Relatório de
entidades ligadas à ONU publicado nesta segunda-feira (29) alerta que o uso
excessivo de medicamentos pode levar a 10 milhões de mortes por ano até 2050.
As entidades apontam problemas ligados aos remédios antimicrobianos, entre os
quais estão antibióticos, antivirais, antifúngicos e antiprotozoários.
O uso excessivo
deles em humanos, em animais e em plantas está fazendo com que as doenças que
seriam por eles tratadas fiquem mais resistentes e causem mais danos. Mas como
essa resistência ocorre, em primeiro lugar?
A cada vez que uma
pessoa toma um antibiótico, por exemplo, as bactérias podem desenvolver formas
de resistência a sua fórmula. Quanto mais a pessoa toma antibióticos, maiores
as chances de a resistência se desenvolver e levar a uma versão mais grave da
doença, às vezes não tratável.
As infecções
resistentes a remédios já causam, pelo menos, 700 mil mortes todo ano, de
acordo com o relatório desta segunda (29). Dessas, 230 mil são por causa da
tuberculose multirresistente.
Entre 2000 e 2010,
o consumo dos antimicrobianos aumentou 36% em 71 países. O Brasil, a Rússia, a
Índia, a África do Sul e a China responderam por 75% desse crescimento, afirmam
Matthew Stone e Maria Helena Smedeo, citando um estudo publicado há dois anos
na revista “The Lancet”.
De acordo com os
especialistas, caso nada seja feito para impedir a proliferação de doenças
resistentes a medicamentos, o agronegócio brasileiro também pode ficar
ameaçado. Em 2018, o Brasil lucrou 6,57 bilhões de dólares (cerca de R$ 25,8
bilhões), 7,9% a mais do que no ano anterior, com a exportação de carne bovina.
O país é o maior exportador do mundo.
“Mas o crescimento
desse mercado não é garantido. Ao redor do mundo, a saúde do gado
está sendo ameaçada com a resistência antimicrobiana, um processo no qual uma
doença não pode ser mais tratada por remédios existentes. Essa crise coloca em
risco a saúde de humanos, animais e plantas”, alertam.
Para eles, há um
uso indevido de antibióticos hoje, em esforços preventivos, mas em última
instância contraproducentes, de proteger os animais de ficarem doentes.
Por outro lado,
dizem, “o Brasil deu um passo importante em 2016 ao banir o uso de colistina, um dos antibióticos mais importantes, para
consumo animal. Ainda assim, o meio mais eficiente de reduzir a necessidade de
medicamentos é parar a proliferação de infecções entre os animais”, explicam os
especialistas. “Isso pode ser feito com melhor higienização em fazendas e com a
expansão de vacinação para vacas e outros animais.”
Os especialistas
destacam que, no ano passado, o país lançou um plano para combater e controlar a resistência
aos antimicrobianos, envolvendo vários setores do governo, que deve
ser implementado até 2022.
Como resolver?
O relatório desta
segunda (29) também apresenta cinco recomendações para abordar o uso de
antibióticos e combater o desenvolvimento de doenças resistentes a eles:
- Acelerar o progresso em
países, inclusive para assegurar o acesso a vacinas. Os governos
devem parar de usar os antimicrobianos para promover crescimento do gado,
conforme orientações da OIE, FAO e OMS;
- Inovar para garantir o
futuro, envolvendo doadores, públicos e privados, para aumentar a
inovação em vacinas, diagnósticos e alternativas ao uso de microbianos,
seja na saúde humana, animal ou vegetal, assim como em
alternativas de descarte de lixo e saneamento básico.
- Colaborar para uma ação mais
efetiva, com o envolvimento da sociedade civil e do setor privado
para lidar com a resistência aos antimicrobianos;
- Investir para uma resposta
sustentável, com o aumento de financiamento de iniciativas que lidem
com a resistência antimicrobiana. Elas devem ter maior prioridade, também,
nos orçamentos domésticos dos países;
- Reforçar a governança global
e a responsabilidade internacional. O Secretário-Geral da ONU, com a
colaboração de outras agências como FAO, OIE, e OMS, deve fornecer
relatórios sobre a resistência antimicrobiana a países, recomendando
medidas para adaptação e mitigação dos efeitos. Também recomenda a criação
de um grupo global em saúde sobre resistência antimicrobiana.
Fonte: O Globo
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