Um projeto envolvendo
cientistas do Brasil e de outros países vai pesquisar como as mudanças
climáticas podem alterar a incidência de doenças transmitidas por mosquitos,
como o Aedes aegypti. Com o nome Harmonize, a pesquisa foi lançada na
quarta-feira (1º/6) e tem dentre seus participantes o Observatório de Clima e
Saúde, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em
Saúde (Icict/Fiocruz). Juntas, as diferentes instituições envolvidas vão poder
integrar melhor os dados e as tecnologias de que dispõem, permitindo que os
cientistas analisem os impactos das intensas mudanças climáticas na propagação
de doenças.
Pesquisador do Icict/Fiocruz,
Christovam Barcellos é um dos coordenadores no Brasil e conta que a expectativa
do projeto é, inicialmente, compreender os novos padrões de transmissão da
dengue. “Além dos dados que já temos sobre saúde, com a parceria de outros
institutos e centros de pesquisa, poderemos contar com dados de satélites
internacionais e informações ambientais, o que nos mostrará um cenário
mais próximo à realidade atual e permitirá identificar tendências dessas
doenças. O comportamento da dengue atualmente no país está muito fora do
padrão. A doença saiu das áreas litorâneas e úmidas e agora vem atingindo
principalmente o Cerrado, que já é uma região muito afetada pelo desmatamento e
as mudanças climáticas”, aponta.
A longo prazo, o pesquisador
espera ter uma visão “micro”, ou seja, entender melhor os pequenos focos de
transmissão em locais mais isolados, como na Amazônia. “E não só da dengue, mas
também de outras enfermidades, como a malária e a doença de Chagas. Serão
informações essenciais não só para o Observatório, mas também para gestão e
criação de políticas públicas no país”, comenta.
Até o fim de 2022, os
pesquisadores esperam apresentar os primeiros resultados, que deverão ser
publicados em um site compartilhado entre os centros e instituições que fazem
parte do Harmonize. Boletins e artigos científicos também serão publicados ao
longo da pesquisa.
Financiado pelo fundo Wellcome
Trust, o Harmonize é coordenado pela nova Equipe de Resiliência em Saúde
Global do Departamento de Ciências da Terra do Centro de Supercomputação de
Barcelona (BSC-ES). O projeto conta também com a participação do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil (Inpe), a Universidad Peruana
Cayetano Heredia, a Universidad de los Andes na Colômbia, a Oficina Nacional de
Meteorología da República Dominicana e o Instituto Interamericano de Pesquisa
em Mudanças Globais no Uruguai.
“Monitorar as mudanças climáticas e seus impactos na saúde é uma tarefa essencial. Mas, para isso, precisamos de bons dados, modelos adequados e estratégias de comunicação com governo e sociedade civil. Nós aqui no Brasil temos acesso a muitos dados e o Observatório de Clima e Saúde é um exemplo mundial, que deve ser replicado em outros países. E o projeto está viabilizando essas conexões”, comenta Barcellos.
0 comentários:
Postar um comentário