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quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Marco regulatório para comunidades terapêuticas não enfrenta questões políticas e econômicas das drogas

O Governo deve lançar ainda neste mês de agosto um novo marco regulatório para as entidades que realizam o acolhimento de pessoas, em caráter voluntário, com problemas associados ao uso nocivo ou dependência de substâncias psicoativas. As comunidades terapêuticas, que eram regulamentadas apenas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), passam a ter novas medidas com vetos à contenção física ou por medicamentos, trancas ou grades.

Segundo a assistente social e diretora do Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo (CRESS-SP), Adriana Brito, o objetivo do marco seria conter abusos e impedir um processo de ’manicomização’. Ainda que busque propiciar melhores condições para essas pessoas, a medida é insuficiente e não enfrenta o problema de maneira eficiente. “O marco é relativamente progressista na medida em que busca coibir abusos sofridos por essa população, mas não entra nas questões político-sociais centrais das drogas. Enquanto evitarmos uma discussão ampla sobre legalização e redução de danos, o problema não terá solução”, afirma.

Fora da sociedade

A proposta regulatória é alvo de discussões entre entidades como a Confederação Nacional de Comunidades Terapêuticas (CONFENACT) e os Conselhos Federais e Regionais de Serviço Social (Conjunto CFESS/CRESS) e de Psicologia (CFP). Um dos pontos da proposta que geram grande conflito é o tempo de internação. Enquanto o documento estipula um período máximo de um ano, o CFP defende apenas três meses. Para a diretora do CRESS-SP, a própria internação precisa ser analisada sob uma ótica social.

“Retirar esse indivíduo da sociedade demonstra uma perspectiva moralista, que trata o usuário de drogas como uma pessoa doente ou uma ‘não pessoa’, que deve ser retirada do convívio social. É uma realidade de exclusão muito perigosa”, ressalta”.

Agravante social

A assistente social explica que os problemas relacionados ao enfrentamento moralista do consumo de drogas vão além da violência contra os usuários, impactando toda a sociedade e aprofundando os problemas sociais. Como reflexo, a parcela mais vulnerável da população continua sendo vitimada, seja com violência policial, agressão à liberdade de consciência (imposição de religiosidade nas abordagens) exploração sexual, desproteção do Estado e aumento da população carcerária.

“Falta uma discussão efetiva de como enfrentar o problema do tráfico de forma político-econômica, com descriminalização e legalização das drogas. A política retrógrada de guerra a essas substâncias é uma política de guerra aos direitos humanos, responsável por inúmeras mortes todos os dias. Como agravante, podemos estar ainda mais distantes desse enfrentamento efetivo por conta do Congresso conservador escolhido pela população nas últimas eleições, notadamente contrário a esse tipo de avanço”, finaliza

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