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sábado, 16 de setembro de 2017

Estudo avalia duração de imunidade de vacina para febre amarela

Um dado ainda em aberto acerca da vacina febre amarela 17DD é a duração de sua proteção ao indivíduo imunizado. A resolução dessa dúvida ganha ainda mais importância em populações que vivem em área endêmica, caso de quase todo o Brasil a partir do surto vivido em 2017.

Mais que debate teórico, a resposta para esta dúvida se materializa em definição de esquema vacinal (a dose única preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) ou as duas doses, com reforço após 10 anos, como até há pouco praticada no Brasil?) e, no caso de Instituto de Tecnológica em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), no planejamento produtivo do Instituto.

A resposta virá na década de 2020, e os primeiros passos para dá-la começaram em junho de 2016, quando Bio-Manguinhos iniciou estudo de duração da imunidade da vacina de febre amarela no município de Alhandra, no interior da Paraíba. “Temos a expectativa que os resultados desse estudo sirvam como subsídio para a OMS, acerca da revacinação ou não contra febre amarela”, afirma a coordenadora da Assessoria Clínica (Asclin) de Bio-Manguinhos, Maria de Lourdes de Sousa Maia.

Lurdinha, como é conhecida por seus colegas, informa que o projeto iniciado em Alhandra se estendeu a duas novas localidades. “Nesse primeiro ano de trabalho, completado em 4 de julho, captamos 802 participantes para a pesquisa, agora o trabalho prossegue nos também paraibanos municípios de Caporã e Conde. 

Dos 808 participantes que já estão no estudo, 572 são adultos com idade entre 18 e 50 anos, e 236 crianças. A participação infantil se justifica: há indícios, que poderão ser comprovados no estudo, de que a aplicação da vacina em crianças garante a imunidade por um prazo inferior àquele verificado na população adulta.

Nos novos locais, a meta é conseguir mais 3.959 participantes, totalizando 4.761. Após serem vacinadas, essas pessoas terão seu sangue colhido em 30-45 dias, 1, 4, 7 e 10 anos. Os dados consolidados dos participantes de Alhandra, por exemplo, devem começar a ser4 verificados em meados de 2026.

Escolha e capacitação

Por seu tempo de duração – uma década – o estudo passou por uma definição criteriosa de seu desenho. Até o fluxo migratório dos “locais candidatos”, por exemplo, foi estudado. “Não podemos perder esses participantes, em um trabalho que durará 10 anos. Portanto foi preciso selecionar locais com pequena migração, estudando as bases de dados dos municípios e do próprio IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas]”, explica Lurdinha.

Questionada se o surto de febre amarela foi critério de mobilização dos participantes, a coordenadora da Asclin informou que não. Os municípios estavam fora da área de indicação para a aplicação da vacina, segundo os critérios do Programa Nacional de Imunizações (PNI). “Não queremos que os participantes tenham contato com o vírus selvagem, para não influenciar nos dados que demonstrarão por quanto tempo a vacina protege”, afirma. “Em um estudo que prosseguirá até 2027, seria até temerário se apoiar em uma motivação por algo pontual, como o surto”, complementa. 

Em 7 de agosto, foi dada a largada na captação de voluntários nos dois municípios. Uma semana antes, a Asclin fez alinhamento interno e uma capacitação dividida em dois momentos: a primeira foi uma construção coletiva (dissertava) sobre o processo de trabalho que seria feito, e que envolveu (envolvendo) desde o agente comunitário de saúde até o médico. A segunda focava a capacitação técnica desses profissionais no protocolo da pesquisa, para garantir a qualidade dos dados.

O encontro, que reuniu 69 profissionais de saúde locais envolvidos com o estudo, contou com participação de cinco colaboradores da Asclin.

Participaram ainda trabalhadores que haviam participado do projeto piloto em Alhandra. Equipes de médicos, enfermeiros, vacinadores e Agentes Comunitários de Saúde que se capacitaram, compartilharam experiências e entenderam a importância do trabalho que passam a fazer. Afinal de contas, podem mudar até mesmo as recomendações da OMS.

Paulo Schueler (Bio-Manguinhos/Fiocruz)


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