O atual número de 463 milhões
de diabéticos no mundo deverá aumentar em 51% até o ano de 2045, passando para
700 milhões. Esse alerta foi feito por especialistas ouvidos em audiência
pública da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) nesta quarta-feira (27). O debate
sobre a prevenção do diabetes e o acesso aos tratamentos da doença atendeu
requerimento dos senadores Jorge Kajuru (Cidadania-GO) e Romário (Podemos-RJ),
que preside o colegiado.
Presidente da Sociedade
Brasileira de Diabetes, Hermelinda Pedrosa ressaltou que um em cada nove
brasileiros tem diabetes e o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking mundial da
doença. A especialista reconheceu o desafio do país para enfrentar o problema,
pela sua diversidade e dimensões continentais. Mas defendeu um rastreamento
integrado e medidas para prevenção e capacitação dos profissionais da saúde em
todas as regiões.
— Há um desequilíbrio no
controle. Apenas 10% dos pacientes com diabetes tipo 1 estão dentro das metas.
Esse é um dado funesto, porque traz outra série de complicações. Os estados do
Norte e Nordeste têm um quadro muito pior — destacou.
Representando a Sociedade
Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, o médico Fábio Viegas informou
que 69,3% do total de mortes no Brasil são atribuídas a doenças crônicas não
transmissíveis, entre elas o diabetes, que corresponde a 5,3%. A despesa anual
do Ministério da Saúde com insulinas, em 2018, foi de R$ 338 milhões, e R$ 96.9
milhões por ano é o custo estimado total de internações devido ao diabetes.
Segundo Viegas, em 2018 foram realizadas 30.497 internações com amputações em
pacientes diabéticos no país.
— Vejam o impacto que essa
doença leva, não somente ao SUS, mas também à saúde suplementar. O paciente com
diabetes e com obesidade fica na intersecção de políticas públicas, sem ser
diretamente atendido por nenhuma delas — afirmou.
Viegas defendeu que a cirurgia
metabólica seja inserida como opção de tratamento do diabetes. Segundo ele, o
procedimento é simples e resulta em benefícios para pacientes que não conseguem
controlar o tipo 2 da doença. Segundo Fábio, são altas as chances de remissão
da enfermidade com a medida, inclusive em pacientes obesos.
— Não temos que falar de cura,
mas de controle. E esses níveis [de controle] chegam acima de 70%. É uma alternativa
que, sim, deve ser considerada.
Novembro Azul
O representante da Associação
de Diabetes Juvenil, Heithor Zanini, frisou a importância da campanha Novembro
Azul no combate ao diabetes e da sanção da Lei 13.895/2019, que institui a Política Nacional de
Prevenção ao Diabetes e de Assistência Integral à Pessoa Diabética. Zanini
disse, no entanto, que ainda é necessário melhorar as políticas públicas. Ele
sugeriu, por exemplo, que a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias ao
SUS passe por uma reformulação e tenha representantes de cada secretaria do
Ministério da Saúde.
— Mas se tivéssemos que
escolher o problema agudo, crítico e urgente em relação ao tratamento de
diabetes no país, seria a dispensação das insulinas análogas de ação rápida. As
entregas de outubro, dezembro e março somam 3,9 milhões de canetas. Em estoque
ainda há 2,9 milhões. É claramente um gargalo que dificulta o acesso dos pacientes
a um melhor tratamento.
Ação multidisciplinar
Integrante do Conselho
Nacional de Secretários de Saúde, Maria José Oliveira Evangelista observou que
mudar estilos de vida não é tarefa simples. Segundo ela, não basta que os
profissionais de saúde orientem os pacientes a parar de fumar, de beber e
diminuir a ingestão de açúcares, por exemplo. Mas o autocuidado apoiado, que
sugere uma mudança gradativa de costumes, segundo a debatedora, é um caminho
para diminuir os índices de diabetes no país.
Maria José pediu aos
parlamentares que destinem emendas para a aquisição de equipamentos e insumos e
defendeu a regionalização dos atendimentos, para que os pacientes não precisem
percorrer longas distâncias. Ela sugeriu ainda o fortalecimento da atenção
primária, bem como a integração das consultas, em caráter
multidisciplinar.
— É preciso que um centro, em
qualquer lugar, não atenda apenas aos pacientes de alto risco, mas faça
educação permanente junto à equipe da atenção primária, dos ambulatórios, e
seja aquele formador, porque não temos pessoas formadas adequadamente no país
inteiro.
Médico cirurgião do aparelho
digestivo, Áureo Ludovico observou que o diabetes é um problema de dimensão
mundial. Segundo ele, países como a Índia têm quase o equivalente à população
brasileira de diabéticos. Por isso, o médico disse que o problema não tem foco
único e deve ser tratado de modo compartilhado com todas as entidades e pessoas
ligadas ao assunto.
— Todos têm importância na
abordagem. Não há como tratar esse problema sem uma atenção combinada ou todos
dando a mão e entendendo de forma a ajustar a nossa postura a cada situação.
Essa é uma doença que tem a alternativa de remissão, mas, infelizmente,
representa apenas uma parte do tratamento. Os órgãos competentes devem “abrir a
cabeça” para todas as alternativas de tratamento, encaixando a todos, porque
todos são importantes — pontuou.
A oftalmologista Francyne
Veiga Cyrino destacou o risco de cegueira entre os diabéticos. Ela citou a
importância de mutirões em várias partes do país que ajudam no diagnóstico
precoce, com vistas a minimizar complicações futuras nesses pacientes. E
defendeu a realização de mais campanhas de conscientização pelo Brasil.
Governo
O diretor de Programa da
Secretaria de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, Lucas Wollmann,
mostrou ações do governo para melhorar o tratamento e diminuir os índices de
diabetes no país. Entre essas iniciativas, ele destacou o programa Saúde na
Hora, que oferece mais cobertura na atenção primária, o Médicos pelo Brasil,
que levará profissionais para áreas mais carentes, e o Previne Brasil, que foca
nos resultados de saúde da população.
Wollmann garantiu que há
medicamentos para tratamento do diabetes disponíveis no SUS e que o ministério
tem um pacote de ações direcionadas a gestores, profissionais e pacientes, com
definições sobre a atribuição de cada integrante dessa rede. O intuito do
governo, segundo o debatedor, é dar transparência e clareza nas informações e
orientar melhor a sociedade sobre os serviços.
Agência Senado
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