A efetividade das vacinas
contendo o componente sarampo é influenciada pela idade à vacinação, de tal
forma que crianças vacinadas em idade menor do que 12 meses apresenta
efetividade de 84% e aos 12 meses 92,5% (1). No entanto doses adicionais da
vacina induzem soro conversão em 95% dos previamente soronegativos (2). Em
situações onde a circulação do vírus sarampo está controlada é desejável que a
primeira dose da vacina seja administrada após os 12 meses de idade, no entanto
em situações de risco essa dose deve ser antecipada. A Organização Mundial da
Saúde recomenda a administração de uma dose adicional aos 6 meses de idade em
situações de surto de sarampo (3).
O atual cenário epidemiológico
brasileiro demonstra a ocorrência de uma grande quantidade de casos no estado
de São Paulo, mais especificamente na grande São Paulo. Considerando o alto
grau de conectividade dessa região com as demais regiões do pais a ocorrência
desse surto implica em elevada força de infecção em todo o território nacional,
em especial nos grandes centros urbanos do país. Este fato é exemplificado
claramente pela dispersão do vírus no país, tendo sido identificados até o
momento casos confirmados em 19 Unidades da Federação (4).
As estimativas realizadas pelo
Ministério da Saúde em relação a proporção da população vacinada no Distrito
Federal, com base na série histórica dos dados administrativos desde 1995,
sugerem a existência de 516.805 pessoas menores de 50 anos de idade não
vacinadas. Esta estimativa indica uma imunidade populacional de 80,5%, sendo
esta taxa significativamente inferior ao limiar necessário para evitar a
circulação do vírus na região (>95%). Apesar de termos até o momento apenas
3 casos confirmados de sarampo no Distrito Federal, temos ainda 51 casos em
investigação, sendo 47 desses temporalmente associados aos 3 primeiros casos.
Nos anos de 2014, 2015, 2018 e
2019 ocorreram no país 2.233 hospitalizações de pessoas por sarampo. O maior
número de internações ocorreu nos menores de 1 ano, com 783 (35,1%) casos e
entre crianças de 1 a 4 anos, com 429 (19,2%) casos (5). Tivemos ainda no ano
de 2019 10 óbitos pelo sarampo, sendo que 5 destes foram em crianças menores de
12 meses de idade, 1 óbito ocorreu no estado do Pernambuco e os demais no
estado de São Paulo (4). Considerando a velocidade da transmissão do vírus
sarampo e o risco aumentado de adoecimento e óbito em crianças menores de 12
meses de idade, entende-se que estratégias direcionadas a essa faixa etária
devam ser realizadas de maneira preventiva com base no risco epidemiológico
apresentado. Considerando ainda o tamanho das populações envolvidas e a
necessidade de racionalização dos recursos disponíveis, a estratégia de vacinar
as crianças de 6 meses a 12 meses de idade é a forma mais efetiva de fornecer
proteção a essa população em curto espaço de tempo.
Um estudo recente identificou
que crianças vacinadas antes dos 12 meses de idade apresentaram menor produção
de anticorpos neutralizantes após uma dose subsequente aos 14 meses de idade,
quando comparadas com crianças que receberam a primeira dose aos 14 meses (6).
Este dado levanta a preocupação referente a possibilidade de que a atual
estratégia possa criar um pool de susceptíveis no futuro. No entanto, temos que
considerar alguns outros fatores. Nossa atual estratégia de vacinação indica
vacinação com duas doses após a dose zero, o que poderia reduzir esse impacto
negativo na resposta imune. A fração da população que será vacinada com essa
estratégia é pequena quando comparada a população total (cerca de 0,75%),
levando a um impacto mínimo na imunidade de rebanho.
O Ministério da Saúde já tem
planejado campanhas de vacinação para redução do pool de susceptíveis na
população de 6 meses a menores de 5 anos e de 20 a 29 anos de idade nos
próximos 2 meses, objetivando alcançar o limiar de imunidade de rebanho
necessário para interrupção da circulação do vírus no país (4).
O Ministério da Saúde reforça
que a estratégia de vacinação de crianças de 6 meses a 12 meses de idade é uma *estratégia
temporária* considerando o atual risco epidemiológico do país, devendo essa
estratégia ser revista assim que ocorrer a mudança do cenário epidemiológico.
Por Wanderson Kleber
Oliveira
Links para os boletins: http://saude.gov.br/saude-de-a-z/sarampo
Referências
1 Uzicanin, A.; Zimmerman, L.
Field Effectiveness of Live Attenuated Measles-Containing Vaccines: A Review of
Published Literature. The Journal of Infectious Diseases, v. 204, n. suppl_1,
p. S133–S149, 2011.
2 Plotkin, S.A.; Orenstein, W.A.; et al. Plotkin’s Vaccines. Elsevier, 2017.
3 World Health Organitzation (WHO) Measles vaccines:WHO position paper-April 2017. Weekly epidemiological record, n. 17, p. 205–228, 2017.
4 Secretaria de Vigilância em Saúde; Ministério da Saúde Vigilância Epidemiológica do Sarampo no Brasil 2019: Semanas Epidemiológicas 27 a 38 de 2019. Boletim Epidemiológico, v. 50, n. 27, 2019.
5 Secretaria de vigilancia em Saúde; Ministério da Saúde Vigilância Epidemiológica do Sarampo no Brasil, 2019. Boletim Epidemiológico, v. 50, n. 23, 2019.
6 Brinkman, I.D.; Wit, J. de; et al. Early Measles Vaccination During an Outbreak in the Netherlands: Short-Term and Long-Term Decreases in Antibody Responses Among Children Vaccinated Before 12 Months of Age. The Journal of Infectious Diseases, v. 220, n. 4, p. 594–602, 2019.
2 Plotkin, S.A.; Orenstein, W.A.; et al. Plotkin’s Vaccines. Elsevier, 2017.
3 World Health Organitzation (WHO) Measles vaccines:WHO position paper-April 2017. Weekly epidemiological record, n. 17, p. 205–228, 2017.
4 Secretaria de Vigilância em Saúde; Ministério da Saúde Vigilância Epidemiológica do Sarampo no Brasil 2019: Semanas Epidemiológicas 27 a 38 de 2019. Boletim Epidemiológico, v. 50, n. 27, 2019.
5 Secretaria de vigilancia em Saúde; Ministério da Saúde Vigilância Epidemiológica do Sarampo no Brasil, 2019. Boletim Epidemiológico, v. 50, n. 23, 2019.
6 Brinkman, I.D.; Wit, J. de; et al. Early Measles Vaccination During an Outbreak in the Netherlands: Short-Term and Long-Term Decreases in Antibody Responses Among Children Vaccinated Before 12 Months of Age. The Journal of Infectious Diseases, v. 220, n. 4, p. 594–602, 2019.
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