Especialistas internacionais
no campo da farmacoeconomia discutiram a necessidade de implementar modelos
novos e abrangentes de tomada de decisões na área de saúde para facilitar e
melhorar a qualidade da formulação de políticas durante um workshop educacional
organizado pela FIFARMA e patrocinado pela Roche América Latina.
Para melhorar a qualidade e o
acesso a tratamentos essenciais, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Rede
de Soluções de Desenvolvimento Sustentável recomendaram que todos os países se
esforçassem para alcançar a cobertura universal de saúde (CUS), incluindo
proteção de risco financeiro, acesso a serviços essenciais de saúde de
qualidade, bem como acesso a medicamentos e vacinas essenciais, seguros,
eficazes, de qualidade e acessíveis para todos.1 Os especialistas expressaram
que, embora a maior acessibilidade seja uma tendência positiva, ela também gera
maior pressão sobre sistemas de saúde com recursos limitados, como os da
América Latina, pressionando os governos para que gerem mais recursos, aumentem
sua alocação para a saúde, e administrem as despesas de forma mais eficiente.2
De acordo com as recomendações
da OMS, a tomada de decisões no setor de saúde deve ser acompanhada pela
definição de prioridades por parte das múltiplas partes interessadas. Através
deste processo, são determinadas as orientações estratégicas do plano nacional
de saúde, levando em consideração os valores e a visão da sociedade em relação
ao sistema de saúde e, em última instância, refletindo o compromisso entre as
partes interessadas, incluindo políticos, profissionais de saúde,
representantes da comunidade e grupos de pacientes. O exercício de definição de
prioridades é básico para abordar as necessidades mais importantes do setor de
saúde e deve preceder as decisões sobre alocação e planejamento de recursos.3
"A complexidade das
decisões tomadas no setor de saúde é uma realidade; geralmente envolvem
concessões entre as diversas alternativas consideradas. O processo de tomada de
decisões costuma ser caracterizado por um baixo grau de transparência e,
portanto, existe a necessidade de melhorar os métodos para avaliar diversas
alternativas e prioridades", comentou Juan Carlos Trujillo de Hart,
Médico, Diretor de Políticas e Operações Internacionais da FIFARMA. "Na
América Latina, existem múltiplas barreiras para o acesso, que vão desde
infraestruturas frágeis até a lentidão na adoção de medicamentos inovadores. Os
governos são encorajados a procurar novas ferramentas para priorizar as opções
de despesas como um meio para abordar algumas dessas questões urgentes na
região."
Para abordar a tomada de
decisões no setor de saúde de forma holística, surgiu um novo modelo chamado
MCDA, que considera todas as prioridades, com ampla participação das partes
interessadas – desde pacientes a entidades empresariais – e
com maior transparência e responsabilidade.4,5,6,7 O modelo MCDA compreende um
amplo conjunto de abordagens metodológicas que oferecem objetividade para
determinar quais critérios são mais relevantes, a importância atribuída a cada
um deles e a melhor forma de utilizar essa informação dentro de uma estrutura
para avaliar as alternativas disponíveis.
De acordo com a FIFARMA, os
modelos tradicionais de avaliação de saúde que abordam os custos e os
benefícios do ponto de vista puramente econômico possuem um alcance limitado,
pois muitas vezes falham em refletir todos os benefícios que uma possível
intervenção pode oferecer e excluem fatores importantes, como inovação ou
orientações clínicas.
"Se o desafio para os sistemas
de saúde fosse apenas uma questão econômica, as soluções só considerariam os
aspectos financieros, mas essa não é a realidade", comentou Esteban
Lifschitz, Diretor, Especialista em Avaliação de Tecnologias de Saúde,
Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires (UBA). "Existem
muitos fatores e partes interessadas que devem ser levados em consideração no
momento de decidir como devem ser alocados os recursos de saúde."
O modelo MCDA considera
múltiplos objetivos de saúde a partir das perspectivas e prioridades de
diferentes partes interessadas, incluindo necessidades médicas insatisfeitas,
carga social da doença, carga dos familiares e profissionais de saúde, e
rentabilidade.4,7,8,9 Abordando a tomada de decisões com múltiplos objetivos, o
modelo MCDA aumenta a consistência e a transparência, tornando mais fácil
atribuir responsabilidades pelas decisões e ajudando todas as partes
interessadas a entender a fundamentação de decisões específicas.
"O modelo MCDA é cada vez
mais utilizado no setor de saúde, pois oferece uma abordagem dinâmica para a
tomada de decisões. Na América Latina, precisamos instruir as partes
interessadas e os tomadores de decisões sobre os benefícios deste modelo",
comentou Denizar Vianna Araujo, PhD., Professor Associado do Departamento de
Medicina Interna da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. "Ao tomar
decisões informadas sobre como alocar recursos no setor de saúde efetivamente e
levando em consideração as prioridades das diferentes partes interessadas, os
governos poderão superar de forma mais eficiente muitas das barreiras que os
pacientes devem enfrentar na região para ter acesso aos tratamentos."
O modelo MCDA foi aplicado com
sucesso para facilitar diversas decisões no setor de saúde em muitos países de
todo o mundo. Na América Latina, também está sendo considerado em mercados como
Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador e República Dominicana.
[1] Plataforma de conhecimento
sobre desenvolvimento sustentável Organização das Nações Unidas. Disponível em
inglês em: https://sustainabledevelopment.un.org/sdg3. Último acesso
em agosto de 2017
[2] WHO, The global push for
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Último acesso em agosto de 2017
[3] WHO, “Strategizing
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em: http://www.who.int/healthsystems/publications/nhpsp-handbook/en/.
Último acesso em agosto de 2017
[4] Baltussen R, Jansen MPM,
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organization of evidence-informed deliberative processes. Value Health. 2017;
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[5] Federação Latino-americana
da Indústria Farmacêutica. Utilization of multiple-criteria decision analysis
(MCDA) to support Healthcare decision making. FIFARMA Website. Disponível em:http://fifarma.org/images/publicaciones/FIFARMA-MCDA-Position-Paper-April-2016.pdf.
Último acesso em 19 de junho de 2017..
[6] Goetghebeur M,
Castro-Jaramillo H, Baltussen R, Daniels N. The art of priority setting.
Lancet. 2017; 389:2368-2369.
[7] Office of Health
Economics. Applying a multi-criteria decision analysis (MCDA) approach to
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rituximab-refractory indolent non-hodgkin lymphoma (iNHL). OHE Website.
Disponível em: https://www.ohe.org/publications/applying-multi-criteria-decision-analysis-mcda-approach-elicit-stakeholders%E2%80%99.
Criado em dezembro de 2016. Último acesso em 4 de agosto de 2017.
[8] Thokala P, Devlin N, Marsh
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making—an introduction: report 1 of the ISPOR MCDA Emerging Good Practices Task
Force. Value Health. 2016; 19:1-13.
[9] Youngkong S, Baltussen R,
Tantivess S, Mohara A, Teerawattananon Y. Multicriteria decision analysis for
including health interventions in the universal health coverage benefit package
in Thailand. Value Health. 2012; 15:961-970.
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