Cerca de R$ 4 bilhões são desperdiçados apenas com a compra
de materiais inadequados no setor da saúde - Foto: Divulgação/Static
O Sistema Único de Saúde (SUS)
tem gastos pesados na aquisição de medicamentos e equipamentos. Uma estimativa
do governo federal apontou que cerca de R$ 4 bilhões são desperdiçados apenas
com a compra de materiais inadequados, por falta de institutos de pesquisa que
façam as certificações adequadas e o controle. Nesse ritmo, em dois anos, o
Brasil poderá se tornar o quinto país com maior gasto em medicamentos no mundo,
atrás apenas dos Estados Unidos, China, Japão e Alemanha.
O alerta é do coordenador do
Instituto de Tecnologia e Informação em Saúde (ITS) do Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (Senai Cimatec), Roberto Badaró. Ele apresentou os
dados nesta terça-feira (4), na Câmara dos Deputados, durante a comissão
especial que discute o processo de inovação e incorporação tecnológica na área
da saúde. O especialista afirma que há uma necessidade emergencial do Brasil
produzir tecnologias para desenvolver seus próprios medicamentos, caso
contrário, terá ainda mais despesas no setor.
“Nós importamos quase 100% de
tudo que consumimos na saúde. De medicamento a equipamentos e insumos. A
proposta é fazer tudo isso dentro do país, com nossa tecnologia, para ter
competitividade e abaixar os preços”, comentou. “Doenças oncológicas, diabetes
e crônicas, de maior ênfase em idosos, tem um custo medicamentoso bilionário”,
destacou o coordenador, lembrando que há um aumento do número de idosos no
Brasil que acarreta em mais gastos.
A estratégia apresentada por
Badaró para estimular a produção tecnológica brasileira em medicamentos inclui:
integrar competências científicas na área de bioengenharia e medicina;
estabelecer parcerias entre institutos, universidades e centros de pesquisa; e
desenvolver serviços tecnológicos estratégicos de controle de materiais
biológicos e medicamentos.
Uma das iniciativas para
fomentar essa estratégia, segundo Badaró, tem sido implementada pelo ITS em
parceria com pesquisadores dos Estados Unidos, na aplicação da nanotecnologia.
O objetivo é embarcar proteínas e substâncias específicas que vão atuar
diretamente na célula cancerígena, fazendo com que os efeitos adversos dos
medicamentos sejam menores. “Esses produtos, em um ou dois anos, já podem ser transferidos.
É uma aceleração da transferência de tecnologia para o Brasil”, comentou.
Para a coordenadora da Rede
Brasileira de Avaliação de Tecnologias em Saúde (Rebrats), Luciana Leão, a
dependência que o país tem de tecnologias importadas deixa o Brasil com um
grave problema de desabastecimento no setor. “Se um indústria dessas decide
parar de fazer o abastecimento que nós compramos, o Brasil entra em uma crise
incrível na área de saúde, porque às vezes não tem outro fornecedor. Por isso o
incentivo ao Complexo Industrial da Saúde é estratégico, não só para a saúde,
como para a economia do país.”
Esforço
O estímulo ao Complexo
Industrial da Saúde e aos institutos de pesquisa que desenvolvem as tecnologias
nacionais depende, majoritariamente, de investimentos, como pontuou o
coordenador do Senai Cimatec. “O grande esforço que o país tem que fazer é
investir na incorporação de tecnologia. Mas qual a garantia de financiamento
que há hoje para institutos de pesquisa aplicada e transferência de tecnologia?”,
questionou Roberto Badaró, em alusão aos cortes sucessivos feitos pelo governo
na ciência, tecnologia e inovação (CT&I).
Segundo o deputado Jorge Solla
(PT-BA), responsável pelo requerimento para discutir o tema na comissão
especial, um relatório será elaborado pelo colegiado de modo a sinalizar a
prioridade orçamentária para o setor. O objetivo é viabilizar alguma parcela
dos recursos federais para pesquisas e novas tecnologias do país que atuam na
área da saúde.
(Leandro Cipriano, da AgênciaABIPTI)
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