Eventos climáticos extremos atingem o mar Adriático em Ražanac, na Croácia. Foto: OMM/Aleksandar Gospić
Enquanto a pandemia da
COVID-19 ameaça vidas e perturba economias em todo o mundo, um novo relatório
alerta para a possibilidade de
surgimento de novos surtos de doenças zoonóticas caso os países não
tomem medidas para impedir sua disseminação. O estudo faz dez recomendações
para evitar futuras pandemias.
O relatório “Prevenir
a Próxima Pandemia: Doenças Zoonóticas e Como Quebrar a Cadeia de Transmissão”
é um esforço conjunto do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA) e do Instituto Internacional de Pesquisa Pecuária (ILRI).
Ele identifica sete tendências
que impulsionam o surgimento de doenças zoonóticas, incluindo a crescente
demanda por proteína animal, a expansão agrícola intensiva e não sustentável, o
aumento da exploração da vida selvagem e a crise climática. O relatório conclui
que a África, em especial, por ter enfrentado várias epidemias zoonóticas,
incluindo os recentes surtos de Ebola, pode ser uma fonte de soluções
importantes para conter futuros surtos.
“A ciência é clara ao dizer
que, se continuarmos explorando a vida selvagem e destruindo os ecossistemas,
podemos esperar um fluxo constante de doenças transmitidas de animais para
seres humanos nos próximos anos”, afirmou a diretora-executiva do PNUMA, Inger
Andersen.
“As pandemias são devastadoras
para nossas vidas e nossas economias e, como vimos nos últimos meses, a
população mais pobre e vulnerável é a mais impactada. Para evitar futuros
surtos, precisamos ser mais conscientes sobre a proteção do meio ambiente”,
complementou.
Uma “doença zoonótica” ou
“zoonose” é uma doença transmitida de animais para seres humanos. A COVID-19,
que já causou mais de meio milhão de mortes em todo o mundo, provavelmente foi
originada em morcegos. Mas ela é apenas a mais recente dentre tantas doenças
cuja disseminação foi intensificada pelas ações humanas – como ebola, Síndrome
Respiratória do Oriente Médio (MERS), Febre do Nilo Ocidental e Febre do Vale
Rift.
Todos os anos, cerca de 2
milhões de pessoas, principalmente de países de baixa e média renda, morrem
devido a doenças zoonóticas negligenciadas. Estes surtos também podem causar
doenças graves, mortes e perda de produtividade em rebanhos nos países em
desenvolvimento, deixando milhões de pequenos agricultores em extrema pobreza.
Nas últimas duas décadas, as
doenças zoonóticas causaram perdas econômicas no valor de mais de 100 bilhões
de dólares, sem contar a pandemia de COVID-19, que poderá custar 9 trilhões de
dólares nos próximos anos.
Países africanos podem liderar
esforços na prevenção de pandemias
As doenças zoonóticas estão em
ascensão em todo o mundo. Os países africanos, alguns dos quais já lidaram de
forma bem sucedida com outros surtos zoonóticos fatais, podem aproveitar suas
experiências para combater futuros surtos por meio de abordagens que incorporem
saúde humana, animal e ambiental.
O continente abriga grande
parte das florestas tropicais remanescentes do mundo e outras paisagens
selvagens. A população humana na África também é a que mais cresce, o que
facilita o encontro entre rebanhos e animais selvagens, que, por sua vez, eleva
o risco de disseminação de doenças zoonóticas.
“A situação no continente hoje
é propícia para intensificar as doenças zoonóticas existentes e facilitar o
surgimento e a disseminação de novas doenças”, disse o diretor-geral da ILRI,
Jimmy Smith.
“Mas, com suas experiências
com a ebola e outras doenças emergentes, os países africanos estão demonstrando
maneiras proativas de gerenciar esses surtos. Por exemplo, para controlar as
doenças eles estão aplicando novas abordagens baseadas em riscos, ao invés de
abordagens baseadas em regras, por serem mais adequadas para ambientes com
poucos recursos, e estão unindo conhecimentos humanos, animais e ambientais em
iniciativas proativas como a One Health.”
Os autores do relatório
identificam a abordagem da One Health, que une conhecimentos em saúde pública,
veterinária e ambiental, como o melhor método para prevenir e responder aos
surtos de doenças zoonóticas e pandemias.
10 recomendações
O relatório identificou dez
ações práticas que os governos podem tomar para evitar surtos futuros:
Investir em abordagens
interdisciplinares, como a One Health;
Incentivar pesquisas científicas sobre doenças zoonóticas;
Melhorar as análises de custo-benefício das intervenções para incluir o custo
total dos impactos sociais gerados pelas doenças;
Aumentar a sensibilização sobre as doenças zoonóticas;
Fortalecer o monitoramento e a regulamentação de práticas associadas às doenças
zoonóticas, inclusive de sistemas alimentares;
Incentivar práticas de gestão sustentável da terra e desenvolver alternativas
para garantir a segurança alimentar e meios de subsistência que não dependam da
destruição dos habitats e da biodiversidade;
Melhorar a biossegurança, identificando os principais vetores das doenças nos
rebanhos e incentivando medidas comprovadas de manejo e controle de doenças
zoonóticas;
Apoiar o gerenciamento sustentável de paisagens terrestres e marinhas a fim de
ampliar a coexistência sustentável entre agricultura e vida selvagem;
Fortalecer a capacidade dos atores do setor de saúde em todos os países;
Operacionalizar a abordagem da One Health no planejamento, implementação e
monitoramento do uso da terra e do desenvolvimento sustentável, entre outros
campos.
O relatório foi lançado no Dia Mundial das Zoonoses, instituído em 6 de julho por instituições de pesquisa e entidades não governamentais em homenagem ao trabalho do biólogo francês Louis Pasteur. Em 6 de julho de 1885, Pasteur administrou com sucesso a primeira vacina contra a raiva, uma doença zoonótica.
Fonte:nacoesunidas.org
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