Pesquisadores e estudantes de
diversos países debatem questões como a transição mais rápida da descoberta de moléculas
para testes clínicos e fabricação de fármacos (foto: Daniel Antônio /
Agência FAPESP)
Os processos que envolvem o
desenvolvimento de um fármaco – desde a descoberta de uma nova droga até o
medicamento ser comercializado – estão cheios de desafios. Entre eles estão
questões que permeiam a passagem da ciência básica, como o entendimento da
doença e os mecanismos de cessar seu avanço, para a aplicação prática de
estabelecer um novo produto comercializável.
São questões como essas que 80
estudantes de pós-graduação de diversas partes do mundo estão debatendo até 23
de março na São Paulo School of Advanced Science on Medicines: from Target
to Market, realizada na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo (FMRP-USP).
A Escola aborda, em 50 horas
de curso, toda a cadeia de valores de novos fármacos. "Tratamos da
história de uma molécula, de sua descoberta, passando pela identificação do
alvo até o produto chegar às prateleiras das farmácias”, disse o professor
Claudio M. Costa-Neto, do Departamento de Bioquímica e Imunologia da FMRP e
organizador do evento.
Além de tratar de questões
referentes à descoberta de uma molécula, sua caracterização e os primeiros
testes bioquímicos e farmacológicos, também são discutidos na Escola ensaios
pré-clínicos e clínicos. Outros temas são proteção intelectual, criação de
startups e regulação.
Apoiada pela FAPESP por meio
da modalidade Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA), o evento também se
constitui na décima edição da Summer School of Medicines, realizada
anteriormente em Toulouse (França), Barcelona (Espanha) e Montreal (Canadá).
“As capacidades científicas e
econômicas do Brasil enriquecem a Summer School of Medicines, incentivando a
integração entre pesquisadores de várias partes do mundo. A diferença deste ano
para as outras edições é que o programa está mais amplo, com mais dias e maior
número de palestrantes, o que a torna realmente uma escola internacional”,
disse Rémy Poupot, professor na Paul Sabatier University em Toulouse (França) e
integrante do comitê cientifico e organizador da SSM10.
De acordo com Costa-Neto, o
foco principal da Escola é conseguir unir mercado e pesquisa básica em um mesmo
debate. Ele explica que a pesquisa brasileira tem tradição e alta qualidade nas
áreas de descoberta de novos fármacos e de pesquisa clínica, porém há pouca
atividade na passagem dos resultados de pesquisa básica para a fase pré-clínica
e clínica de testes.
“A Escola favorece o networking entre
pesquisadores altamente qualificados e, ao mesmo tempo, cria know-how local,
que poderá expandir uma área ainda insipiente no Brasil”, disse.
O evento também conta com
apresentações com assuntos relacionados à inovação. “Estamos tratando de
ciência translacional, da passagem da ciência básica para a aplicação prática.
Temos seis palestrantes que são ou foram pesquisadores e que fundaram startups.
É uma ótima maneira de ilustrar para esses jovens pesquisadores as diferentes
oportunidades que a pesquisa pode trazer”, disse.
Um dos palestrantes é Jordi
Quintana, pesquisador da Universitat Pompeu Fabra em Barcelona responsável pela
plataforma de descoberta de novas drogas do Parc Científic de Barcelona, na
Espanha.
“Atualmente, a indústria
trabalha cada vez mais com a academia e a razão disso é a complexidade que
existe em descobrir e desenvolver novas drogas. É importante unir pessoas com
mais conhecimento nessa primeira parte do processo [ciência básica] com outras
que dominam a segunda parte [aplicação], onde a indústria tem mais tradição”,
disse Quintana.
Na São Paulo School of
Advanced Science on Medicine, o pesquisador abordou a descoberta de novas
drogas na indústria e na academia e a necessidade de combinar pesquisas dos
dois setores para tornar o desenvolvimento de novas drogas mais eficientes.
Quintana também participou de um painel contando sua experiência em transitar
por esses dois mundos.
Para Vanesa Nozal García,
doutoranda e uma das alunas da Escola, participar do evento é uma ótima
oportunidade de aprender com os palestrantes e também construir um networking
para colaborações futuras. Nozal desenvolve pesquisas de medicamentos para bloquear
o avanço de doenças degenerativas como Alzheimer e esclerose lateral
amiotrófica (ELA) no Centro de Investigações Biológicas (CSIC) de Madri, na
Espanha.
"Considero ainda não
estar no ponto de criar a minha própria startup, pois sou uma cientista que gosta
de pesquisa básica. Porém, acredito que a colaboração com especialistas nessa
área seria muito bem-vinda para o meu projeto de pesquisa", disse.
Os participantes da escola
destacam ser este um ótimo momento para trabalhar no desenvolvimento de novos medicamentos.
“Há capital de risco para boas ideias, há mercado para isso e as pessoas hoje
entendem melhor o risco de começar uma nova empresa”, disse Denis DeBlois,
professor da Universidade de Montreal (Canadá) e um dos integrantes do comitê
da Summer School.
Mais informações: http://summerschoolonmedicines10.fmrp.usp.br/.
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