Plano é utilizar o complexo
fabril também para saúde humana no futuro
Fernando Castro Marques,
presidente: “Estamos entusiasmados com a oportunidade que essa aquisição vai
nos proporcionar”
A União Química, um dos
maiores laboratórios farmacêuticos do país, chegou a um acordo no início desta
semana para compra de uma fábrica de biotecnologia da Elanco, divisão de saúde
animal da americana Eli Lilly, nos Estados Unidos. O valor do negócio, que deve
ser concluído em 1º de outubro, não foi revelado. Em 2008, a Monsanto vendeu
esse complexo industrial para a Elanco por US$ 300 milhões.
Para o laboratório brasileiro,
que atua em saúde animal com a divisão Agener, a aquisição representa o
primeiro passo de internacionalização de suas operações fabris, hoje
distribuídas em cinco unidades em Embu-Guaçu (SP), Pouso Alegre (MG), Taboão da
Serra (SP) e Brasília (DF).
Além disso, é estratégica
também para os negócios de saúde humana. Uma área de expansão do complexo
fabril americano, que recebeu investimentos de US$ 100 milhões nos últimos anos
e nunca foi utilizada, deverá ser usada no futuro para produtos de saúde
humana. Nesse mercado, a União Química concentra seus negócios nas linhas de
oftalmologia, sistema nervoso central e dor, medicamentos isentos de prescrição
(OTC, na sigla em inglês) e genéricos, além de medicamentos de prescrição e
hospitalar.
A Agener representa hoje cerca
de 20% dos negócios da União Química, que no ano passado teve receita líquida
consolidada de R$ 1,12 bilhão e usará recursos próprios na aquisição. Nos
últimos oito anos, as receitas do grupo cresceram 20% ao ano e possibilitaram
uma série de aquisições, que foram financiadas com caixa próprio e algumas
operações de mercado.
O perfil financeiro da
farmacêutica, porém, segue conservador e a alavancagem medida pela relação
entre dívida líquida e resultado antes de juros, impostos, depreciação e
amortização (Ebitda) está em apenas 1,6 vez — compromissos assumidos em
contratos de dívida estabelecem teto de 2,5 vezes. “Estamos entusiasmados com a
oportunidade que essa aquisição nos proporcionará”, diz o fundador e presidente
da farmacêutica, Fernando de Castro Marques.
A área de saúde humana deve
seguir como principal negócio do grupo, na esteira de elevadas taxas de
crescimento das vendas e da possibilidade de novas aquisições. Neste momento,
por exemplo, o grupo detém exclusividade nas tratativas para compra de ativo
nessa área, no Brasil, de acordo com o diretor científico, Miguel Giudicissi
Filho. Um potencial acordo pode ser anunciado nos próximos meses.
A fábrica de Augusta, na
Geórgia, é a única da Elanco no mundo para produção de um suplemento hormonal
injetável, desenvolvido para aumentar a produção do gado leiteiro (BST, ou
somatotropina bovina recombinante), comercializado globalmente sob as marcas
Lactotropin e Posilac. O uso do BST é proibido na União Europeia e no Canadá e,
diante da queda nas vendas nos Estados Unidos nos últimos anos, a Elanco
colocou o complexo fabril à venda em setembro. A fábrica tem capacidade
instalada para mais de 50 milhões de seringas/ano, em condições de atender a
100% do mercado global do produto. Há só um concorrente nesse segmento, da MSD
Saúde Animal.
Inicialmente, conta
Giudicissi, a intenção da União Química era comprar os equipamentos do complexo
fabril e trazê-los para o Brasil — a Elanco colocou à venda fábrica e produtos
em processos separados. Após visita à unidade, que está instalada em uma área
de 111 mil metros quadrados, o laboratório brasileiro decidiu estender sua
oferta a ativo fixo e produtos.
Para a transação, a
farmacêutica brasileira constituiu uma nova empresa nos Estados Unidos, a Union
Agener. O contrato de compra e venda foi assinado às vésperas do anúncio da Eli
Lilly, na terça-feira, de que venderá uma fatia minoritária na Elanco em bolsa,
por meio de oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) de ações da
divisão de saúde animal. A conclusão da transação está sujeita às aprovações de
órgãos reguladores.
O grupo brasileiro vem
acelerando a compra de ativos: foram quatro desde 2012, incluindo o complexo da
Elanco. Antes, em março do ano passado, comprou a fábrica da Zoetis, antiga
Pfizer Saúde Animal, em Guarulhos (SP). Essa unidade foi avaliada em mais de R$
500 milhões por fontes de mercado.
No fim da semana passada, a
União Química concluiu a captação de R$ 200 milhões em debêntures, com
vencimento em 2023. De acordo com o diretor financeiro do laboratório, Sergio
Eduardo Freire, a operação, que teve como investidores os bancos Bradesco e
Santander, não tem relação com a compra nos Estados Unidos.
As duas instituições
financeiras, explicou, subscreveram debêntures emitidas pela União Química em
2015, como parte do financiamento para compra da Anovis, fábrica de
medicamentos da Novartis em Taboão da Serra (SP). Agora, essa dívida foi
repactuada.
Valor Econômico 27 Jul
2018Stella Fontes
LEONARDO RODRIGUES / VALOR
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