Vacina contra a gripe e
imunidade
Uma nova pesquisa sobre por
que a vacina contra a gripe está-se mostrando apenas modestamente eficaz nos
últimos anos mostrou que o histórico imunológico com a gripe influencia a
resposta de uma pessoa à vacina.
Algumas vezes, as cepas de
gripe escolhidas para a vacina não representam adequadamente as cepas que
acabam circulando entre o público, o que acontece especialmente nos anos em que
a cepa H3N2 predomina.
Mas a culpa pela baixa
eficácia da vacina contra a gripe é mais frequentemente atribuída a problemas
na forma como a vacina foi projetada e é produzida. A maioria das vacinas
contra a gripe administradas em todo o mundo é cultivada em ovos, o que pode
fazer com que o vírus sofra mutações e se diferencie das cepas circulantes.
Mas, em um estudo que acaba de
ser publicado na revista Clinical Infectious Diseases, pesquisadores das
universidade de Chicago e Harvard (EUA) demonstraram que são as respostas
imunes muito fracas - e não as adaptações dos vírus aos ovos - que podem
explicar a baixa eficácia da vacina deste ano.
"As adaptações aos ovos
têm efeitos variáveis," explicou a Dra Sarah Cobey. "Às vezes elas
têm importância e às vezes não, mas o que parece fazer a maior diferença é o
histórico imunológico [do paciente]".
Pecado original antigênico
O que está em jogo parece ser
um fenômeno que os cientistas chamam de "pecado original antigênico".
As vacinas contra a gripe são
projetadas para fazer o sistema imunológico produzir anticorpos que reconheçam
as cepas específicas dos vírus com os quais a pessoa poderá entrar em contato
em um determinado ano. Esses anticorpos visam pontos específicos do vírus, e
grudam neles para desativar o vírus. Uma vez que o sistema imunológico já
possua anticorpos para atingir um determinado ponto no vírus, ele
preferencialmente reativa as mesmas células imunes na próxima vez que encontrar
o mesmo patógeno.
Isso é eficiente para o
sistema imunológico, mas o problema é que o vírus sempre muda de ano para ano
apenas ligeiramente. O ponto que os anticorpos reconhecem ainda pode estar lá,
mas ele pode não ser mais crucial para neutralizar o vírus. Os anticorpos
produzidos devido ao nosso primeiro encontro com a gripe - seja de vacinas ou
de infecções com o próprio vírus - tendem a prevalecer sobre os anticorpos gerados
por inoculações posteriores. Assim, mesmo quando a vacina tem uma boa
equivalência para um determinado ano, se alguém tiver um histórico com a gripe,
a resposta imune a uma nova vacina pode ser menos protetora.
Essa história pode ser
complicada por um fator adicional, que ainda está por ser totalmente explicado:
A vacina pode estar induzindo uma resposta imune fraca em muitos que a recebem.
"Nós vimos tanto pessoas
vacinadas quanto não vacinadas que foram infectadas com vírus da gripe
similares, e a vacina não provocou uma forte resposta imune na maioria das
pessoas em nosso estudo," acrescentou Yonatan Grad, coautor do trabalho.
Alternativa? Vacinas
diferentes
Isso não quer dizer que as
adaptações aos ovos nos quais as vacinas são produzidas são sejam importantes
sempre. Em um estudo separado, uma equipe liderada por pesquisadores da
Universidade da Pensilvânia descobriu que as adaptações aos ovos causaram
desajustes na vacina mais comum aplicada na estação 2016-17, outra estação
dominada pelo H3N2.
As adaptações aos ovos poderão
ser um fator importante também durante a temporada de gripe deste ano, que está
batendo recordes no hemisfério norte. O H3N2 é novamente a cepa predominante,
deixando as pessoas doentes com mais gravidade, e a vacina mais comum é a mesma
do ano passado, com suas adaptações aos ovos potencialmente problemáticas.
Assim, de acordo com a equipe,
é preciso buscar alternativas se as autoridades de saúde pretendem gastar
dinheiro público em vacinas realmente eficazes.
Uma dessas alternativas são
novas vacinas produzidas sem ovos, quer em células de insetos ou em células de
rim de cães, que são muito menos propensas a desenvolver mutações que podem
torná-las menos protetoras contra a gripe - ainda que a equipe ressalte que as
mutações induzidas pelos ovos sejam apenas uma pequena parte do problema.
Além disso, essas vacinas são
mais caras, mas os pesquisadores esperam que novas pesquisas e melhoramentos
ajudem a mudar essa situação.
Com informações do Centro
Médico da Universidade de Chicago para o Panorama Farmacêutico.
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