As mães que precisam do
sistema público de saúde para buscar atendimento para seus filhos muitas vezes
sofrem com filas de espera intermináveis e falta de apoio. Mas para aquelas que
tiveram bebês com lábio leporino e fenda palatina, pode ser que esse processo
fique, pelo menos, um pouco mais tranquilo. Um projeto de lei (1172/15) em
análise na Câmara quer garantir que o SUS forneça todo o tratamento para as
crianças nessa condição, incluindo a cirurgia reparadora e o acompanhamento,
que pode incluir dentista, psicólogo e fonoaudiólogo.
Lábio leporino é uma divisão
no lábio superior, entre a boca e o nariz, que ocorre porque as duas partes do
rosto do bebê não se uniram adequadamente durante a gestação. Já a fenda
palatina ocorre quando o palato, que é o céu da boca, não se fecha
completamente. O médico Marconi Delmiro, coordenador do Ambulatório de
Fissurados do Hran, em Brasília, explicou que são gravíssimos os problemas que
essa má formação pode causar à criança.
"Começa com a
amamentação, que vai ter dificuldade, começa com o comprometimento da audição
também. A fenda do palato pode acometer também a tuba auditiva da criança,
levando a otite de repetição, cerosas ou infecciosas, causando danos de audição
no futuro e em futuro próximo."
O autor do projeto, deputado
Danrlei de Deus, do PSD gaúcho, disse que a cirurgia é muitas vezes vista como
estética pelo SUS, e não como reparadora. Ele acredita que com o diagnóstico
rápido e a garantia do tratamento beneficiam não só a criança, mas toda a
família, principalmente aquelas que não têm condição de pagar por ele.
"Entrando a fundo na
questão, a gente vê que não é só pra criança o problema, acaba acarretando pra
família inteira muitas vezes. E, pra sociedade, uma criança que tem esse
problema de lábio leporino, ela acaba ficando a par da sociedade. Muitas vezes
na escola, ela tem vergonha de ir e a família sente junto. Aí vem uma questão
psicológica familiar".
Marconi Delmiro, porém, alerta
que apenas uma lei não resolve inteiramente o problema das filas de espera para
esses casos. Segundo o médico, nascem, em média, 5 mil crianças com essa
condição por ano no Brasil, e que mesmo um hospital que tem a especialização,
como o Hran em Brasília, consegue realizar apenas 20 cirurgias por mês. Ele
acredita que o problema é estrutural, começando na falha de prevenção.
“Muitas mães não têm acesso,
apesar de disponível, de realizar um pré-natal. Então, ficam expostas a uma
chance muito grande de sofrer alguma alteração nesse embrião e levar a formação
do lábio leporino e da fenda palatina. Dizer pra você que isso vai ser
erradicado, que vai ser acelerado de tal maneira, infelizmente não depende da
nossa equipe. A estrutura que nós vivemos atualmente impede".
Independente das dificuldades,
a Lúcia Bonfim, mãe do Samuel, que viu seu filho ser curado no Hran, aconselha
que nenhuma mãe desista do tratamento.
"Acho que todas as
crianças que nascem assim têm que fazer como eu fiz, desde o comecinho. Samuel
está como se ele tivesse nascido sem nada, normal."
O projeto que torna obrigatório
ao SUS fornecer tratamento de lábio leporino e fenda palatina aguarda parecer
da Comissão de Constituição e Justiça. Se aprovado, segue para o Senado.
Reportagem - Giovanna Maria
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