O empresário João Alves
Queiroz Filho, fundador da Hypera Pharma (antiga Hypermarcas), e Claudio
Bergamo, ex-presidente da companhia, estão em conversas para tentar fazer
delação premiada com a Procuradoria Geral da República (PGR), segundo três
fontes a par do assunto. Em outra frente, o grupo também discute um acordo de
leniência, conforme antecipou o 'Estado' em abril.
Queiroz e Bergamo se afastaram
da empresa no fim de abril. Os dois foram alvos de busca e apreensão na
operação Tira-Teima, deflagrada pela Polícia Federal no dia 10 do mesmo mês.
Há uma expectativa de que as
conversas para possíveis delação e leniência tenham desfecho nos próximos dias.
O órgão está confrontando informações do fundador e do seu principal executivo
com as delações já públicas para fechar ou não um acordo.
Criada para ser uma Unilever
brasileira, a Hypera teve o nome envolvido, pela primeira vez, na Operação Lava
Jato em junho de 2015, após o Estado revelar trechos do acordo de colaboração
do ex-diretor de relações institucionais do grupo, Nelson Mello. Segundo
depoimento do ex-diretor, a empresa teria repassado cerca de R$ 30 milhões para
parlamentares do MDB por meio dos operadores Lúcio Funaro e Milton Lyra.
Os repasses teriam como
finalidade garantir a atuação desses políticos em temas de interesses da
empresa no Congresso. Na delação de Mello, a iniciativa e toda a
responsabilidade sobre os pagamentos ilícitos eram dele e a empresa não tinha
conhecimento das transações.
Ocorre que a delação de Mello
tem risco de ser anulada porque o ex-executivo teria omitido informações para
poupar Queiroz e Bergamo. Fontes a par do assunto afirmaram que fundador e
ex-presidente do grupo estariam dispostos a detalhar pagamentos feitos aos par
lamentares que ajudaram a abrir as portas da Hypera em Brasília, sobretudo na
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e também facilitaram a
concessão de benefícios tributários em Goiás, sede da empresa.
Em abril, o advogado Celso
Vilardi foi contratado para defender a Hypera. O criminalista já conduziu
acordos de importantes empreiteiras, como a Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez.
O advogado José Luís Oliveira Lima, do escritório Oliveira Lima, Hungria,
Dall'Acqua & Furrier Advogados, representa o fundador da companhia. Bergamo
é defendido por Sérgio Rosenthal, da Rosenthal Advogados Associados.
Procurados, Vilardi, Oliveira,
Rosenthal, Hypera e a PGR não comentam o assunto. A defesa de Funaro também não
quis se pronunciar. Já a de Lyra informou que seu cliente prestou todos
esclarecimentos à Justiça. O escritório de Mello não retornou os pedidos de
entrevista.
Enxuta. Criada para ser uma
gigante de bens de consumo nacional, a empresa foi se desfazendo, nos últimos anos,
de seus negócios de higiene e beleza (chegou a ser dona das marcas Monange,
Perfex e Assolan) e de ativos de alimentos (como a Etti e Salsaretti) para se
concentrar em medicamentos. No ano passado, registrou receita de R$ 3,6
bilhões.
Em 2015, a Hypera se tornou
vice-líder em medicamentos no País, após pesadas aquisições â entre elas a da
Neo Química â, desbancando as multinacionais.
PARA LEMBRAR
A Hypera Pharma anunciou no
dia 26 de abril o afastamento de Claudio Bergamo, então presidente da
companhia, e de seu principal acionista e fundador, João Alves de Queiroz
Filho, o Junior. Para substituí-los, foram indicados dois executivos de
carreira do grupo: Breno de Oliveira, diretor financeiro, que assumiu o lugar
de Bergamo, e Luiz Violland, que ficou à frente da presidência de administração
da empresa, posição até então ocupada pelo dono da empresa.
O Estado de S. Paulo