Um feito inédito na ciência
mundial. Em apenas 15 dias, um projeto itinerante de sequenciamento genético
liderado pela Fundação Oswaldo Cruz gerou 126 genomas completos de vírus
responsáveis por grandes surtos no país, sendo 69 de dengue, 34 de chikungunya
e 23 de Zika. As amostras são provenientes de pacientes infectados na região
Centro-Oeste do país. A equipe também coletou mais de 2.700 mosquitos de 19
espécies, em sua maioria, Aedes aegypti, Aedes albopictus e Culex
quinquefasciatus. Os insetos estão sendo analisados. Os especialistas
integram o projeto ZIBRA 2: mapeamento genético do Zika e outros
arbovírus no Brasil, que conta com o financiamento do Departamento de
Ciência e Tecnologia (DECIT) e da Secretaria de Vigilância e Saúde (SVS), do
Ministério da Saúde, da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Os dados
foram divulgados recentemente em reunião no escritório da OPAS, em Brasília.
Confira a reportagem:
Munidos de uma tecnologia
inovadora de sequenciamento genético que cabe na palma da mão, o grupo,
composto por pesquisadores nacionais e internacionais, percorreu mais de 12 mil
quilômetros entre os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e
Distrito Federal. Em parceria com a Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde
Pública do Ministério da Saúde (CGLAB/SVS/MS) e com os Laboratórios Centrais de
Saúde Pública, os LACENs, dos quatro estados, a iniciativa teve acesso a cerca
de 360 amostras. Os números finais com todos os detalhes gerados a partir dos
sequenciamentos serão divulgados em breve em um artigo científico.
Com a decodificação dos
genomas será possível responder perguntas relevantes para o Sistema Único de
Saúde, como a origem dos vírus, data provável de entrada em território
nacional, rota e velocidade de expansão, além de calcular a possibilidade de
novos surtos. O processo também possibilita a reconstrução de árvores
filogenéticas – tipo de análise que agrupa no mesmo ramo os vírus que
compartilham um ancestral comum, contribuindo para explicar suas trajetórias e
evolução.
Para Luiz Alcântara,
pesquisador do Laboratório de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz
(IOC/Fiocruz) e líder da pesquisa, os benefícios do projeto terão impacto em
estudos realizados no Brasil e no exterior. “Esse recorde está fornecendo à
ciência uma rica matéria prima, que é o mapeamento, até o momento, desses três
vírus. Nenhum projeto conseguiu gerar em quinze dias todos esses genomas”,
frisou. Na mira da equipe também estava o vírus da febre amarela e outros menos
conhecidos, como mayaro, oropuche, encefalite de São Luis e febre do Oeste do
Nilo.
A partir da utilização da técnica conhecida como metagenômica, os especialistas também pretendem sequenciar amostras que foram negativas para os oito vírus priorizados na iniciativa. “Até o momento, já foram testadas 28 amostras por metagenômica. Das cinco que apresentaram resultados positivos para chikungunya, quatro já tiveram seus genomas completos gerados”, contou Marta Giovanetti, pesquisadora visitante do mesmo laboratório e integrante da equipe. Para a análise das amostras de pacientes – tanto as negativas quanto as positivas – foi considerada a semana epidemiológica com maior número de registro de casos nos últimos quatro anos.
O coordenador geral de
Laboratórios de Saúde Pública da Secretaria de Vigilancia e Saúde do Ministério
da Saúde, André Luiz de Abreu, ressaltou a importância do projeto. “Com a
incorporação da vigilância genômica para outras áreas da vigilância
laboratorial poderemos fornecer uma resposta de laboratório com muito mais
substância, com muito mais teor para as ações que a vigilância em saúde,
vigilância epidemiológica, imunização e entomologia precisam. Isso muda o
patamar da vigilância laboratorial”, enfatizou.
A iniciativa
O projeto contou com 13
especialistas, incluindo pesquisadores do IOC, Instituto Evandro Chagas (IEC),
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade de São Paulo (USP),
Universidade de Birmingham e Universidade de Oxford, ambas da Inglaterra,
Universidade de KwaZulu-Natal, da África do Sul, LACEN de Minas Gerais,
Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Manaus) e Hemocentro de Ribeirão
Preto.
O ZIBRA teve início em 2016,
após a decretação da emergência sanitária provocada pelo vírus Zika. Após
atuarem nas regiões Norte (Amazonas e Roraima), Nordeste (Rio Grande do Norte,
Paraíba, Alagoas, Pernambuco e Bahia) e Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro e
Minas Gerais), além das atividades no Paraguai e em Angola, os cientistas já
conseguiram realizar o sequenciamento completo de 203 genomas do vírus Zika,
260 de febre amarela, 154 de chikungunya e 129 de dengue.
0 comentários:
Postar um comentário