Destaques

sábado, 6 de abril de 2019

ALEXANDRE PADILHA, EX-MINISTRO DA SAÚDE PROPÕE QUE O CONGRESSO ANULE APROVAÇÕES DE AGROTÓXICOS PUBLICADAS PELO MAPA


Em menos de três meses, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento publicou no Diário Oficial da União o deferimento do registro de 121 produtos agrotóxicos que chegam às mesas brasileiras neste ano.

O MAPA, liberou registros de mais de um agrotóxico, por dia neste ano. As últimas permissões de venda foram publicadas no Diário Oficial do início de março, 19 produtos são extremamente tóxicos.
O número é o segundo maior já registrado e, a seguir este ritmo, devemos superar a marca de 450 produtos liberados no ano passado — o recorde histórico.

“Em fevereiro, ao contabilizar os dias úteis dos dois primeiros meses, foram autorizados um registro a cada quatro horas. Queremos fazer um profundo questionamento ao papel da Anvisa, Ibama e Ministério da Agricultura. Estão de fato analisando a toxicidade desses produtos?” questiona o ex-ministro e agora Deputado Alexandre Padilha, que propôs um projeto de decreto legislativo, o PDL 43/2019, com o objetivo de “sustar” os atos do Ministério da Agricultura de 2019.

Além da Anvisa e da Agricultura, o Ibama também faz parte do processo de avaliação de agrotóxicos, que é regido pela Lei Federal 7.802/89. Todo procedimento pode levar mais de cinco anos, neste ano já foram solicitadas 271 aberturas de processos para registro de novos produtos.

O Governo carece reconhecer,  ouvir e respeitar o papel das Instituições de regulação e controle, como: MAPA, MS, MEIO AMBIENTE, Anvisa, Ibama Conama, dentre outros organismos que se preocupam com o controle, impacto ambiental e sobre a saúde pública da população, seja no ambiente onde vivem ou nos alimentos que ingerem.

No site https://forms.camara.leg.br/ex/enquetes/2193076/posicionamentos da Câmara dos Deputados foi criado um espaço para a enquete sobre o tema, onde todos podem opinar e deixar registrada seu posicionamento sobre o PDL 43-2019. O resultado poderá contribuir para a definição da Casa sobre o projeto.

Leia parte da entrevista que o Dep. Alexandre Padilha concedeu para a Agência Publica – Repórter Brasil:

O que justifica a tentativa de anular os registros de agrotóxicos aprovados desde o começo do atual governo?

A defesa do meu projeto de decreto legislativo está focada em dois motivos. O primeiro é da toxicidade desses produtos. Nenhum deles é classificado como não tóxico. A grande maioria é altamente tóxico ou extremamente tóxico. Alguns deles foram banidos nos Estados Unidos e na Europa, e aqui vemos a expansão da utilização de um produto que há pouco tempo foi condenado em outro país pela relação com doenças como o câncer [entre outras, o glifosato, usado em plantações de soja, milho e algodão]. O segundo motivo é estancarmos a ampliação de registro de agrotóxicos no país. Em 2005, tivemos cerca de 90 registros por ano, quando fui ministro da Saúde estava na casa dos 100, em 2015 chegou a quase 150. Em 2018, ultrapassou 450, o recorde no Brasil. Se manter esse ritmo do atual governo Bolsonaro chegaremos ao final do ano com mais de 450 registros. Quando apresentei esse projeto de decreto legislativo, em fevereiro, ao contabilizar os dias úteis dos dois primeiros meses, era uma média de um registro a cada quatro horas. Queremos fazer um profundo questionamento ao papel da Anvisa, Ibama e Ministério da Agricultura. Estão de fato analisando a toxicidade desses produtos? E por que desse recorde de registros de produtos agrotóxicos no país?

O Ministério da Agricultura alega que, com exceção do Sulfoxaflor, os demais ingredientes já eram comercializados no Brasil.

Muitos foram registrados como produtos novos ou que se ampliaram a possibilidade de utilização em outras culturas, e com isso em outros territórios. O agrotóxico que antes era utilizado só em laranjais agora será utilizado em amendoins, couves, repolho. Significa não só utilizar em outras culturas, mas também em outros locais. Tivemos agora autorização para alguns serem utilizados no vale do rio São Francisco, além de outras regiões.

Em 2008, a Anvisa deu início ao processo de reavaliação do Glifosato, o agrotóxico mais utilizado no país. Foram 11 anos para que saísse o resultado. No mês passado a agência deu parecer positivo e renovou a licença. Está semana, a Bayer, que produz o herbicida Roundupum, à base de Glifosato, foi condenada por um júri nos Estados Unidos a pagar mais de 80 milhões de dólares em danos a um pessoa que desenvolveu câncer nos EUA. Qual a sua visão a respeito do glifosato?

Ao longo desse período só se acumularam estudos que justificam o banimento desse produto, o glifosato, no nosso país. Tivemos decisões recentes de outros países de proibir a utilização do produto, e um caso recente onde a Justiça americana reforçou esse posicionamento, relacionando o produto ao câncer.

Deve ser votado em plenário nos próximos meses o PL 6299/2002, conhecido pelos opositores como Pacote do Veneno. Como vocês estão se preparando para a votação deste projeto?

Iremos trazer dados que mostrem os impactos econômicos negativos do uso de agrotóxicos. Um deles por meio do fator ambiental. Por exemplo, a morte de abelhas por contato com agrotóxicos. As abelhas têm papel importante contribuindo para a polinização de culturas, aumentando a produção. Estudos mostram queda de 10% da produtividade a partir do impacto ambiental causado (pela morte das abelhas). Outro risco real é a exportação, o impacto econômico na agricultura brasileira. Estamos na escalada do uso de agrotóxicos cada vez mais tóxicos, e muitos deles já são banidos nos Estados Unidos e Europa.

Além dele, a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pnara), que busca reduzir o uso de agrotóxicos, também espera para ser incluído na pauta do dia da Câmara.

Nós estamos lutando para a inclusão na pauta deste projeto. Estou confiante, cada vez mais o tema ganha espaço e preocupação junto à sociedade. A alimentação saudável ganha cada vez mais espaço na sociedade urbana, e é muito importante sabermos que a política que existe hoje em relação a agrotóxicos tem uma ligação direta no conjunto da política do agronegócio. Existe um monopólio de quem produz o agrotóxico, quem produz a semente, quem produz o maquinário, quem produz o sistema de informação, os instrumentos de pulverização e etc. Uma cadeia monopolizada que tenta ampliar no país o modelo do agronegócio que trabalha com a ideia de que tem que haver uma homogeneização do padrão alimentar. O grande sonho da indústria de alimentos e do agronegócio é que a mesma comida seja consumida em Brasília, no interior da região amazônica, na grande São Paulo, em Pequim, Nova Iorque e no mundo como um todo.

Com informações de: Gabriel Paiva, Pedro Grigori, Agência Pública/Repórter Brasil


0 comentários:

Postar um comentário

Calendário Agenda