninguém prova que é ou
que não é do Essure”, disse Kelli Luz.
Ela
afirmou que as mulheres reclamam que são tratadas com descaso por alguns
médicos e que não conseguem o atendimento para a retirada do dispositivo. Além
disso, não estaria sendo feito um acompanhamento das reações em toda a
população que tem o Essure.
A
deputada Erika Kokay
(PT-DF) disse que muitas mulheres tiveram suas vidas destruídas:
“Essas
dores muito profundas é que acabam muitas vezes por desconstruir relações,
relações conjugais. Uma delas me disse que colocou o dispositivo porque não
tinha mais intenção de engravidar. Mas disse que hoje não pode cuidar dos
filhos”, observou.
Atendimento
especial
Subsecretária da Secretaria da Mulher do Distrito Federal, Fernanda Falcomer
disse que desde 2016 quinze mulheres conseguiram retirar o Essure no DF e
outras vinte entraram na fila após ser emitido um guia sobre o assunto e
estruturado um centro especial de saúde da mulher. A defensora pública do DF
Thais Mara Silva sugeriu a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta
para firmar compromissos do governo no atendimento das mulheres.
A
Bayer informou, por meio de sua assessoria, que a segurança do Essure é
comprovada por estudos, envolvendo mais de 270.000 mulheres. A empresa disse
que decidiu retirar o produto do mercado por motivos comerciais e de estratégia
de negócios.
A
discussão sobre as vítimas do Essure faz parte da campanha 21 Dias de Ativismo
pelo Fim da Violência Contra a Mulher.
Reportagem
- Sílvia Mugnatto
Edição - Roberto Seabra
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