Um dia após encontro de parte
dos representantes da indústria nacional com Jair Bolsonaro, no qual
oficializaram apoio ao candidato do PSL, entidades do setor pedem mudanças em
alguns dos principais pontos da agenda do presidenciável. Os pontos de
insatisfação do empresariado incluem o modelo proposto de abertura unilateral
do país às exportações, além dos planos de fusão do Ministério da Indústria,
Comércio Exterior e Serviços (Mdic)com a Fazenda. Eles defendem ainda a
manutenção de benefícios fiscais.
Bolsonaro tem afirmado que
quer acordos comerciais com países ricos e defende em seu programa de governo
que estimulará a economia reduzindo alíquotas de importação e barreiras não
tarifárias, além de promovera aberturai mediata para entrada de equipamentos
necessários à migração das fábricas para a chamada Indústria 4.0. Executivos
argumentam que esse ti pode mudança deve ser acompanhado por alterações na
estrutura tributária.
Para algumas das principais
entidades da indústria nacional, porém, qualquer mudança precisa ser feita de
forma gradativa, responsável e de modo a compensar eventuais mudanças em
alíquotas com negociações favoráveis à indústria nacional.
— A abertura comercial precisa
ter acordos bilaterais. Tem que ser feita de forma responsável, negociada com
todos os parceiros e com base na realidade de cada setor — disse Fernando
Figueiredo, presidente da Abiquim, associação da indústria química.
Os industriais admitem que não
há como fugir dessa abertura, mas não abrem mão de vantagens.
—A abertura precisa ser
negociada, e não concedida unilateralmente. Não vamos conquistar mercados, ter
ganhos de exportação e competitividade, se não pedirmos nada em troca —disse o
presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e
Equipamentos( Abimaq),José Velloso Dias Cardoso.
PAUTA CORPORATIVISTA
Humberto Barbato, presidente
da Associação Brasileira da Indústria de Eletroeletrônicos (Abinee), destacou
que boa parte dos componentes usados pelo setor é importada e, por isso, o
índice de abertura do segmento, de 44%, é maior do que o da indústria em geral,
de 17% em média. Ele sugere que a abertura da economia seja feita de forma
gradual.
Outro ponto da agenda de
Bolsonaro que causa temor aos industriai sé a extinção do ministério que representa
o setor. Para eles, a fusão coma Fazenda, comovem sendo ventilado, reduziria a
interlocução da indústria.
— Exatamente num momento em
que o mundo vem discutindo a transição para a Indústria 4.0, a fusão do Mdic
com outro ministério não é interessante —disse Fernando Pimentel, presidente da
Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), que também
integrou a comitiva que visitou o candidato do PSL na segunda-feira.
Para José Márcio Camargo,
economista sócio da gestora de recursos Opus, parte da agenda do setor
industrial ainda reflete a tentativa de manter benefícios concedidos em outro
cenário:
— Parte da pauta dessas
associações é claramente corporativista, uma tentativa de se proteger de
possíveis mudanças legislativas. Tudo o que é subsídio terá que ser
rediscutido. Quando você dá subsídio para um, tira de outro. Quanto à abertura
comercial, parte de laterá de ser unilateral, sem contrapartida de acesso a
mercados. O Brasil é um país muito fechado. Mas não pode mudar de uma hora para
outra, tem que ser algo planejado.
Paulo Feldmann, professor da
Faculdade de Economia da USP, avalia que a preocupação da indústria às vésperas
do segundo turno reflete uma campanha na qual não foram apresentadas propostas
concretas para o setor. Ele cita a questão do crédito para empresas como um dos
pontos cruciais do empresariado que passou ao largo dos debates centrais da
eleição.
—Não houve uma proposta de
política industrial nas campanhas, como acontece em outros países, onde se sabe
o que será oferecido a cada setor —diz, acrescentando ser a favor de um
ministério específico para a indústria, mas contra a manutenção de benefícios
fiscais, diante da gravidade da situação das contas públicas.
Os representantes da indústria
defendem a ressurreição do Regime Especial de Reintegração de Valores
Tributários para as Empresas Exportadoras, o Reintegra. O governo do presidente
Michel Temer praticamente acabou com o programa de incentivo fiscal para os
exportadores ao reduzir a alíquota do regime de 2% para 0,1%, um dos caminhos
para atender ao pleito dos caminhoneiros, durante a greve de maio, e subsidiar
o diesel.
— O Reintegra é importante
para o Brasil conquistar o mercado internacional. O candidato disse que é
preciso observar o equilíbrio fiscal das contas do governo, mas prometeu
estudar o assunto —afirmou Figueiredo, da Abiquim.
MAIS OBRA, MENOS IMPOSTO
Alista de reivindicações,
porém, é ainda mais extensa e contempla aspectos específicos de cada setor. Na
construção civil, o pedido é que o presidente eleito retome obras públicas
paradas, dê andamento ao Programa de Parcerias Público-Privadas (PPPs) e às
concessões, que podem atrair capital estrangeiro.
— Também é preciso acelerar o
programa Minha Casa Minha Vida, que funciona com recursos do FGTS — disse José
Romeu Ferraz, vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção
(CBIC) e presidente do Sinduscon/SP.
No setor têxtil, as demandas
incluem redução da carga tributária, condições para melhorara competitividade,
incentivo à inovação e redução da burocracia. O Sindusfarma, que representa as
indústrias farmacêuticas, enviou dez propostas aos dois candidatos, como a
redução ou eliminação de impostos incidentes sobre medicamentos.
Apesar da pauta extensa de
pedidos, a indústria não teve diálogo semelhante como adversário de Bolsonaro,
o candidato do PT, Fernando Haddad.
( O Globo ), Jornalista: João
Sorima Netto
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