Deputado critica desrespeito à
lei que estabelece o prazo de 30 dias para que paciente tenha acesso ao
diagnóstico
Profissionais de saúde do corpo clínico do Hospital de Amor, em Barretos (SP), referência no tratamento de câncer, defenderam o rastreamento dos casos entre a população como uma forma eficaz de prevenção para evitar a doença em estágio avançado e as mortes.
Participantes de seminário na
Câmara que marcou a Semana Nacional de Combate ao Câncer, nesta quinta-feira
(26), eles mostraram que a opção pelo rastreamento não é consenso na comunidade
científica mundial. No Brasil, a Sociedade Brasileira de Urologia, por exemplo,
recomenda o rastreamento do câncer de próstata, opinião diferente do Instituto
Nacional do Câncer (Inca).
O médico Carlos Eduardo
Silveira lembra que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer de
próstata é o quarto tumor mais frequente no mundo. No Brasil, é um dos cânceres
de maior incidência e mata 15 mil pessoas por ano. No Hospital de Amor, o
rastreamento é feito em homens de 50 a 69 anos, por meio do exame chamado PSA.
“Os pacientes externos, com
câncer de próstata, 50% deles eram casos que foram diagnosticados já avançados,
enquanto que os pacientes que vieram da prevenção, que fizeram os exames
preventivos, apenas 18% deles estavam com casos avançados”, observou.
Câncer de pele
Carlos Silveira também falou sobre a prevenção ao câncer de pele, o mais
frequente do mundo, mas com baixa mortalidade. São feitas campanhas educativas,
além do incentivo à utilização constante do protetor solar e à redução da
exposição ao sol. Ele comemora a proibição do uso das câmaras de bronzeamento
artificial, fontes de incidência do câncer de pele.
O médico Ricardo dos Reis
ressaltou a importância do exame papanicolau para o rastreamento do câncer de
colo do útero em mulheres com vida sexual ativa a partir dos 25 anos, mas
lamenta que só 30% façam o exame, assim como também é baixa a adesão à vacina
contra o HPV, vírus causador desse tipo de câncer.
Vinicius Vasquez, do Instituto
de Ensino e Pesquisa do Hospital de Amor, também reforçou a importância do
rastreamento. “Será que vale a pena pegar uma unidade móvel e procurar
câncer de pele? Será que a gente vai fazer o diagnóstico de pessoas que têm
feridas na pele, mas têm baixa instrução, não têm ideia do que aquilo é e estão
tratando com um cremezinho? Será que a gente sai com uma unidade móvel e vai
fazendo mamografia pelo Brasil, isso vai fazer diferença? Nós mostramos que faz
diferença", disse.
Campanha educativa
O rastreamento dos casos de câncer também está nas ações do Programa de
Educação em Saúde e Câncer na Escola (Pesce), apresentado pelo biomédico Gerson
Vieira. Por meio da produção de vídeos e de material didático, a ideia é tornar
as escolas multiplicadoras de informações sobre a doença, para estimular a
comunidade a discutir o tema. Uma das atividades destacadas pelo profissional
de saúde é um concurso de redação anual para estudantes do nono ano do ensino
fundamental, que, no ano passado, recebeu 14 mil e 800 textos.
“Imagina quantas pessoas a
gente mobilizou? Quatorze mil e oitocentos, mais o professor que ajudou a
pesquisa, mais o pai e a mãe que leram essa redação. Imagina quantas pessoas
estão lendo conteúdos produzidos de conscientização de prevenção em câncer”,
disse.
Presidente da comissão
especial da Câmara que discute o combate ao câncer no país, o deputado Weliton Prado (Pros-MG) chamou
atenção para o Plano Nacional de Enfrentamento ao Câncer previsto para ser
apresentado pela comissão até novembro e lembrou que a doença tem que ser
tratada de maneira emergencial.
“Infelizmente, as legislações
que nós demoramos anos para aprovar, muitas delas não são cumpridas, não são
respeitadas, como a Lei dos 30 Dias para ter acesso ao diagnóstico. Muitos
pacientes demoram meses e meses para ter acesso ao diagnóstico médico. Aqui em
Brasília, em Minas, em vários estados não é diferente, pacientes que demoram aí
seis, oito (meses), até um ano para iniciar um tratamento”, observou.
Presidente do conselho
técnico-executivo da Femama, organização da sociedade civil de apoio à saúde da
mama, Ricardo Caponero informou que, enquanto a maior incidência de câncer de
mama no mundo é entre mulheres de 70 a 74 anos, no Brasil o maior número de
casos está entre 50 e 54 anos. Por isso, ele defendeu o rastreamento a partir
dos 40 anos, que pode levar ao diagnóstico num estágio curável e a um
tratamento adequado e oportuno.
Reportagem – Cláudio Ferreira
Edição – Roberto Seabra
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