Mesmo diante de um cenário
múltiplo e repleto de complexidades, os mosquitos com a bactéria Wolbachia
apresentaram eficácia no combate às arboviroses. Um norteador para elaborar
estratégias de combate ao Aedes aegypti. Isso é o que aponta a revista
científica The Lancet - Infectious Diseases, em um artigo conduzido por pesquisadores da Universidade de
Cambridge, em parceria com o World Mosquito Program (WMP/Brasil). A
iniciativa é conduzida no Brasil pela Fiocruz.
O estudo revela que o
estabelecimento estável de Wolbachia no ambiente geograficamente diversificado
do Rio de Janeiro parece ser mais complexo do que tem sido observado em outros
locais. No entanto, mesmo os níveis intermediários de Wolbachia (cepa wMel) já
podem reduzir a incidência de dengue e chikungunya.
As atividades do programa de
liberações de mosquitos com Wolbachia no Rio de Janeiro, foram expandidas em
agosto de 2017 em decorrência da epidemia de zika. As liberações, abrangendo
uma área total de 86,8 km2 com cerca de 890 mil habitantes, foram faseadas em
cinco zonas. Até dezembro de 2019, 29 meses após o início das liberações, a
Wolbachia apresentou prevalência entre 27% e 60%. Um efeito protetor para a
população foi observado mesmo em áreas em que a prevalência da Wolbachia foi
mais baixa (10%), já para locais em que a prevalência de wMel foi superior a
60%, a proteção foi de 76%, o que é comparável aos resultados publicados
anteriormente (utilizando métodos diferentes) do município vizinho de Niterói e
da Indonésia.
“O estabelecimento da cepa
wMel em comunidades urbanas complexas como o Rio de Janeiro é um grande
desafio. E compreender porque a introgressão do wMel em populações de Aedes
aegypti é mais rápida e homogênea em alguns locais do que em outros são conclusões
que ajudarão a orientar futuros programas de liberações de mosquitos com
Wolbachia”, afirma Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz e líder do WMP
Brasil.
Os resultados fornecem mais
provas de que a Wolbachia pode reduzir consideravelmente o impacto das
arboviroses para a saúde pública do Brasil e de outros países.
Eficácia
No ano de 2021, dados que
mostraram a eficácia da proteção garantida pela Wolbachia foram divulgados pelo
WMP/Brasil, conduzido no Brasil pela Fiocruz. Os números apontam a redução de
cerca de 70% dos casos de dengue, 60% de chikungunya e 40% de zika nas áreas
onde houve a intervenção entomológica.
“Esses números estão
publicados em artigo científico e corroboram os dados do WMP em outros países,
como na Indonésia, onde houve redução de 77% dos casos e 86% das
hospitalizações”, destacou Luciano Moreira.
Wolbachia
A Wolbachia é um
micro-organismo intracelular presente em 60% dos insetos da natureza, mas que
não estava presente no Aedes aegypti. Foi introduzida por pesquisadores do
WMP, iniciativa global sem fins-lucrativos que trabalha para proteger a comunidade
global das doenças transmitidas por mosquitos. Este método consiste na
liberação de Aedes com Wolbachia para que se reproduzam com os Aedes aegypti
locais e seja estabelecida uma população destes mosquitos, todos com o
micro-organismo.
Quando presente no Aedes
aegypti, a Wolbachia impede que os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre
amarela se desenvolvam no inseto, contribuindo para a redução destas doenças.
Não existe modificação genética neste processo.
Iniciativa internacional
O WMP é uma iniciativa
internacional sem fins lucrativos que trabalha para proteger a comunidade
global das doenças transmitidas por mosquitos. Opera atualmente em 12 países:
Austrália, Brasil, Colômbia, México, Indonésia, Laos, Sri Lanka, Vietnã,
Kiribati, Fiji, Vanuatu e Nova Caledônia.
No Brasil, o Método Wolbachia é conduzido pela Fiocruz, com financiamento do Ministério da Saúde (MS), em parceria com os governos locais. Atualmente, a atuação é realizada no país no Rio de Janeiro (RJ), Niterói (RJ), Campo Grande (MS), Belo Horizonte (MG) e Petrolina (PE).
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