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segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Adequação das margens pode levar o Ministério da Saúde a rever os critérios para o aqui tem Farmácia Popular

Para reduzir gastos, é necessário rever distribuição de remédio
Plano é mudar atual modelo de pagamento à rede particular credenciada no Farmácia Popular

Para setor farmacêutico, as medidas colocam em xeque o programa; já o governo admite retomar entrega pela rede do SUS.

Um dos mais conhecidos programas do Ministério da Saúde, o Farmácia Popular, iniciativa que oferta medicamentos gratuitos ou com até 90% de desconto, deve passar por mudanças. Para o setor farmacêutico, as medidas o colocam em risco.

Após fechar cerca de 400 farmácias da rede própria que mantinha no programa, o governo quer agora mudar o modelo de pagamento para farmácias particulares credenciadas. Hoje, há cerca de 30 mil estabelecimentos que ofertam os medicamentos no Aqui Tem Farmácia Popular, nome dado ao eixo do programa na rede particular.

Para o ministro Ricardo Barros (Saúde), o objetivo é reduzir gastos, tidos como mais altos do que na compra centralizada de remédios no SUS.

Representantes do setor e sanitaristas, porém, dizem que as novas propostas colocam o programa em xeque.

Hoje, farmácias recebem um reembolso do governo a cada produto dispensado, com base em uma tabela de valores de referência pré definidos para cada um deles.

O governo quer renegociar esses valores. De acordo o ministro, a ideia é propor um novo cálculo, definido por um preço base no atacado e 40% de margem para compensar os custos de aquisição e distribuição dos produtos.

Hoje, não há uma margem padrão, o que leva à diferença de valores, justifica.
"Vamos atualizar os preços para esse momento de mercado", disse à Folha.
"Se fizemos essa margem, economizaremos R$ 600 milhões ao ano." O programa, criado em 2004 no governo Lula, custa R$ 2,7 bilhões.

Há ainda um modelo alternativo em estudo, semelhante ao aplicado nas lotéricas.
Neste caso, as farmácias receberíam um valor fixo pelo procedimento de entrega do medicamento, não importa qual deles entregou. Neste caso, os medicamentos seriam do Ministério da Saúde.

As mudanças, porém, dependem de negociação com o setor. Segundo Sérgio Barreto, da Abrafarma, associação que reúne as redes de farmácias, os preços sugeridos na proposta, e que preveem redução de até 60%, não compensam os custos.

"Estão partindo de uma base que não está correta. Não consigo receber menos do que paguei para a indústria."

Para ele, a medida pode inviabilizar o programa.

Posição semelhante tem representantes da indústria. "Nos parece perigoso que um dos poucos êxitos seja ameaçado", diz Antônio Britto, da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa.

O Ministério cita exemplo da insulina, que custa R$ 10 o frasco no SUS e R$ 26 no Farmácia Popular. Para Britto, não é possível comparar os valores, por serem situações e volumes diferentes.

SÓ NO SUS
À Folha o ministro afirma que, caso não haja um acordo, a pasta pode voltar a distribuir todos os medicamentos da lista apenas no SUS. "Se não quiserem fazer nessa margem que estamos propondo, vamos centralizar a compra e fazer [a entrega] na nossa rede, que já está paga."

Neste caso, diz, os valores pagos ao programa seriam direcionados a complementar as verbas de assistência farmacêutica, assim como ocorreu no fechamento das unidades próprias. Questionado se isso não indicaria o fim do programa, ele minimiza.

"Tem 1.500 municípios do Brasil que não têm Farmácia Popular nem rede própria nem conveniada. E nem por isso deixam de receber os medicamentos", diz ele, que nega prejuízos à população no acesso a remédios. "O que afeta o acesso é pagar caro por algum medicamento."

Arthur Chioro, ministro da Saúde na gestão Dilma Rousseff, tem visão oposta. "Observamos em relação ao Farmácia Popular a desmontagem do programa." Ele diz que o programa foi criado para aumentar acesso a medicamentos para doenças comuns e reduzir custos com internação.

Com base no artigo da Natalia Cancan da Folha


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