Eficácia do imunizante em
testes pré-clínicos foi demonstrada em artigo publicado pela revista Nature
neste mês; pesquisa é financiada pela RedeVírus MCTI
Os resultados de eficácia em testes pré-clínicos da vacina SpiN-Tec-MCTI-UFMG, desenvolvida integralmente no Brasil e liderada pelo Centro de Tecnologia de Vacinas, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foram publicados no mês de agosto pela revista Nature Communications.
O artigo ‘Promotion of
neutralizing antibody independent immunity to wild-type and SARS-CoV-2 variants
of concern using an RBD-Nucleocapsid fusion protein’, assinado
por 33 pesquisadores brasileiros, demonstra que o imunizante pode induzir altas
taxas de imunogenicidade que protejam contra as variantes da Covid-19, como a
Delta e a Ômicron, esta registra pelo menos 30 mutações na proteína S.
A vacina recebeu a autorização
da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e aguarda a liberação da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão regulador brasileiro,
para iniciar os ensaios clínicos de fase 1 e 2.
O desenvolvimento da SpiN-Tec
foi financiado pela RedeVírus do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações
(MCTI), e também contou com recursos das fundações estaduais de pesquisa de
Minas Gerais e de São Paulo, assim como da Prefeitura de Belo Horizonte.
Em 2020, o MCTI apoiou financeiramente, dez projetos nacionais de
desenvolvimento pré-clínico de vacinas contra a Covid-19, com 15 diferentes
estratégias. Cinco desses projetos, incluindo a SpiN-Tec e a Cimatec/HDT – esta
se encontra em testes clínicos de fase 1-, foram selecionados para receber
financiamento para as fases de ensaios clínicos 1 e 2.
O antígeno da SpiN-Tec inclui
duas proteínas do vírus SARS-CoV-2. Uma é a proteína Spike (S), que está
expressa na superfície do vírus, sofre constantes variações, e é alvo de
anticorpos. A outra parte é o nucleocapsídeo (N), parte interna do vírus e que
se mantém praticamente inalterado em relação às cepas variantes. O
nucleocapsídeo é alvo dos linfócitos T - que conseguem reconhecer pequenos
fragmentos das proteínas do vírus. Por isso o nome SpiN.
Para a vacina, as duas
proteínas passaram por processo de fusão, por meio de manipulação gênica
(biologia molecular), e formaram uma proteína artificial, que tecnicamente é
denominada de quimérica.
A fusão é importante para a
indústria farmacêutica, à medida que facilita, otimiza e reduz tempo e custos
de produção. Além de ser uma única proteína, é produzida em bactéria, que é uma
plataforma mais econômica. O Brasil possui infraestrutura para produzir vacina
a partir dessa tecnologia.
Outro componente da SpiN-Tec é
o adjuvante, cuja função é estimular o sistema imunológico humano que para que
reconheça mais rapidamente e com mais eficiência o vírus, além de manter a
resposta imune por mais tempo no organismo.
De acordo com o coordenador da
pesquisa e do CT Vacinas, o imunologista Ricardo Gazzinelli, que também é
pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a vacina SpiN-Tec foi pensada
como dose de reforço, considerando que a maior parte da população brasileira já
foi vacinada, para proteger principalmente contra as variantes do SARS-CoV2.
Diferença tecnológica - As
vacinas em uso produzem anticorpos contra a proteína S, impedindo a entrada do
vírus nas células, o que é conhecido como resposta humoral. Mas o surgimento de
novas variantes do vírus, em especial após a Ômicron, apresentaram muitas
mutações na proteína S, reduzindo o reconhecimento do antígeno. A maioria das
vacinas de covid induzem os anticorpos neutralizantes, que miram o vírus e não
permitem sua entrada nas células
Com o acréscimo da proteína N,
que é muito imunogênica e praticamente não muda, a expectativa é que a SpiN-Tec
possa reforçar a proteção contra variantes do Sars-CoV-2 com maior número de
mutações na proteína S.
Segundo o pesquisador, que
também é professor visitante da Universidade de Massachusetts, nos Estados
Unidos, a expectativa é que a utilização de proteínas combinadas possa induzir
resposta imune que combata melhor as variantes. Os testes prévios, que
incluíram aplicação em células de pessoas convalescentes e vacinadas, indicaram
que reagem positivamente com a SpiN-Tec.
No artigo da revista Nature
Communications, os pesquisadores apontam que essa vacina poderia ser utilizada
preferencialmente para indivíduos com morbidades que afetam as respostas de
anticorpos, bem como por crianças.
O protocolo para os ensaios
clínicos de fase 1 e 2 está pronto e pode ser iniciado imediatamente após a
autorização da Anvisa. De acordo com o coordenador, a fase 1 avaliará a
segurança em humanos e selecionará uma das dosagens. Serão testadas três
diferentes dosagens em voluntários de até 60 anos. A fase 2 testará a
capacidade de induzir a resposta imune em humanos contra as variantes e será aplicada
em voluntários incluindo pessoas acima de 60 anos.
Além da vacina para Covid-19, o CT Vacinas conduz pesquisas para outras doenças como leishmaniose, malária, doença de Chagas, e mais recentemente monkeypox. A vacina contra malária, que também conta com apoio do MCTI, está em fase mais avançada e aguarda a realização dos testes de segurança, um dos últimos pré-requisitos antes dos ensaios clínicos.
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