Pesquisadores
da Unifesp constataram que molécula isolada do tamboril é capaz de inibir a
migração e metástase desse tumor agressivo, além do gástrico e o de pele;
estudo foi apresentado na FAPESP Week Belgium (foto: Steve Hurst/USDA-NRCS
PLANTS Database/Wikimedia Commons)
Elton Alisson, de Bruxelas
(Bélgica) | Agência FAPESP – Um dos tumores mais agressivos e
para o qual houve menos avanços no desenvolvimento de terapias nos últimos
anos, o câncer de mama triplo-negativo ainda não conta com um tratamento
específico e um agente que consiga combatê-lo.
Uma proteína extraída de sementes de árvores da espécie Enterolobium contortisiliquum – conhecida
popularmente como tamboril ou orelha-de-macaco – pode ser a esperança para o
tratamento dessa doença, no futuro.
Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
constataram durante um estudo, apoiado
pela FAPESP, que a proteína é capaz de inibir a migração
e a metástase de câncer de mama triplo-negativo e de outros tipos de tumor,
como o gástrico e o de pele (melanoma).
Os resultados foram apresentados por Maria Luiza Vilela Oliva,
professora da Unifesp e coordenadora da pesquisa, em palestra na FAPESP Week Belgium. O
encontro, que está sendo realizado em Bruxela, de 8 a 10 de outubro,
reúne pesquisadores brasileiros e belgas com o objetivo de estreitar parcerias
em pesquisa.
“Constatamos que a proteína inibe a invasão, a proliferação e a
metástase de tumor de mama triplo-negativo em testes in vitro [em células] e, no caso do melanoma,
tanto em modelo in vitro como in vivo [em animais]”, disse Oliva à Agência FAPESP.
Denominada Enterolobium contortisiloquum inibidor
de tripsina (EcTI, na sigla em inglês), a proteína foi isolada por Oliva
durante seu doutorado, no final da década de 1980.
A partir
daquela época a pesquisadora começou a tentar isolar de sementes de leguminosas
da flora brasileira outras moléculas inibidoras de proteases – enzimas capazes
de quebrar as ligações peptídicas de outras proteínas.
Essas enzimas
estão envolvidas em diversos processos biológicos, como inflamação, hemostasia
(prevenção e interrupção de sangramentos e hemorragias), trombose e
desenvolvimento tumoral, além de outros processos que envolvem microrganismos
patológicos, explicou Oliva.
“Temos
estudado os efeitos fisiopatológicos dessas proteínas isoladas de leguminosas
em alguns tipos de câncer na tentativa de descobrir novos agentes que possam,
se não curar, ao menos ajudar a entender a patologia dessas doenças”, afirmou.
Além de
isolar, os pesquisadores têm conseguido determinar a estrutura dessas
proteínas, modelá-las e obter peptídeos sintéticos a partir delas.
As análises dessas moléculas em diferentes modelos
fisiopatológicos, como de inflamação, trombose e tumor, tanto in vivo como in vitro, indicaram
que, além de antitumoral, elas apresentam propriedades anti-inflamatória,
antimicrobiana e antitrombótica.
“O tumor, a
inflamação e a trombose são patologias que estão de certa forma interligadas,
porque às vezes o paciente com câncer pode morrer não por causa da doença, em
si, mas em decorrência de um quimioterápico que pode levar ao desenvolvimento
de uma trombose”, avaliou.
Além de ter
ação antitumoral, a proteína EcTI, que foi patenteada, também demonstrou ser
capaz de inibir a trombose arterial e a venosa, afirmou a pesquisadora.
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