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segunda-feira, 5 de março de 2018

‘Temos de mudar rastreamento de câncer de próstata’


Se a ocorrência do câncer de próstata tem como principais fatores de risco a idade avançada e questões genéticas e hereditárias, as formas mais avançadas da doença podem estar associadas também a outras condições, parte delas relacionadas ao estilo de vida, ou seja, evitáveis. Esse foi o alerta feito pela epidemiologista americana Lorelei Mucci no IX Congresso Internacional de Uro-oncologia, realizado em São Paulo entre quinta-feira e sábado da última semana.

Professora da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, ela destacou que cigarro e obesidade estão entre esses principais fatores. Os programas de rastreamento precoce do câncer de próstata, diz Lorelei, deveriam ser personalizados segundo o perfil e o risco de cada paciente em desenvolver formas mais graves da doença. Leia abaixo os principais trechos da entrevista da cientista ao Estado.

Quais são os principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de próstata?
Há consenso de que os homens mais velhos, os afrodescendentes e os que já tiveram um irmão ou pai com a doença têm maiores riscos de ter câncer de próstata. Há ainda vários estudos que mostram que há alguns genes herdados associados à doença. Por fim, homens mais altos também podem ter maior risco porque, quando garotos crescem, durante a puberdade, é exatamente quando a próstata está crescendo mais rápido. Há, portanto, alguns pensamentos de que os hormônios relacionados com uma altura mais alta podem também ter influência na ocorrência da doença. Esses são os cinco fatores de risco para o câncer de próstata e, obviamente, nenhum deles você pode modificar. No entanto, os fatores de risco que parecem estar associados aos casos avançados de câncer de próstata podem ser modificáveis.

Porque estariam mais ligados ao estilo de vida?
Sim. Quanto ao tabagismo, por exemplo, homens fumantes têm duas vezes mais chance de morrer de câncer de próstata do que homens que nunca fumaram. Quanto à obesidade, se você olhar o índice de massa corporal (IMC), um homem com sobrepeso tem 30% mais de chance de morrer da doença. Já os que são muito obesos têm cerca de 60% a 70% mais chance se comparados com os homens que têm um peso mais saudável.

E quanto aos demais fatores de risco que estão sendo estudados, como o consumo de alguns alimentos?
Já temos muitos estudos sobre tabagismo e obesidade. Mas estamos começando a olhar agora para fatores como o consumo de café e outras questões ligadas à dieta. As evidências são sugestivas, mas não fortes o suficiente para dizermos que é um fator de risco provável.

Você apresentou dados que mostram que a mortalidade por câncer de próstata está caindo em alguns países da América Latina e aumentando no Brasil? Qual é a sua avaliação?
Uma das razões para isso pode ser a melhoria dos sistemas de registro e notificação. Outra possibilidade é verificar se a obesidade está aumentando mais no Brasil e se há bons programas de rastreamento para diagnóstico precoce.

E qual é a situação dos EUA comparada à do Brasil?
A incidência nos Estados Unidos é maior do que a do Brasil, mas as taxas de mortalidade são maiores aqui do que lá provavelmente porque fazemos mais rastreamento. Mas temos de lembrar que um dos fatores de risco é a afrodescendência, e há uma taxa maior de afrodescendentes no Brasil.

O diagnóstico precoce ainda é afetado pelo preconceito que alguns homens têm em passar pelo exame?
Sim, e nos Estados Unidos isso também é um desafio. Mesmo com o fato de terem risco maior para a doença, muitos homens negros ainda são muito relutantes em passar pelos exames de rastreamento porque o acham muito invasivo.

O que deveria ser alterado no enfrentamento da doença?
Uma coisa é mudar nossa abordagem de rastreamento dos homens porque hoje muitos são diagnosticados com um câncer de próstata que não evoluirá para algo mais grave. Eles, então, fazem o tratamento e acabam tendo efeitos colaterais na qualidade de vida. Precisamos aprimorar isso de forma a manter os benefícios de diagnosticar cedo os casos, mas focando nos homens que realmente têm maior risco de morrer da doença.

Qual seria, então, a melhor abordagem de rastreamento?
Poderíamos rastrear os homens mais cedo, por volta dos 40 anos, e considerar o nível de PSA (Antígeno Prostático Específico, usado para diagnosticar o câncer de próstata) detectado para guiar as diretrizes futuras de rastreamento para aquele homem, o que poderia significar repetir os exames todo ano ou em dez anos, por exemplo. Eu acredito que o rastreamento, de fato, reduz mortalidade mas acho que as recomendações devem priorizar os homens com maior risco.

Fonte: Estadão


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