A infecção pelo HPV é a doença sexualmente
transmissível (DST) mais comum em nosso meio. Estima-se que 8 entre 10 pessoas
têm contato com o HPV. Como é muito comum, a maioria se contamina logo ao
início da vida sexual. Não depende de promiscuidade: basta ter tido um parceiro
sexual que tenha se contaminado previamente.
Quem recebe esse diagnóstico experimenta decepção,
medo e sofrimento. O HPV é capaz de se manter na profundidade da pele e mucosas
numa forma latente, sem produzir doença na maioria das pessoas. Numa minoria,
ele pode causar lesões não perceptíveis, mas que podem transmitir o vírus.
Assim, não se justifica condenar seu parceiro simplesmente a partir de algum
diagnóstico da presença do HPV. Essa contaminação pode ter ocorrido muito antes
de se conhecerem e, dado sua frequência, ambos podem ter sido contaminados.
Há muito preconceito contra pessoas que apresentam
DST. Imaginamos que somente pessoas promíscuas tenham essas doenças, mas esse
comportamento, apesar de aumentar o risco de contaminações, não é condição para
isso. Quando recebemos a informação de sermos portadores do HPV, nos vemos alvo
desse preconceito. Todas as pessoas que têm atividade sexual têm risco de ter
uma DST ao longo da vida, independente de idade, gênero ou preferências
sexuais. Portanto, o melhor é se prevenir usando a camisinha em todas as
relações sexuais.
E o câncer? - O câncer do colo do útero depende da
presença do HPV, mas ter HPV não significa que a pessoa terá câncer. Da minoria
de pessoas que terá alguma manifestação do vírus, muito poucas terão uma lesão
que, se não detectada e tratada, poderá progredir até o câncer. Essas
representam cerca de 1% de todas as mulheres. A lesão precursora é facilmente
identificada pelo “exame preventivo” (ou de Papanicolaou) e pode ser retirada,
na maioria das vezes, sem consequências para a mulher.
Outra forma de prevenção do câncer é a vacinação
contra o HPV. Incorporada ao Programa Nacional de Imunizações em 2014, é
oferecida a meninas entre 11 e 13 anos em escolas e nas unidades básicas de
saúde. Essa faixa de idade foi escolhida na tentativa de protegê-las antes de
terem iniciado atividade sexual e tido contato com o HPV. Várias evidências
mostram grande redução no risco de lesões em meninas e mulheres vacinadas que
não tiveram contato prévio com o HPV e ausência de benefício significativo da
vacinação nas demais. Todavia, como o produto contém apenas os dois tipos de
HPV mais frequentemente relacionados ao câncer, mesmo as meninas vacinadas
deverão realizar os exames preventivos a partir dos 25 anos.
Mulher: não perca a oportunidade de se prevenir
contra o câncer do colo do útero. Se tiver filhas entre 11 e 13 anos, não deixe
de vaciná-las. Se já tiver 25 anos, faça o exame preventivo regularmente. Ele
pode ser feito em qualquer unidade básica de saúde, a cada três anos, após dois
exames normais com intervalo de um ano. O maior fator de risco para o câncer do
colo não é o HPV, mas a falta do preventivo.
Fonte: Fábio Russomano*/IFF/Fiocruz
*Fábio
Russomano é médico ginecologista do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da
Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz).
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