RicardoValverde (Agência Fiocruz de Notícias)
Diante de uma grave crise sanitária, que ceifa milhares de vidas em todo o planeta, a Fiocruz tem se mobilizado, em diversas frentes, para promover ações de enfrentamento e mitigação do problema. Sabendo que a pandemia do novo coronavírus atinge indistintamente a todos, mas cobra um preço ainda maior das populações periféricas, a Coordenação-Geral de Infraestrutura dos Campi (Cogic/Fiocruz) desenvolveu um aparato para condicionamento de ar em UTIs em crises de emergência. A invenção representa uma resposta simples e barata para um dos grandes desafios do SUS diante da Covid-19, sobretudo em regiões mais pobres do Brasil. Isso porque a alta taxa de infecção do vírus em ambientes hospitalares requer que as UTIs disponham de um sistema para tratamento de ar especial, visando reduzir o risco de infecção, exatamente o que faz o aparelho criado na Fiocruz. O aparato se tornou o primeiro registro de desenho industrial concedido pelo INPI à Fiocruz.
O engenheiro mecânico Bruno
Perazzo Pedroso Barbosa, que liderou o projeto que reuniu todos os
departamentos da Cogic, afirma que a atual crescente demanda por aparelhos do
gênero foi o grande motivador que levou ao desenvolvimento do projeto,
levando-se em consideração que regiões e estados mais pobres do país enfrentam
imensas dificuldades em adquirir esses aparatos. “Quisemos dar uma resposta
rápida e simples para uma questão difícil. Os aparelhos foram concebidos para
uma vida útil de até quatro meses e são rápida e facilmente instalados e
operados. É uma solução de emergência, não é evidentemente definitiva ou de
longa duração, mas que resolve um problema imediato em muitos municípios menos
favorecidos”, diz Perazzo. O aparelho fornece ar tratado compatível para cada
leito de UTI, ou para cada 15 m² de CTI, sendo feito a partir de componentes
básicos de fabricação nacional e produção em série.
Com o esforço de todos, o
aparelho foi montado em apenas dez dias. Em seguida foi instalado em uma sala
de testes. “A avaliação mostrou que o aparato teve um desempenho estável, rodando
dia e noite sem apresentar problemas. De lá para cá já são mais de 60 dias em
que continua funcionando. A vazão de ar filtrado caiu cerca de 13%, o que não é
muito e está dentro da margem de segurança projetada, significando que o
aparelho permanece atendendo ao que foi proposto. Isso nos assegura afirmar que
é uma boa e eficiente solução de emergência para este momento de pandemia”,
explica Perazzo, lembrando que o protótipo cumpre critérios de filtragem de
partículas de ar exigidos para UTI.
Segundo Perazzo, o objetivo
agora é viabilizar a produção do aparelho. “Estamos buscando parcerias na área
de engenharia que tornem possível o refinamento de alguns pontos da solução e a
fabricação em larga escala, podendo assim atender a demanda e salvar vidas”.
Entre os diferenciais estão a tecnologia produzida a partir de componentes
convencionais fabricados no Brasil, o que permite rápida montagem. Por sua
baixa complexidade, o aparelho não requer mão-de-obra altamente qualificada
para a instalação, apesar de seguir as normas da ABNT na quantidade e qualidade
do ar fornecido.
A partir do desenvolvimento do
aparelho, a Coordenação de Gestão Tecnológica (Gestec) da Fiocruz, que está
abrigada na Vice-Presidência de Produção e Inovação em Saúde (VPPIS), enviou a
Perazzo, um relatório de liberdade de operação, no qual foi apontado que nenhum
dos documentos patentes vigentes no Brasil colide com a tecnologia para fins de
exploração comercial; e um relatório de prospecção de mercados e produtos, em
que foram apontadas empresas-chave no Brasil e no mundo para o desenvolvimento
da tecnologia. No início de maio foi feita uma análise do projeto sob a
perspectiva de proteção por registro de desenho industrial. No mesmo mês, uma
reunião da nova Comissão de Patentes (Copat) da Fiocruz aprovou a solicitação
de registro de desenho industrial no INPI.
“Essa invenção tem tudo a ver com o cenário da Covid-19. O importante agora é atrairmos empresas interessadas em firmar essa parceria e assim garantirmos o fornecimento do aparelho ao SUS. Dez empresas já manifestaram interesse e estão em contato conosco”, afirma a coordenadora da Gestec, Carla Maia Einsiedler.
O protótipo desenvolvido por
Perazzo e equipe surge no momento em que, segundo Carla, a Copat, que existe
desde 2002, foi totalmente reformulada. “Agora temos um grupo multidisciplinar,
que mescla profissionais mais experientes, entre eles ex-presidentes da
Fundação, com pesquisadores mais jovens, de diversas áreas da instituição, que
sem dúvida contribuirão bastante com a gestão estratégica do portfólio de
patentes da Fiocruz. Além disso, a interação entre os especialistas ajudará na
formação dos mais jovens que fazem parte da Copat”.
A primeira reunião com esse
novo formato juntou 16 especialistas que discutiram outros três casos, além do
aparato da Cogic. Nesse novo formato de funcionamento da Copat há um grupo de
especialistas fixo e um grupo variável, que é convocado de acordo com a pauta
da reunião. A segunda reunião, também virtual, ocorreu em 9 de junho e a
terceira em 23 de junho. Nestes encontros, outras criações da Fiocruz
associadas ao tema coronavírus foram discutidas.
Segundo ela, a meta é fazer com que os inventores da Fiocruz percebam o Sistema Gestec-NIT e a Copat como apoiadores do desenvolvimento de seus projetos de pesquisa. “Precisamos dar a eles respostas rápidas e reforçar a importância de parcerias com universidades e empresas para superar os gargalos existentes no desenvolvimento. A Gestec é uma parceira que vai ajudar a transformar essas invenções em produtos e serviços para a saúde pública brasileira”.
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