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domingo, 24 de junho de 2018

Projeto em análise na Câmara obriga SUS a fornecer tratamento de lábio leporino e fenda palatina


As mães que precisam do sistema público de saúde para buscar atendimento para seus filhos muitas vezes sofrem com filas de espera intermináveis e falta de apoio. Mas para aquelas que tiveram bebês com lábio leporino e fenda palatina, pode ser que esse processo fique, pelo menos, um pouco mais tranquilo. Um projeto de lei (1172/15) em análise na Câmara quer garantir que o SUS forneça todo o tratamento para as crianças nessa condição, incluindo a cirurgia reparadora e o acompanhamento, que pode incluir dentista, psicólogo e fonoaudiólogo.

Lábio leporino é uma divisão no lábio superior, entre a boca e o nariz, que ocorre porque as duas partes do rosto do bebê não se uniram adequadamente durante a gestação. Já a fenda palatina ocorre quando o palato, que é o céu da boca, não se fecha completamente. O médico Marconi Delmiro, coordenador do Ambulatório de Fissurados do Hran, em Brasília, explicou que são gravíssimos os problemas que essa má formação pode causar à criança.

"Começa com a amamentação, que vai ter dificuldade, começa com o comprometimento da audição também. A fenda do palato pode acometer também a tuba auditiva da criança, levando a otite de repetição, cerosas ou infecciosas, causando danos de audição no futuro e em futuro próximo."

O autor do projeto, deputado Danrlei de Deus, do PSD gaúcho, disse que a cirurgia é muitas vezes vista como estética pelo SUS, e não como reparadora. Ele acredita que com o diagnóstico rápido e a garantia do tratamento beneficiam não só a criança, mas toda a família, principalmente aquelas que não têm condição de pagar por ele.

"Entrando a fundo na questão, a gente vê que não é só pra criança o problema, acaba acarretando pra família inteira muitas vezes. E, pra sociedade, uma criança que tem esse problema de lábio leporino, ela acaba ficando a par da sociedade. Muitas vezes na escola, ela tem vergonha de ir e a família sente junto. Aí vem uma questão psicológica familiar".

Marconi Delmiro, porém, alerta que apenas uma lei não resolve inteiramente o problema das filas de espera para esses casos. Segundo o médico, nascem, em média, 5 mil crianças com essa condição por ano no Brasil, e que mesmo um hospital que tem a especialização, como o Hran em Brasília, consegue realizar apenas 20 cirurgias por mês. Ele acredita que o problema é estrutural, começando na falha de prevenção.

“Muitas mães não têm acesso, apesar de disponível, de realizar um pré-natal. Então, ficam expostas a uma chance muito grande de sofrer alguma alteração nesse embrião e levar a formação do lábio leporino e da fenda palatina. Dizer pra você que isso vai ser erradicado, que vai ser acelerado de tal maneira, infelizmente não depende da nossa equipe. A estrutura que nós vivemos atualmente impede".

Independente das dificuldades, a Lúcia Bonfim, mãe do Samuel, que viu seu filho ser curado no Hran, aconselha que nenhuma mãe desista do tratamento.

"Acho que todas as crianças que nascem assim têm que fazer como eu fiz, desde o comecinho. Samuel está como se ele tivesse nascido sem nada, normal."

O projeto que torna obrigatório ao SUS fornecer tratamento de lábio leporino e fenda palatina aguarda parecer da Comissão de Constituição e Justiça. Se aprovado, segue para o Senado.

Reportagem - Giovanna Maria


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