Um dado ainda em aberto acerca
da vacina febre amarela 17DD é a duração de sua proteção ao indivíduo
imunizado. A resolução dessa dúvida ganha ainda mais importância em populações
que vivem em área endêmica, caso de quase todo o Brasil a partir do surto
vivido em 2017.
Mais que debate teórico, a
resposta para esta dúvida se materializa em definição de esquema vacinal (a
dose única preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) ou as duas
doses, com reforço após 10 anos, como até há pouco praticada no Brasil?) e,
no caso de Instituto de Tecnológica em Imunobiológicos
(Bio-Manguinhos/Fiocruz), no planejamento produtivo do Instituto.
A resposta virá na década de
2020, e os primeiros passos para dá-la começaram em junho de 2016, quando
Bio-Manguinhos iniciou estudo de duração da imunidade da vacina de febre
amarela no município de Alhandra, no interior da Paraíba. “Temos a expectativa
que os resultados desse estudo sirvam como subsídio para a OMS, acerca da
revacinação ou não contra febre amarela”, afirma a coordenadora da Assessoria
Clínica (Asclin) de Bio-Manguinhos, Maria de Lourdes de Sousa Maia.
Lurdinha, como é conhecida por
seus colegas, informa que o projeto iniciado em Alhandra se estendeu a duas
novas localidades. “Nesse primeiro ano de trabalho, completado em 4 de julho,
captamos 802 participantes para a pesquisa, agora o trabalho prossegue nos
também paraibanos municípios de Caporã e Conde.
Dos 808 participantes que já
estão no estudo, 572 são adultos com idade entre 18 e 50 anos, e 236 crianças.
A participação infantil se justifica: há indícios, que poderão ser comprovados
no estudo, de que a aplicação da vacina em crianças garante a imunidade por um
prazo inferior àquele verificado na população adulta.
Nos novos locais, a meta é
conseguir mais 3.959 participantes, totalizando 4.761. Após serem vacinadas,
essas pessoas terão seu sangue colhido em 30-45 dias, 1, 4, 7 e 10 anos. Os
dados consolidados dos participantes de Alhandra, por exemplo, devem começar a
ser4 verificados em meados de 2026.
Escolha e capacitação
Por seu tempo de duração – uma
década – o estudo passou por uma definição criteriosa de seu desenho. Até
o fluxo migratório dos “locais candidatos”, por exemplo, foi
estudado. “Não podemos perder esses participantes, em um trabalho que
durará 10 anos. Portanto foi preciso selecionar locais com pequena migração, estudando
as bases de dados dos municípios e do próprio IBGE [Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatísticas]”, explica Lurdinha.
Questionada se o surto de
febre amarela foi critério de mobilização dos participantes, a coordenadora da
Asclin informou que não. Os municípios estavam fora da área de indicação para a
aplicação da vacina, segundo os critérios do Programa Nacional de Imunizações
(PNI). “Não queremos que os participantes tenham contato com o vírus
selvagem, para não influenciar nos dados que demonstrarão por quanto tempo a
vacina protege”, afirma. “Em um estudo que prosseguirá até 2027, seria até
temerário se apoiar em uma motivação por algo pontual, como o surto”,
complementa.
Em 7 de agosto, foi dada a
largada na captação de voluntários nos dois municípios. Uma semana antes, a
Asclin fez alinhamento interno e uma capacitação dividida em dois momentos: a
primeira foi uma construção coletiva (dissertava) sobre o processo de trabalho
que seria feito, e que envolveu (envolvendo) desde o agente comunitário de
saúde até o médico. A segunda focava a capacitação técnica desses profissionais
no protocolo da pesquisa, para garantir a qualidade dos dados.
O encontro, que reuniu 69
profissionais de saúde locais envolvidos com o estudo, contou com participação
de cinco colaboradores da Asclin.
Participaram ainda
trabalhadores que haviam participado do projeto piloto em Alhandra. Equipes de
médicos, enfermeiros, vacinadores e Agentes Comunitários de Saúde que se
capacitaram, compartilharam experiências e entenderam a importância do trabalho
que passam a fazer. Afinal de contas, podem mudar até mesmo as recomendações da
OMS.
Paulo Schueler
(Bio-Manguinhos/Fiocruz)
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