A
imunoterapia já contabiliza alguns casos de sucesso, mas os fracassos e
resultados negativos dificilmente chegam aos meios de comunicação
O
fracasso de um novo fármaco contra a febre chikungunya destaca
a necessidade de extrema cautela ao se manipular o sistema imunológico humano,
nas chamadasimunoterapias.
Este
alerta foi emitido pela equipe da Dra. Lisa Ng, da Rede de Imunologia de
Cingapura, em artigos publicados nas revistas científicas Journal of
Virology e Nature Scientific Reports.
A
equipe constatou que um tratamento imunoterápico que eles próprios
desenvolveram para a febre chikungunya, uma doença que causa inflamações
dolorosas das articulações, mostrou-se eficaz quando administrado pouco antes
de uma infecção, mas tornou as coisas muito piores para os pacientes - neste
caso, camundongos - quando estes já estavam infectados pelo vírus.
Fracasso
da imunoterapia
O
fármaco tem como alvo um complexo específico de anticorpos, chamado
IL-2/JES6-1, e deu resultados promissores quando administrado antes da
infecção.
Contudo,
este não é um cenário prático, já que quase nunca é viável prever uma infecção
e administrar uma profilaxia. Por isso a Dra Lisa Ng e a equipe passaram aos
testes com camundongos já infectados com o vírus chikungunya.
"Nós
esperávamos ver uma melhoria semelhante, mas, infelizmente, aconteceu o
contrário. [O fármaco] não protegeu os camundongos - ele os fez piorar,"
conta a pesquisadora.
Nos
animais saudáveis, as células T CD4+ geradas pelo tratamento protegeram contra
a inflamação induzida pelo vírus. Quando o hospedeiro já estava infectado, no
entanto, o corpo já havia gerado altos níveis de células imunes ativadas, e
adicionar mais delas pela ação do fármaco iniciou uma cascata que levou à
hiper-inflamação.
Pesquisa
perigosa
A
Dra. Lisa cita outro exemplo de imunoterapia que deu errado - o desastre
ocorrido no ensaio clínico de 2006 chamado TeGenero/PAREXEL, que devastou os
órgãos de seus seis voluntários saudáveis, causou a perda de membros e deixou
alguns participantes com danos permanentes em seus sistemas imunológicos.
"Foi terrível," lembra ela. "Quando injetaram [o fármaco] no
último participante, o primeiro já havia entrado em colapso."
Por
isso, ela não teve dúvidas em emitir um alerta claro e direto sobre as
consequências dos estudos como os realizados pela sua equipe em animais:
"[Qual é] o impacto desta pesquisa - a mensagem para se levar para casa? É
uma palavra de cautela. Nós mostramos aqui, até ao nível do mecanismo de ação,
por que essa linha de pesquisa é perigosa."
Imagem:
Nicolle Rager Fuller/NSF, Redação do Diário da Saúde
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