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sábado, 29 de abril de 2017

FARMÁCIA POPULAR - 393 UNIDADES DA REDE PRÓPRIA SERÃO DESATIVADAS E OS RECURSOS REPASSADOS PARA A ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA BÁSICA, QUE PASSA DE R$ 5,10 PARA R$ 5,58 POR HABITANTE

Para esclarecer os gestores e a população o CONASEMS elaborou a Nota Informativa nº18/2017 , para Informa sobre o encerramento da Rede Própria do Programa Farmácia Popular do Brasil

O Ministério da Saúde manifestou em Janeiro de 2017 o interesse em interromper o financiamento e manutenção da Rede Própria do Programa Farmácia Popular, submetendo a discussão na Comissão Intergestores Tripartite (CIT). Considerando a necessidade de aprofundar o debate e ouvir os municípios que fizeram adesão ao programa e possuem estabelecimentos ativos, o CONASEMS retirou de pauta na CIT de Janeiro e Fevereiro, realizou levantamento direcionado a estes municípios e debateu com gestores e pesquisadores na área de acesso a medicamentos nas reuniões de Diretoria e Conares de Janeiro a Março.

Sobre o Programa Farmácia Popular do Brasil (PFPB)

Em relação ao Programa, é importante destacar as suas modalidades (Quadro 1), criado em 2004 com o objetivo de ampliar o acesso da população aos medicamentos, bem como diminuir o impacto dos gastos com medicamentos no orçamento familiar. Na etapa inicial da implantação do PFPB, foi constituída uma Rede Própria de Farmácias (Farmácia Popular Rede Própria - FPRP), incialmente sob a responsabilidade da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) e posteriormente, em parcerias com estados, municípios, entidades filantrópicas e instituições de Ensino Superior. A partir de 2006, o PFPB foi expandido, também mediante parcerias, desta vez com farmácias e drogarias privadas, em uma iniciativa institucional conhecida como o programa ‘Aqui Tem Farmácia Popular’ (ATFP) (COSTA et al, 2016).

O PFPB fora criado sob a lógica de copagamento e complementaridade às demais ações desenvolvidas no âmbito do SUS. Em fevereiro de 2011, o PFPB foi reformulado a partir da incorporação de uma nova ação, denominada ‘Saúde Não Tem Preço’ (SNTP), em que os medicamentos indicados para o tratamento da hipertensão e diabetes passaram a ser fornecidos de modo totalmente gratuito, sendo os para tratamento da asma também incluídos no SNTP em 2012. Tal medida representou o fim da contrapartida do usuário na aquisição da terapêutica medicamentosa prescrita para esses agravos (COSTA et al, 2016; LUIZA et al, 2015).




Quadro 2. Síntese das características de funcionamento do PFPB.


Legenda: DATASUS – Departamento de Informática do SUS; MS – Ministério da Saúde, Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz; PFPB – Programa Farmácia Popular do Brasil; SUS – Sistema Único de Saúde; VR – Valor de Referência.
FONTE: SILVA e CAETANO, 2015

A proposta do Ministério da Saúde

De acordo com a análise do MS, o custo total do programa é de aproximadamente R$99 milhões de reais, sendo os custos administrativos para a manutenção das farmácias da rede própria chega a 80%. Ou seja, apenas cerca de R$ 18 milhões, de fato, estavam sendo utilizados para a compra e distribuição de medicamentos no formato atual. O MS apresentou a proposta em GT da CIT para repassar aos municípios os R$ 18 milhões na farmácia básica dos municípios que possuem estabelecimentos da FPRP. O número de estabelecimentos ativos no momento da proposta era de 516 Farmácias em 410 municípios, sendo que muitos já sinalizaram o desejo de encerrar a vigência do contrato de adesão.
Síntese conclusiva das discussões no CONASEMS

Em síntese, os debates apontaram a importância do SUS no acesso a medicamentos no Brasil, sendo a Atenção Básica deste sistema a principal fonte de obtenção e o principal provedor no acesso a medicamentos principalmente para as doenças mais prevalentes (Quadro 3), e (PNAUM, 2014).




