JoséGadelha (Fiocruz Rondônia)
Dois importantes estudos do Laboratório de Imunologia Celular Aplicada à Saúde da Fiocruz Rondônia tiveram reconhecimento da comunidade científica internacional com publicações de resultados em revistas científicas especializadas. Os dois trabalhos têm em comum o interesse em investigar os mecanismos envolvidos na resposta imunológica aos processos inflamatórios provocados por envenenamento por serpentes.
Os dois trabalhos têm em comum o interesse em investigar os mecanismos envolvidos na resposta imunológica aos processos inflamatórios provocados por envenenamento por serpentes (foto: Carlos Carvalho, Fiocruz Rondônia)
Um dos estudos foi publicado no periódico Scientific Reports, pertencente ao grupo Nature, e baseou-se nos efeitos da enzima L-aminoácido oxidase (Cr-LAAO) em processos inflamatórios decorrentes de acidentes ofídicos. Pela primeira vez, foi mostrada a expressão gênica de vários mediadores pró-inflamatórios que são ativados mediante a ação dessa enzima. “Os efeitos da Cr-LAAO já vêm sendo estudados há bastante tempo, mas, de forma inédita, evidenciamos a participação de uma enzima intracelular importante em processos inflamatórios, complementando os estudos sobre a resposta do sistema imune frente ao envenenamento por serpentes”, explica Mauro Paloschi, pesquisador da Fiocruz Rondônia, autor da pesquisa e doutorando em Biologia Experimental pelo Programa de Pós-graduação em Biologia Experimental (PPGBIOEXP) da Universidade Federal de Rondônia (Unir).
O estudo também identificou
que a enzima Cr-LAAO atua na formação de corpúsculos lipídicos, que são
organelas recém-descobertas responsáveis por significativos eventos moleculares
durante a inflamação, inclusive para liberação de prostaglandina E2 (uma das
moléculas essenciais no processo de dor). As prostaglandinas estão envolvidas
em diferentes processos fisiológicos e patológicos, incluindo vasodilatação ou
vasoconstrição (contração ou relaxamento da musculatura), além de mediar a
resposta do sistema imunológico frente a um agente agressor.
Uma das principais funções das
prostaglandinas é a hiperalgesia, ou seja, uma sensibilidade à dor exacerbada,
porque elas aumentam a sensibilização de receptores da dor. “Quando a sua
produção é aumentada, ocorre maior sensibilidade à dor e à febre, além de
incrementar a resposta inflamatória, como acontece no envenenamento por serpentes,
portanto esse mecanismo que leva ao aumento da liberação de prostaglandinas é
uma chave para entender todo o complexo da resposta imune ao envenenamento”,
pontua o pesquisador, que teve o projeto aprovado em editais de financiamento
da Fundação Rondônia de Amparo ao Desenvolvimento das Ações Científicas e
Tecnológicas e à Pesquisa (Fapero/Capes/CNPq), nos anos de 2016 e 2019.
Em outro estudo, também
realizado pelo Laboratório de Imunologia Celular Aplicada à Saúde, e publicado no
periódico Toxins, buscou-se compreender como ocorre o
mecanismo de envenenamento no tecido muscular. Por meio da técnica de Western
Blot, foi possível chegar à detecção das proteínas formadoras do
inflamassoma, um complexo proteico existente no interior das células de defesa,
que atua diretamente na produção de moléculas pró-inflamatórias, em casos de
infecção por microorganismos e, também, nos envenenamentos ofídicos.
Além disso, a técnica
utilizada no estudo identificou a liberação de interleucina 1-Beta, uma
importante molécula resultante da ativação do complexo proteico. As imagens
processadas em microscopia intravital (imagens de animais ainda vivos) mostram
a presença de células imunológicas no local afetado pelo envenenamento e que
podem estar relacionadas com a ativação do inflamassoma.
Charles Nunes Boeno,
doutorando pelo PPGBIOEXP e autor da pesquisa, esclarece que “embora o estudo
tenha sido realizado com modelos experimentais de camundongos, pode-se dizer
que os dados obtidos com a pesquisa apresentam-se como um grande avanço na
investigação de processos inflamatórios observados no envenenamento por
serpentes”. O estudo foi realizado por meio de financiamento do Programa
Pró-Rondônia (Fapero/Capes).
Os dois trabalhos foram coordenados pela pesquisadora em Saúde Pública, Juliana Pavan Zuliani, chefe do Laboratório de Imunologia Celular Aplicada à Saúde. De acordo com a pesquisadora “os resultados apresentados, até agora, são extremamente relevantes para o entendimento dos efeitos provocados à saúde, em condições de envenenamento por serpentes, “uma vez que acidentes ofídicos afetam, anualmente, milhares de pessoas em todo o mundo, e estão inseridos dentro do quadro de doenças negligenciadas da Organização Mundial da Saúde (OMS)”.
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