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domingo, 3 de setembro de 2017

"Imunoterapia? Esta é uma linha de pesquisa perigosa", diz cientista

Riscos da imunoterapia
A imunoterapia já contabiliza alguns casos de sucesso, mas os fracassos e resultados negativos dificilmente chegam aos meios de comunicação

O fracasso de um novo fármaco contra a febre chikungunya destaca a necessidade de extrema cautela ao se manipular o sistema imunológico humano, nas chamadasimunoterapias.

Este alerta foi emitido pela equipe da Dra. Lisa Ng, da Rede de Imunologia de Cingapura, em artigos publicados nas revistas científicas Journal of Virology Nature Scientific Reports.

A equipe constatou que um tratamento imunoterápico que eles próprios desenvolveram para a febre chikungunya, uma doença que causa inflamações dolorosas das articulações, mostrou-se eficaz quando administrado pouco antes de uma infecção, mas tornou as coisas muito piores para os pacientes - neste caso, camundongos - quando estes já estavam infectados pelo vírus.

Fracasso da imunoterapia
O fármaco tem como alvo um complexo específico de anticorpos, chamado IL-2/JES6-1, e deu resultados promissores quando administrado antes da infecção.

Contudo, este não é um cenário prático, já que quase nunca é viável prever uma infecção e administrar uma profilaxia. Por isso a Dra Lisa Ng e a equipe passaram aos testes com camundongos já infectados com o vírus chikungunya.

"Nós esperávamos ver uma melhoria semelhante, mas, infelizmente, aconteceu o contrário. [O fármaco] não protegeu os camundongos - ele os fez piorar," conta a pesquisadora.

Nos animais saudáveis, as células T CD4+ geradas pelo tratamento protegeram contra a inflamação induzida pelo vírus. Quando o hospedeiro já estava infectado, no entanto, o corpo já havia gerado altos níveis de células imunes ativadas, e adicionar mais delas pela ação do fármaco iniciou uma cascata que levou à hiper-inflamação.

Pesquisa perigosa
A Dra. Lisa cita outro exemplo de imunoterapia que deu errado - o desastre ocorrido no ensaio clínico de 2006 chamado TeGenero/PAREXEL, que devastou os órgãos de seus seis voluntários saudáveis, causou a perda de membros e deixou alguns participantes com danos permanentes em seus sistemas imunológicos. "Foi terrível," lembra ela. "Quando injetaram [o fármaco] no último participante, o primeiro já havia entrado em colapso."

Por isso, ela não teve dúvidas em emitir um alerta claro e direto sobre as consequências dos estudos como os realizados pela sua equipe em animais: "[Qual é] o impacto desta pesquisa - a mensagem para se levar para casa? É uma palavra de cautela. Nós mostramos aqui, até ao nível do mecanismo de ação, por que essa linha de pesquisa é perigosa."

Imagem: Nicolle Rager Fuller/NSF, Redação do Diário da Saúde



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