Em relação aos custos dos tratamentos nas modalidades de acesso no Brasil, os estudos evidenciam que o custo de tratamento no PFP tanto na rede própria (FPRP) quanto na rede privada (ATFP) incluindo o saúde não tem preço (SNTP), é muito maior do que no SUS, mostrando que a vantagem econômica do setor público está diretamente relacionado à sua capacidade de atendimento dos pacientes, sendo o SUS o modelo com maior eficiência na alternativa de aplicação de recursos no acesso a medicamentos (GUERRA Jr et al, 2017; SILVA, 2016).

O levantamento direcionado aos municípios que possuem FPRP realizado no período de fevereiro a Março de 2017 pelo CONASEMS, perguntando o interesse em continuar com o programa, o custo administrativo do estabelecimento, os valores totais de vendas e pessoas atendidas no último ano, e quais considerações a fazer sobre a situação atual das farmácias, revelou dificuldades na gestão e gerenciamento dos estabelecimentos do programa. Os custos dos estabelecimentos são maiores do que valor recebido mensalmente para manutenção (R$12,5 mil por mês), e o volume de pessoas atendidas é baixo com redução substancial nos últimos 12 meses. Muitos estabelecimentos estão no momento fechados em função da transição de gestão, e quase a totalidade dos respondentes (n=60) mencionou dificuldades nos estoques de medicamentos enviados pela FIOCRUZ sendo os principais problemas o desabastecimento/faltas, medicamentos com prazos de validades curtos, atrasos nos recebimentos, etc. Os resultados sugerem dificuldades na gestão e gerenciamento tanto pelos municípios que aderiram ao FPRP quanto pela FIOCRUZ.

A Contraproposta do CONASEMS

O CONASEMS considera que é necessário que haja investimento no modelo público integrado com os princípios e diretrizes do SUS que se apresenta como o principal provedor do acesso a medicamentos e em condições adequadas para garantir a AF integral e universal, já que os resultados apresentados em estudos científicos, mostram maior eficiência na alternativa de aplicação de recursos diretamente pelo setor público. Destacamos que os recursos do PFPB sob a lógica de copagamento não são ações e serviços públicos de saúde, portanto não é SUS.

Mediante o atual cenário já exposto entende-se que é fundamental que o Programa Farmácia Popular seja rediscutido como um todo (todas as suas modalidades), no entanto, em relação a Rede Própria do Programa entendemos que em uma interrupção desta modalidade, os recursos totais do Programa (R$99 milhões) devem ser reinvestidos para o SUS e as pessoas possam ser atendidas na atenção básica dos municípios. É importante destacar que o recurso da Assistência farmacêutica Básica está sem reajuste a 7 anos (Federal R$5,10 / habitante) e com a população para base de cálculo do IBGE 2011, sendo necessário atualização, desta forma, seriam necessários um incremento de R$70 milhões para atualização linear (aos 5.570 municípios do Brasil) da população IBGE 2016. Considerando o total de recursos do PFPB (R$99 milhões) é possível atualizar a população, e o saldo ser reinvestido no per capta dos municípios aderidos ao FPRP proporcionalmente ao volume de atendimentos dos estabelecimentos (série histórica dos últimos 2 anos).

É importante que estes municípios tenham oportunidade caso seja de seu interesse, em alterar os estabelecimentos do programa para estabelecimentos de saúde da Atenção Básica (CNES), com garantia da doação dos mobiliários e equipamentos para a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), bem como os estoques disponíveis no próprio estabelecimento, e, na FIOCRUZ, permitindo um período de transição sem prejudicar o atendimento e o acesso.

