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sexta-feira, 2 de março de 2018

Defesa do SUS pauta debates na 1ª CNVS


Momento histórico que tem como objetivo apontar diretrizes para a elaboração de políticas nacionais de vigilância em saúde

Crédito: Nucom/SVS
Vigilância mais participativa e integral no cotidiano do SUS foi um dos temas debatidos no segundo dia da CNVS

O segundo dia (28/02) de trabalhos na 1ª Conferência Nacional de Vigilância em Saúde (CNVS), que acontece em Brasília, trouxe discussões acaloradas e construtivas. Foram dois painéis, um refletiu sobre como fazer uma vigilância mais participativa e integral no cotidiano do Sistema Único de Saúde (SUS) e o outro foi sobre o papel do poder público na efetivação das políticas e qual a importância da participação popular.

O primeiro painel contou com a coordenação de Daniela Buosi, diretora do Departamento de Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador, e a participação do professor do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Norberto Rech, Letícia Oliveira Gomes de Faria, do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) e a professora Glória Teixeira, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

O segundo painel teve a participação de Leandro Araújo da Costa, coordenador do Setor Nacional de Saúde do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), de Nereu Henrique Mansano, representante do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e do ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo.

Letícia Oliveira Gomes de Faria, contextualizou o tema com o exemplo amplamente conhecido dos moradores da cidade mineira de Mariana. Ela vivenciou o crime ambiental que resultou no rompimento da barragem da mineradora Samarco, controlada pelas multinacionais Vale e BHP Biliton, em novembro de 2015. O acesso à saúde é a principal reivindicação dos 1,2 milhões de atingidos ao longo da bacia do Rio Doce.  Novas barragens foram colocadas, mas ainda geram dúvidas sobre a eficácia. Ainda há problemas quanto o oferecimento e tratamento de água, problemas de saúde referentes ao crime ambiental, além de mudanças drástica nos hábitos alimentares da população afetada causando problemas crônicos não existentes ainda naquelas populações, além de proliferação de vetores como o que transmite a febre amarela, por exemplo. Até hoje, não houve uma resolução efetiva por parte das empresas privadas e o poder público que contivesse esses problemas de saúde que geram questões interdisciplinares e que atingem não só a pessoa afetada diretamente, mas toda a família, disse Letícia.

Vigilância do óbito
O professor do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Norberto Rech, ponderou em sua palestra sobre a necessidade de se olhar para a vigilância, promoção e proteção à saúde de forma mais aprimorada. Ele deu o exemplo da transversalidade dos temas, como da vigilância do óbito da população LGBT e da criminalização desse tipo de assassinato, como acontece com o feminicídio. Para ele esses temas devem ser uma construção junto com a vigilância. “Quem estava desanimado, alegre-se, a 1ª CNVS é um marco e vai contra essa onda ultraliberal que vivemos”, comentou animado.

A professora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Glória Teixeira, lembrou em sua palestra da trajetória do Movimento Sanitário até a conquista do SUS: “O controle social é material estratégico para pactuações”.

Leandro Araújo da Costa, coordenador do Setor Nacional de Saúde do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que participou do segundo painel de debates, disse que não se faz mudança a partir de uma pessoa e sim de um coletivo que se propõem a fazer mudanças. “Pensando em vigilância, e promoção, deve-se pensar fora das instâncias de poder e sim dentro das instâncias populares, representativas, construídas a partir disso”, defende. Para ele, a melhor fórmula para que as ações de vigilância sejam cumpridas por todos os entes federados é com participação popular por meio de conferências livres.

Luta pelo SUS
Nereu Henrique Mansano, representante do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), falou da importância do controle social na construção e efetividade das políticas como primeiro plano. Respondendo a uma crítica da plenária, disse que o Conselho, que tem 30 anos de história, participa ativamente das frentes de  luta em defesa do SUS, como a 8ª Conferência Nacional de Saúde, citou o apoio ao luta pelo Saúde+10, uma proposta de lei orçamentária para a Saúde, e todas as conferências populares em apoio as representações populares. Além disso, defendeu a promoção à saúde e a fiscalizadas dos recursos de vigilância para que estes sejam usados de forma correta desde o início do processo.

O ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo, fez uma contextualização histórica dos últimos anos do Brasil e defendeu que saúde não é mercado, então, não se põe preço de venda, portanto, não se privativa, é direito garantido e dever do Estado de ofertar como direito democrático do povo. “Com o avanço do capitalismo, o doente é uma mercadoria. A privatização da saúde está acontecendo”, acredita e combate.

Após a realização dos paineis, 16 grupos se reuniram sob a orientação de seus respectivos delegados em salas distintas para votar as diretrizes propostas no projeto que irá compor a proposta de diretrizes para uma Política Nacional de Vigilância em Saúde, que deverá nortear as ações do Ministério da Saúde nos próximos anos. As discussões prosseguem até essa sexta-feira (29), quando as propostas aprovadas nos grupos serão apresentadas e votadas na plenária de encerramento dos trabalhos.

“Esse é um momento de fortalecimento da Vigilância em Saúde no âmbito do SUS, uma grande oportunidade”, comentou Alexandre Fonseca, diretor de programas da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde, uma dos delegados na 1 ª Conferência.

Sonia Brito, Diretora do Departamento de Gestão da Vigilância em Saúde da Secretaria de Vigilância em Saúde e Membro da Comissão Organizadora da Conferência, lembra que ainda existem “lacunas no SUS”, mas estamos em um momento importante. “Por ser a 1ªCNVS, esse é um momento histórico que tem como objetivo apontar diretrizes para a elaboração de políticas nacionais de vigilância em saúde e contribuir com a consolidação de um SUS público e de qualidade”, defende. Ela completou dizendo que é nesse espaço democrático que se pode ouvir todos os segmentos da sociedade para apontar os para a tomada de ações de promoção e proteção à saúde da população brasileira.

Por Nucom/SVS


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