Da Agência Senado |
Debatedores durante audiência na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado
Geraldo Magela/Agência Senado
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Proposições legislativas
A guerra entre a Rússia e a
Ucrânia explicitou a dependência brasileira dos fertilizantes importados. O
problema foi apontado pelo Senado que, antes mesmo do conflito, já havia
realizado audiências públicas para debater a situação, alertando o governo federal
sobre a questão. Nesta quinta-feira (28), a Comissão de Agricultura e Reforma
Agrária (CRA) do Senado promoveu um novo debate relacionado ao assunto, mas
desta vez com foco no uso de remineralizadores como alternativa de insumo.
Presidente da CRA, o senador
Acir Gurgacz (PDT-RO) afirmou que, além da recomendação da exploração de
jazidas de minerais, reforça-se a necessidade de produção de bioinsumos no
país.
— Precisamos fazer uma
política de Estado para que possamos produzir os nossos fertilizantes aqui no
Brasil. Por isso, é importante aprovarmos o PL 2.159/2021, projeto de lei de licenciamento
ambiental que está aqui no Senado — disse Gurgacz.
O senador Esperidião Amin
(PP-SC) alertou para o fato de o Brasil ser o país mais dependente de
fertilizantes do mundo, ao importar cerca de 90% dos insumos agrícolas.
— Ou seja, a nossa grande
coluna do agronegócio tem os pés de barro, muito fragilizado. Precisamos fazer
um balanço, com, no mínimo, advertências, [adotando] uma atitude mais
pragmática junto ao governo.
Remineralização
De acordo com a Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a remineralização do solo
ocorre a partir da incorporação de pó de rocha ao solo, o que permite
diversificar as fontes minerais de macro e micronutrientes a serem absorvidos
pela planta. Podem ser aproveitados elementos como cálcio, magnésio, potássio,
cobre, ferro, manganês, silício e zinco, entre outros.
Chefe-geral da Embrapa
Cerrados, Sebastião Pedro da Silva afirmou que ao longo de 13 anos de pesquisa
foi possível decifrar as formas como as plantas conseguem absorver os
nutrientes provenientes dos mineralizadores.
Os pesquisadores detectaram
ainda a necessidade de uso de microrganismos para melhor absorção desses
minérios. Fungos ou bactérias se alimentam do agromineral e liberam no solo
nutrientes que serão aproveitados pela planta, formando ali uma cadeia
alimentar específica (biointemperismo).
— Essa é uma agricultura mais
baseada em processos do que em insumos. No Brasil, há ampla disponibilidade de
rochas boas para mineralizadores. É uma indústria que já está em andamento.
Grande parte das pedreiras já tem licenciamento ambiental. É preciso estudar a
rocha, ver se serve e reduzir o tamanho das partículas para melhor absorção.
Segundo Silva, o Brasil hoje
lidera as pesquisas em remineralizadores.
— A planta não distingue entre
NPK [fertilizante químico] e remineralizadores. [Com a remineralização] vai se
produzir a mesma coisa ou até mais, gastando-se menos. É uma prática altamente
sustentável, principalmente neste momento em que o Brasil precisa comunicar ao
mundo atitudes sustentáveis.
De acordo com o pesquisador,
há atualmente no país cerca de 600 pedreiras ativas produtoras de britas, sendo
que 500 teriam potencial agrícola. A necessidade nacional seria de 75 milhões
de toneladas anuais, quantidade muito superior à disponível atualmente.
— Temos 5 milhões de hectares
usando a remineralização no Brasil. A motivação inicial para o produtor é a
redução de custo, a sustentabilidade econômica. As pessoas que adotam
remineralizadores produzem mais que a média.
Pesquisador na área de
transferência de tecnologia, Antônio Alexandre Bizão lembrou que a
"rochagem" era a prática que se utilizava até 1860. Ele informou
que vários agricultores no país têm experiências bem-sucedidas com o pó de
rocha — segundo Bizão, esse grupo há alguns anos não se preocupa mais com a
dependência internacional de fertilizantes.
— Há poucos dias éramos um
exército de um homem só por querer transformar pedra em alimento. Mas a
natureza sempre fez isso: transformou pedra em alimento.
Licenciamento
Presidente do Grupo Associado
de Agricultura Sustentável (Gaas), Rogério Vian disse que a tecnologia dos remineralizadores
não é nova, mas está sendo colocada em prática no país. Para ele,
dificuldades com o licenciamento ambiental é o que mais dificulta o processo
das mineradoras para o fornecimento de pó de rocha.
— Hoje são 30 empresas
[fornecedoras de agrominerais], mas precisaríamos de pelo menos 10 vezes mais.
Além de maior crédito.
O destravamento das licenças
ambientais também foi defendido pelo diretor técnico adjunto da Confederação
Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Reginaldo Lopes Minaré.
— O Brasil inteiro tem
possiblidade de produzir, estando a até 300 quilômetros de distância do
produtor. Isso é uma boa notícia. Mas isso vai exigir melhorar o licenciamento
ambiental, separar os agrominerais das demais minerações. A dispersão do remineralizador
não tem um impacto negativo, mas produtivo para o meio ambiente — declarou
Minaré.
Segundo o diretor da CNA, de
março de 2020 ao início de 2022 houve aumento de até 260% nos preços dos
fertilizantes importados. Apesar da pequena redução dos preços no final do ano
passado (cerca de 20%), o percentual foi novamente aumentado após o início do
conflito bélico.
— Essa safra vai ser tão cara
ou mais do que no ano passado. Isso impacta a margem de renda do agricultor e o
preço dos alimentos.
Presidente da Associação
Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Antônio Galvan também
criticou as limitações legais para o aumento da área da produção de alimentos
no país e alertou para cuidados na venda “de gato por lebre” por parte de
algumas jazidas.
Agência Senado (Reprodução
autorizada mediante citação da Agência Senado)
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