A
Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA) publicou nota afirmando
que recebe com cautela o resultado do Boletim Epidemiológico – HIV Aids 2018,
divulgado nesta terça-feira (27) pela Secretaria de Vigilância e Saúde do
Ministério da Saúde. A ABIA avalia como positiva as ações que resultaram no
registro de queda no número de casos e óbitos por aids no país.
Em
razão do atual contexto conservador – e de retrocessos políticos, econômicos e
culturais, a instituição afirma que investir na maior oferta de testagem e na
incorporação do dolutegravir, entre outras medidas, são ações e políticas
positivas capazes de influenciar na diminuição da taxa de mortalidade.
A
ABIA afirma que reconhece que o novo boletim epidemiológico constata bons resultados,
mas chama a atenção para o fato que os números de detecção de HIV e mortalidade
por aids continuam altos – mais de 700 mil pessoas foram diagnosticadas com HIV
de 2000 a junho de 2018 e ocorreram 4,8 óbitos para cada 100 mil habitantes no
mesmo período.
“Para
nós, da ABIA, os números não se bastam por si mesmos. É preciso entender de que
forma dialogam com as experiências vividas pelas populações mais vulneráveis.
Onde está refletido, por exemplo, o sofrimento das pessoas que precisam esperar
mais de um mês para serem vinculadas ao sistema de saúde pública?”, diz o
documento.
Além
disso, as regiões brasileiras continuam sendo afetadas pelo HIV e aids de forma
diferenciada. A cidade de Porto Alegre é campeã na taxa de detecção de HIV em
gestantes (7,6 vezes maior que a taxa nacional) e exibe mais que o dobro deste
índice comparado a outras cidades do Rio Grande do Sul.
A
ABIA lamenta que as populações mais vulneráveis permaneçam na linha de frente
da epidemia. A maior concentração de casos continua sendo nos jovens gays e
pessoas trans –sem qualquer evidência de avanços para estas populações, o
que representa um fracasso grave para a resposta brasileira face à epidemia nos
grupos mais vulneráveis.
“É
também inaceitável que a população negra tenha tido um crescimento alarmante,
com destaque para o ano 2017, quando houve um aumento de 57,3% de casos de aids
entre homens negros e 61,1% entre mulheres negras. Estes dados confirmam as
denúncias que a ABIA e outras instituições têm feito nos últimos anos: o avanço
do conservadorismo responsável pelo aumento da marginalização por raça, classe
e pela opressão sexual e de gênero em nosso país.”
A
ABIA afirma que vai continuar pressionando por respostas as seguintes
perguntas:
1.
Como fazer para que a taxa de mortalidade caia ainda mais num contexto em que
há o avanço de políticas que separam quem vai viver ou quem vai ter acesso aos
bens e aos direitos?
2.
Como estes números podem melhorar num contexto de congelamento dos gastos
públicos no campo da saúde nos próximos 20 anos?
3.
Que políticas serão adotadas em diferentes regiões para evitar que populações
deixem de correr o risco de desaparecer na pobreza, na miséria e nas doenças
que sequer são diagnosticadas, entre elas o HIV?
Fonte:agenciaaids.com.br
0 comentários:
Postar um comentário