Prédio
com 68 mil metros quadrados e dois aceleradores foram inaugurados no campus do
CNPEM, em Campinas (imagem: Pesquisa FAPESP)
O Centro Nacional
de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP), concluiu a
primeira etapa do Sirius, a nova fonte brasileira de luz síncrotron. Serão
inaugurados nesta quarta-feira (14/11) o edifício de 68 mil metros quadrados de
área e 15 metros de altura em formato circular e dois dos três aceleradores de
elétrons que compõem o projeto.
A
previsão é que o primeiro feixe de elétrons comece a circular no anel de
armazenamento no primeiro semestre de 2019 e que as seis primeiras estações experimentais
– conhecidas como linhas de luz – estejam abertas a pesquisadores de todo o
Brasil até o fim daquele ano.
Concebido
no estado da arte da tecnologia, Sirius é um equipamento de quarta geração.
Entre as cerca de 50 fontes síncrotrons em operação em todo o mundo, o Sirius
se compara apenas ao MAX IV, inaugurado em junho de 2016 na Suécia.
Futuramente, ambos deverão ter a concorrência do European Synchrotron Radiation
(ESRF), na França, que planeja um upgrade para o seu síncrotron de terceira
geração.
“Sirius
permitirá a realização de pesquisa competitiva, impossível de ser realizada
hoje no Brasil com o síncrotron atual ou em vários dos países do mundo que têm
acesso a tecnologia semelhante”, disse Antonio José
Roque da Silva, diretor-geral do CNPEM e responsável pelo projeto
Sirius desde 2009, quando ocupava o cargo de diretor do Laboratório Nacional de
Luz Síncrotron (LNLS).
A
exemplo da atual fonte síncrotron em operação no LNLS, Sirius será um
laboratório nacional, aberto a usuários ligados às universidades, instituições
de pesquisa e a empresas. Tanto que as seis primeiras estações experimentais de
pesquisa do Sirius – nanoscopia de raios X, espalhamento coerente de raios X, micro
e nanocristalografia macromolecular, por exemplo –, acessíveis a partir do
próximo ano, foram selecionadas para atender tanto à demanda “da nova ciência e
da tecnologia avançadas” e às tecnologias mais utilizadas pelo usuário, como
para permitir o avanço de investigações em áreas estratégicas como óleo e gás,
saúde, entre outras, ressalta Roque da Silva.
A
luz, ou radiação, síncrotron é um tipo de radiação eletromagnética de alto
fluxo e alto brilho que se estende por uma faixa ampla do espectro eletromagnético
desde a luz infravermelha, passando pela radiação ultravioleta e chegando aos
raios X. Ela é produzida quando partículas carregadas, aceleradas a velocidades
próximas à velocidade da luz, têm sua trajetória desviada por campos
magnéticos.
A
luz síncrotron é capaz de penetrar a matéria e revelar características de sua
estrutura molecular e atômica. O amplo espectro dessa radiação permite aos
pesquisadores utilizar os comprimentos de onda mais adequados para o
experimento que desejam executar (leia mais em: www.lnls.cnpem.br/o-lnls/o-que-e-luz-sincrotron/).
Projeto estruturante
A
ideia de ter um síncrotron novo e mais competitivo começou a ser gestada em
2003, na 13ª Reunião Anual dos Usuários (RAU) do LNLS, seis anos depois da
inauguração da atual fonte síncrotron, de segunda geração, denominada UVX, em
1997, a primeira do hemisfério Sul.
Mas
o primeiro equipamento de segunda geração, o Synchrotron Radiation Source
(SRS), já operava no Reino Unido desde 1981. Essa defasagem tecnológica
demandou atenção constante na atualização dos equipamentos de pesquisa do UVX
para atender, anualmente, mais de mil usuários em suas 18 estações
experimentais.
Sirius
chegou a correr o risco de nascer defasado. Começou a ser projetado em 2008,
quando a então Associação Brasileira de Luz Síncrotron (ABTLus), gestora do
LNLS, obteve recursos do então Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) para a
realização de um estudo conceitual no novo equipamento.
O
projeto inicial era o de uma fonte de terceira geração. Mas em 2012, quando o
projeto foi submetido a um comitê científico internacional, a recomendação foi
que a nova máquina buscasse o nível de brilho que vigoraria no futuro.
“Era
a chance de sair na frente”, lembra Roque da Silva. Desafiada, a equipe do LNLS
redesenhou a rede magnética para que o brilho de Sirius – de 0,28 nm.rad –
fosse o mais intenso entre todos os síncrotrons em operação. Seis meses depois
o comitê aprovou o projeto.
O
desafio seguinte foi obter recursos para o Sirius, orçado em R$ 1,8 bilhão até
2020, tendo como principais interlocutores oito ministros de Ciência e
Tecnologia – e, posteriormente, também de Inovação e de Comunicações –, até o
projeto ser incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a partir
de 2016.
“Sirius
deu certo porque extrapola o projeto de ciência. Tem um pano de fundo
científico, mas é, principalmente, um projeto estruturante para o país. Vai
impactar, além da ciência, também as áreas de tecnologia, inovação e empresas;
contribuir com a formação de recursos humanos, e não apenas no Brasil, além de
abrir perspectivas para a forte internacionalização da ciência, tecnologia e
inovação nacionais”, disse Roque da Silva.
Leia
mais sobre o Sirius em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2018/07/13/salto-para-um-brilho-maior/ ehttp://revistapesquisa.fapesp.br/2018/07/13/a-corrida-pela-melhor-luz/ .
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