Sob a gestão da presidente
Dilma Rousseff (PT), negociações foram sigilosas para evitar reações da classe
médica
Telegramas da embaixada
brasileira em Cuba reconstituem a negociação com o Brasil para a criação do
Mais Médicos. Classificados como reservados e mantidos em sigilo por cinco
anos, eles mudam parte da história oficial contada aos brasileiros. É o que
informa reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo desta terça-feira
(20/11).
Segundo a matéria, os
telegramas mostram, por exemplo, que o programa foi proposto por Cuba e já era
negociado um ano antes de a então presidente Dilma Rousseff (PT) apresentá-lo
como resposta às ruas em 2013.
“As negociações foram
sigilosas para evitar reações da classe médica. Foi nesses encontros que Cuba
fez as exigências criticadas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro e cuja
possibilidade de reversão fez com que Cuba anunciasse a saída do programa“, diz
o texto.
“Para não precisar de aval do
Congresso, o Brasil decidiu na última hora triangular o negócio: o país paga à
Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), que contrata Cuba, que contrata os
médicos. Na prática, quando médicos cubanos processam o Brasil, o governo
responde que não tem relação com eles”, revela a reportagem.
A Folha ressalta que em
outubro de 2011, Cuba criou sociedades anônimas, empresas privadas ligadas ao
governo. Uma é a Comercializadora de Servicios Médicos Cubanos (SMC), que
exporta mão de obra e insumos médicos. Serviços médicos são um dos principais
itens da pauta de comércio exterior cubana, com acordos em 60 países.
Preços vantajosos Cinco meses
depois, em março de 2012, ainda de acordo com o jornal, uma delegação da SMC
prospectou o mercado brasileiro. Visitaram Amapá, Bahia, Paraíba e Distrito
Federal. Em 20 de abril, Tomás Reynoso, vice-presidente da SMC, ofereceu à
embaixada brasileira “desde o envio de médicos e enfermeiras até a assessoria
para construção de hospitais e para elaboração de sistemas de saúde”, a “preços
vantajosos”, conforme anotou Alexandre Ghisleni, então encarregado de negócios
do Brasil em Havana.
“Em seguida, a vice-ministra
de saúde cubana, Marcia Cobas, veio ao Brasil. Em reunião em maio no Ministério
do Desenvolvimento, ofereceu mil médicos ainda em 2012 e mostrou ter feito a
lição de casa”, coloca a matéria.
A Folha afirma que Márcia
Cobas citou vagas ociosas para médicos na Amazônia, “com salário inicial de R$
14 mil”, por falta de interesse de brasileiros. Lembrou da cooperação no
governo FHC e disse que só faria nova parceria se o Brasil impedisse os médicos
de ficarem ao final, como houve com 400 profissionais da ilha nos anos 90.
Projeto no modo reservado A
reportagem revela, ainda, que, em junho de 2012, o Ministério da Saúde
preparava visita a Havana para tratar do tema. Para a embaixada, o projeto foi
“iniciado de modo reservado, em vista da preocupação com a repercussão da
entrada dos médicos junto à comunidade médica brasileira”.
“A delegação foi chefiada pelo
secretário Mozart Sales, do Ministério da Saúde. Também participava da comitiva
Alberto Kleiman, então assessor internacional da pasta. Hoje, Kleiman é diretor
de relações internacionais e parcerias da Opas”, diz a Folha.
“Os documentos mostram que a
delegação brasileira aceitou todas as exigências de Cuba, mas esbarrou na
negociação de valores. Brasil e Cuba só concordaram no valor que cada médico
receberia, com as referências em dólar”, encerra.
Jornalista: Da Redação
Fonte: Metrópoles
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