A pactuação na CIT

Mediante o exposto e as discussões no período de Janeiro a Março, a decisão proferida no âmbito da Comissão Intergestores Tripartite (CIT) que em reunião com representantes dos gestores estaduais (CONASS), municipais (CONASEMS) e do Governo Federal, realizada no dia 30 de março de 2017, decidiu pelo fim do repasse de manutenção às unidades de Rede Própria do Programa Farmácia Popular do Brasil (PFPB) no valor de R$ 12.500,00 (doze mil e quinhentos reais), bem como a operacionalização das unidades pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ).

Ficou decidido que o Ministério da Saúde irá ampliar os recursos destinados para estados e municípios na compra dos medicamentos do Componente Básico da Assistência Farmacêutica, sendo que o valor enviado mensalmente para a compra passará de R$ 5,10 por habitante para R$ 5,58 e, atualizando a população da base de cálculo para IBGE 2016. Também, que se for de interesse do gestor local, o estabelecimento pode ser aproveitado para funcionar como estabelecimento da SMS, e, o saldo remanescente de medicamentos presente na(s) unidade(s) poderá ser doado para distribuição gratuita na Atenção Básica do município.

Procedimentos a serem realizados após a pactuação CIT

As unidades em funcionamento continuarão recebendo o repasse de manutenção até que seja definido o cronograma de realocação do repasse pelo DAF/MS, o qual comunicará oficialmente sobre essa definição, da mesma forma será estabelecido o prazo/data para encerramento das vendas e da interrupção fiscal dos estabelecimentos.

Se for de interesse do gestor local, o saldo remanescente de medicamentos presente na(s) unidade(s) poderá ser doado para distribuição gratuita na Atenção Básica do município após a conclusão dos procedimentos referentes ao fechamento da unidade.

Manifestado interesse, e de acordo com a necessidade de cada município será distribuído, adicionalmente, o saldo remanescente de medicamentos presente no estoque central da FIOCRUZ para distribuição gratuita na Atenção Básica do município proporcionalmente ao volume de atendimentos dos estabelecimentos (série histórica dos últimos 2 anos) conforme cronograma e grade de distribuição a ser definidos pelo DAF/MS e FIOCRUZ.

O MS publicará a Portaria específica desabilitando as unidades, e após isto, os mobiliários e equipamentos poderão ser utilizados conforme interesse do Parceiro. Após desabilitação, a Secretaria de Saúde deverá encaminhar os procedimentos necessários à devolução dos recursos ao Fundo Nacional de Saúde – FNS, quando couber.

As Secretarias de Saúde aderidas ao FPRP deverão atualizar seus elencos de medicamentos (quando couber) contemplando os 112 itens previsto no programa (em anexo), para isto, é importante iniciar os procedimentos para aquisição dos medicamentos, tão logo seja disponibilizado o recurso atualizado pela Assistência Farmacêutica Básica.

Assessoria CONASEMS
Abril de 2017

REFERÊNCIAS
Costa, KS et al. Obtenção de medicamentos para hipertensão e diabetes no Programa Farmácia Popular do Brasil: resultados da Pesquisa Nacional de Saúde. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 25(1):33-44, jan-mar 2016
SILVA RM, CAETANO R. Programa “Farmácia Popular do Brasil”: caracterização e evolução entre 2004-2012. Ciência & Saúde Coletiva, 20(10):2943-2956, 2015
GUERRA JUNIOR et al. Avaliação econômica dos Programas Rede Farmácia de Minas do SUS versus Farmácia Popular do Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 22(1):221-233, 2017
SILVA RM, CAETANO R. Custos da assistência farmacêutica pública frente ao Programa Farmácia Popular. Rev Saúde Pública 2016;50:74
Brasil. Ministério da Saúde. Vigitel Brasil : vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico : estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica do uso e fontes de obtenção dos medicamentos para tratamento da hipertensão e diabetes nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal, 2011 a 2013 / Brasília : Ministério da Saúde, 2015.

Anexo:



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