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domingo, 8 de julho de 2018

SEDE DA FIOCRUZ, CASTELO MOURISCO CHEGA AOS CEM ANOS


Monumento à ciência, castelo chega aos cem anos
Sede da Fiocruz, em Manguinhos, é cenário de descobertas que mudaram a medicina

Castelos costumam ser construídos para abrigar reis e rainhas. Outros representam declarações de amor, como o Taj Mahal, na índia. Mas apenas um teve seus cinco pavimentos erguidos e ricamente decorados em nome da paixão pela ciência: o Castelo Mourisco, sede e símbolo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Manguinhos, que está completando um século.

Idealizado pelo cientista Oswaldo Cruz, que desenhou os primeiros esboços, e projetado pelo arquiteto português Luiz Moraes Júnior, o castelo chega a seu centenário como o ícone do desenvolvimento da .ciência e da saúde pública no Brasil, com vocação para produzir conhecimento.

A sede do então Instituto Oswaldo Cruz começou a ser construída em 1905, na colina de uma fazenda de frente para a Baía de Guanabara, para substituir as antigas e improvisadas instalações do Instituto Soroterápico Federal, criado em 25 de maio de 1900. Em 1910, já tinha laboratórios instalados. Mas seu habitante mais ilustre não chegou a ver toda a decoração em estilo neomourisco finalizada. Em 1917, aos 44 anos, Oswaldo Cruz morreu, um ano antes do término da obra.

- Ele foi muito incompreendido. Enfrentou peste bubônica, febre amarela, varíola e a revolta da população, que era contra a obrigatoriedade da vacinação. Mas tinha consciência de que a instituição iria resistir ao tempo. O castelo é um grande símbolo da ciência brasileira. Uma construção sólida e monumental para resistir através dos tempos - diz Renato Gama-Rosa, arquiteto e pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz.

DE FRENTE PARA A BAÍA

Para erguer esse monumento, nenhum recurso foi poupado. Com exceção do granito e da madeira, todo o material usado na obra chegava do exterior e desembarcava num porto instalado de frente para o castelo. Com 50 metros de altura e 45 metros de largura, a construção está sobre uma base de granito negro. Visto de fora, predominam os tons sóbrios do avermelhado dos tijolos franceses das paredes externas e o cobre das duas torres. De perto, explode em cores.

- É um exemplar único da arquitetura eclética do início do século XX, inspirado do estilo neomourisco. E é único, não só pela sua grandiosidade, mas pelo esmero com que cada detalhe foi concebido - diz a presidente da Fiocruz, Nisia Trindade Lima.

A parceria de Oswaldo Cruz e Luiz Moraes está presente em cada detalhe. Nos pisos, mosaicos franceses simulam tapetes de inspiração árabe. Nas paredes, azulejos portugueses da tradicional fábrica Bordallo Pinheiro não sabem o que é monotonia. Os gradeamentos das janelas têm 18 desenhos geométricos diferentes.

A riqueza de detalhes de sua arquitetura, no entanto, está longe de ofuscar a estrela principal da edificação. Ali, as paredes são testemunhas de descobertas científicas que revolucionaram a medicina nos últimos cem anos. Viram Oswaldo Cruz, Adolpho Lutz, Carlos Chagas e outras tantas mentes brilhantes implantarem medidas que combateram a febre amarela, a peste bubônica e a varíola.

O estilo eclético que define o Castelo Mourisco teve três influências principais. A primeira foi o Palácio de Montsouris, em Paris, que Oswaldo Cruz conheceu quando estudou na França.

- Ali já estava marcada a presença da linguagem neomourisca - observa o arquiteto Renato Gama-Rosa.

A segunda influência veio do Castelo de Alhambra, em Granada, na Espanha. Na biblioteca particular de Oswaldo Cruz, há um livro sobre Alhambra, que mostra desenhos idênticos aos vistos no castelo da Fiocruz. Já as torres têm formatos parecidos com os da Sinagoga de Berlim. Em 1907, Oswaldo Cruz e Luiz Moraes estiveram na capital alemã, onde conheceram o templo, que também tem estilo neomourisco. Em 1908, eles concluíram o projeto, com as torres que não estavam previstas no desenho original.

Chefe do Laboratório de Fisiologia Bacteriana, o pesquisador Leon Rabinovitch, de 78 anos, está há 55 na Fiocruz. Na opinião dele, o castelo é o símbolo de uma instituição sólida.

- A ideia desse castelo como uma cópia fusionada de várias sugestões arquitetônicas permitiu gerar essa obra, que tem uma importância fantástica.

A helmintologista Delir Corrêa, hoje com 79 anos, conta que, quando começou a trabalhar na instituição, em 1961, chegava ao castelo de charrete.

- Esse lugar faz parte da minha vida. É um símbolo da ciência no Brasil e fora do país.

Reportagem do jornal O Globo



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