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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Pela primeira vez, drones são usados para estimar quantidade de botos da Amazônia

Tecnologia foi testada numa parceria entre o Instituto Mamirauá e o WWF-Brasil, com o objetivo de corrigir distorções e reduzir expedições. Para pesquisadores, falta de dados dificulta elaboração de estratégias de conservação.

Drone será usado no mesmo trajeto feito pelos pesquisadores, registrando o rio com a câmera. Imagens vão ajudar a calcular população de botos.

O Instituto Mamirauá e o WWF-Brasil fecharam uma parceria para testar e aprimorar a utilização de drones em pesquisas científicas, otimizando as expedições de campo. O projeto propõe a definição de um protocolo para estimar a população de botos amazônicos. O primeiro teste foi realizado em outubro no município de Tefé, Amazonas. 

Segundo a pesquisadora Miriam Marmontel, do Instituto Mamirauá, a proposta é testar uma metodologia que possibilite a coleta de dados por meio dos vídeos gravados pelos drones. O equipamento seria usado no mesmo trajeto feito pelos pesquisadores, registrando o rio com a câmera. A partir das imagens captadas, será feita a comparação com as informações coletadas pelos pesquisadores, permitindo a correção da estimativa. 

"O projeto-piloto foi realizado no lago Tefé durante dois dias e permitiu testar diferentes altitudes e velocidades de voo com o drone, assim como diferentes ângulos da câmera. Após a análise das imagens geradas, será possível definir os parâmetros mais adequados e desenvolver um algoritmo de identificação automática de botos", explica Miriam. 

De acordo com a pesquisadora, a metodologia atual envolve 10 pessoas posicionadas na proa de um barco que, com os olhos fixos na água, registram os animais avistados em um raio de 180 graus. Depois disso, o número de animais vistos passa por análises estatísticas para obtenção da densidade e abundância. 

"A premissa do método é que todos os animais presentes sejam contados, mas sabemos que existem erros, associados à capacidade do observador avistar o animal e à disponibilidade do animal. Se estiver mergulhando, por exemplo, não será avistado", disse. 
Especialista em conservação do programa Amazônia do WWF-Brasil, Marcelo Oliveira ressalta que a utilização de drones como auxílio em atividades de preservação não é novidade. Fora do Brasil, a tecnologia já foi utilizada em diversas pesquisas científicas. 

"O projeto já nasceu com a ideia de reunir instituições que tivessem interesse ou expertise na área. Há um ano, fizemos um workshop e começamos a discutir a proposta e, primeiro, entender o que estava sendo feito no Brasil. Observamos que era muito pouco, principalmente, por conta da legislação na época. A ideia principal desse projeto com os botos é como essa tecnologia pode trazer impacto de conservação? Então, será que, com uma metodologia mais barata, não ampliamos o conhecimento da distribuição dos animais na Amazônia?", pondera.

Estratégias 
A pesquisadora do Instituto Mamirauá destaca que a ausência de dados populacionais dificulta a elaboração de estratégias de conservação. Os dados de abundância populacional contribuem para o conhecimento do real status da espécie e para estudos de viabilidade populacional. Na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês), as duas espécies que ocorrem na região, o boto vermelho (Inia geoffrensis) e o tucuxi (Sotalia fluviatilis), atualmente, são considerados com "dados insuficientes", em decorrência da limitada quantidade de informações sobre suas populações, ecologia e taxas de mortalidade. O boto vermelho já foi classificado anteriormente como "vulnerável" à extinção e, em 2008, teve seu status modificado em razão da carência de dados sobre a espécie. 

"Mamíferos aquáticos amazônicos tendem a deslocar-se para diferentes ambientes de acordo com a variação do nível d´água, oferecendo desafios a seu monitoramento. Botos e ariranhas, por exemplo, seguem os peixes para dentro do igapó quando a água sobe, e o peixe-boi migra de uma área de várzea para lagos profundos de terra firme quando o nível do rio cai. O uso de drones representa uma forma de atacar este problema, possibilitando estudos de deslocamentos, uso e ocupação de habitat, e estimativas populacionais ao longo do ano", diz Miriam. 

Segundo os pesquisadores, após os testes, a tecnologia poderia ser utilizada em diferentes pesquisas e também com outras espécies de vertebrados amazônicos. "A ideia é tentar identificar gargalos, o que funciona bem ou não com esse modelo de drone. A gente já viu que funciona, mas tem limitações. Já começamos a imaginar cenários em que funciona muito bem. E, agora, vamos conversar com pessoas que já trabalham com isso. Já temos as perguntas para ir atrás de respostas", afirma o especialista da WWF. 

Marcelo reforça que o projeto inova em ser o primeiro a utilizar a tecnologia para monitoramento populacional de botos. "Primeira vez no mundo que é feito com mamíferos aquáticos em rios amazônicos. Já houve registro de comportamento de botos. Mas um censo, ou densidade populacional nunca foi feito."

A próxima etapa da expedição será no rio Juruá, entre 14 a 22 de novembro. 

Fonte: Instituto Mamirauá


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