Na
medicina devotamos nossas vidas a investigar doenças e propor tratamentos
adequados ao paciente. Sabemos também que o diagnóstico precoce permite a
prevenção de danos maiores, com tratamentos mais assertivos e menos agressivos.
Temos um paciente muito importante para a sociedade que demonstra sinais de
adoecimento e que precisa de tratamento urgente: o setor de saúde brasileiro.
O desequilíbrio entre as
demandas de cada um dos atores da saúde, poder público, serviços privados,
planos de saúde, fontes pagadoras e o paciente, aliado à alta inflação do
setor, tem gerado considerável desafio à sustentabilidade do sistema. Este
cenário decorre da alta expectativa de vida e da falta ou da má qualidade da
informação que chega para a população.
Gestões pouco efetivas, com
alocação inadequada de recursos, o baixo foco na performance e nos desfechos, e
a resistência às novas tecnologias são os principais causadores da doença na
saúde brasileira. O SUS, que garante atendimento integral e universal à
população, não impõe limites claros às suas áreas de atuação e empenho de
recursos, e enfrenta desafios tecnológicos e de agilidade de atendimento.
Do ponto de vista demográfico
e de hábitos de saúde, temos também um quadro que merece atenção. A população
idosa, que mais demanda investimentos em saúde, tem aumentado ao longo dos
anos. Mas apenas 10% dos idosos podem arcar com recursos próprios um plano de
saúde privado.
No setor público, o sistema
enfrenta descoordenação de informação e planejamento entre as diferentes esferas.
As tabelas praticadas são defasadas em relação às do setor privado, o que
dificulta o interesse no credenciamento de serviços de qualidade ao SUS e
inviabiliza a subsistência de estruturas dependentes desta fonte de recursos.
No privado, a discussão gira
em torno do modelo de pagamento por serviço, onde cada procedimento e atividade
adicional é cobrado e remunerado independentemente da sua efetividade ou
correta aplicação. Esse baixo foco no desfecho, aliado ao valor defasado, gera
incentivo perverso para que serviços desnecessários sejam realizados.
A discussão da
sustentabilidade tem convergido para modelos de remuneração que privilegiem
resultados com melhores indicadores, o pagamento por performance, ou o
pagamento em pacote fechado. Neste caso, a premissa é de que uma melhor atuação
no cuidado ao paciente gerará menor gasto global, maior eficiência de custos e
margens mais favoráveis.
Novas ferramentas tecnológicas
baseadas em Big Data e inteligência artificial podem ser muito úteis na medida
em que auxiliam na identificação de pacientes e grupos de risco, na
previsibilidade de sinistralidade e complicações, e na correta seleção de
evidência científica para a confecção de sistemas de suporte à decisão clínica.
Ainda no campo tecnológico, soluções como agendamento online, monitoramento
remoto de pacientes, e sobretudo a telemedicina, podem trazer muita eficiência
para o sistema.
Tenho a convicção de que a
melhora para o paciente Saúde do Brasil segue lógica semelhante à que usamos na
medicina. Qualquer desequilíbrio extremo entre nossos órgãos ou sistemas pode
causar danos graves. Logo, os diferentes agentes da saúde devem entender que a
sustentabilidade de todo o sistema depende essencialmente da sustentabilidade
na relação entre cada um de seus entes.
Por Romeu Côrtes Domingues, presidente do Conselho do Grupo Dasa e médico
radiologista
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