Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) identificaram uma nova variante do vírus influenza, causador da gripe, em uma paciente da cidade de Ibiporã, no Paraná. As análises apontaram a presença do vírus influenza A(H1N2)v, que provoca infecção em porcos. O caso foi informado ao Ministério da Saúde, que notificou a Organização Mundial da Saúde (OMS), seguindo o regulamento sanitário internacional. Todos os registros de infecção humana por novos subtipos virais precisam ser notificados já que mutações nestes microrganismos podem levar à disseminação de pessoa a pessoa, com potencial pandêmico.
Um alerta emitido pela OMS
informa que 26 casos de infecção por vírus influenza A(H1N2)v foram registrados
desde 2005, e a maioria dos pacientes apresentou quadros leves. No Brasil, um
registro já tinha sido realizado em 2016. Não há evidências de transmissão
dessas variantes virais entre pessoas. A virologista Marilda Siqueira, chefe do
Laboratório de Vírus Respiratório e do Sarampo do IOC, referência para vírus
respiratórios no Brasil e responsável pela identificação das variantes do
influenza no país, afirma que o novo achado não é motivo de preocupação. “Essas
detecções ocorrem, ao longo dos anos, em diversos países. Não significa que
isso vai se transformar em uma pandemia. As medidas de controle são as mesmas
para infecções de transmissão respiratória em geral, como lavar as mãos e, em
caso de sintomas respiratórios, procurar atendimento médico para fazer análise
melhor do quadro clínico”, esclarece a pesquisadora.
A paciente de Ibiporã, que já
está recuperada e não precisou ser hospitalizada, apresentou sintomas de gripe
em meados de abril. Ao procurar atendimento médico, ela teve uma amostra do
trato respiratório coletada como parte das ações de rotina do sistema nacional
de vigilância da influenza. O Laboratório Central de Saúde Pública do Paraná
(Lacen-PR) identificou um vírus influenza A de subtipo desconhecido e
encaminhou a amostra ao Laboratório de Vírus Respiratório e do Sarampo do IOC,
onde a caracterização do microrganismo foi realizada. Marilda destaca que o
achado realizado em meio à pandemia de Covid-19, que sobrecarrega os serviços
de saúde e a rede de laboratórios do país, demonstra a capacidade de resposta
brasileira.
“No meio de uma pandemia de
coronavírus, que está impactando todos os níveis de atenção à saúde,
trabalhamos dentro dos protocolos e fomos capazes de identificar uma nova
variante do vírus influenza. Isso mostra a capacidade de resposta rápida que o
nosso país, através de um esforço grande do Ministério da Saúde, das
Secretarias de Saúde, dos Laboratórios Centrais de Saúde Pública(Lacens) e de
institutos como IOC/Fiocruz, Instituto Evandro Chagas (IEC) e Instituto Adolfo
Lutz (IAL), é capaz de dar para o controle da influenza”, avalia Marilda.
Uma vez que os vírus influenza
ocorrem em diversas espécies de animais, o surgimento de novas variantes pode
ocorrer tanto por mutações do genoma viral quanto pela recombinação entre
microrganismos de diferentes espécies. Através do sequenciamento genético, os
pesquisadores identificaram que a nova variante viral apresentava segmentos do
RNA associados a vírus detectados em porcos e humanos.
“O vírus identificado no
Paraná é caracterizado como uma nova variante porque apresenta configurações genéticas
diferentes de outros vírus influenza A (H1N2), incluindo a cepa detectada no
Brasil em 2016. Realizando o sequenciamento genômico, observamos que os
segmentos H e N da nova variante viral estavam associadas a vírus que
circularam anteriormente em humanos e suínos. Além disso, detectamos genes
internos associados ao vírus influenza A (H1N1), que circulam desde 2009”,
relata Paola Cristina Resende, pesquisadora do Laboratório de Vírus
Respiratórios e do Sarampo do IOC/Fiocruz.
Segundo a OMS, as infecções humanas por vírus de gripe de suínos ocorrem principalmente pelo contato com animais infectados ou ambientes contaminados. No caso de Ibiporã, as investigações ainda estão em curso, mas é possível que a paciente tenha sido infectada no frigorífico de suínos onde trabalha. No mesmo período, outro funcionário do local apresentou sintomas de gripe, mas não foram coletadas amostras na ocasião. A investigação epidemiológica e laboratorial em andamento não encontrou indícios de outros casos de infecção. “Vamos continuar as análises, mas, até o momento, não há evidências de que tenha acontecido transmissão”, reforça Marilda.
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