Fármacos foram apresentados no
último Congresso da SEUD
Muitas pesquisas têm sido
feitas no desenvolvimento de medicamentos que podem ser usados para aliviar os
sintomas associados à endometriose. Além dos medicamentos já estabelecidos, o principal
deles no momento, e que foi recentemente lançado na Europa, é o Elagolix, que
promete ser a nova sensação nos tratamentos do distúrbio.
Essa novidade foi apresentada
durante o 4º Congresso da SEUD - Society of Endometriosis and Uterine Disorders
(Sociedade de Endometriose e Desordens Uterinas), realizado em abril último, em
Florença, na Itália. “O diferencial deste fármaco em comparação aos outros da
mesma categoria é que se trata de um antagonista da GnRH que pode ser
administrado por via oral, diferente de outros como Zoladex (acetato de
gosserrelina), Lectrum (acetato de leuprorrelina), Lupron (acetato de
leuprorrelina) que são injetáveis”, comenta o especialista em Medicina
Reprodutiva Arnaldo Cambiaghi, diretor do Centro de Reprodução Humana do IPGO.
A endometriose é uma condição
inflamatória crônica, dependente de estrogênio, caracterizada pela implantação
de tecido semelhante ao endométrio fora do útero e que afeta de 6% a 10% das
mulheres em idade reprodutiva. Os sintomas incluem dismenorreia (cólica
menstrual), dor pélvica não-menstrual e dispareunia (dor na realção sexual),
bem como os sintomas menos comuns, como dor na ovulação e ao urinar e
constipação.
A dor associada à endometriose
pode diminuir a qualidade de vida da paciente e resultar em uma carga econômica
substancial. A dispareunia pode ter profundo impacto interpessoal e
consequências psicológicas. A endometriose tem causas multifatoriais, incluindo
menstruação retrógrada, fatores genéticos e ambientais, alteração do sistema
imune e diferenciação ectópica (fora do útero) de células-tronco mesenquimais.
O estrogênio tem um papel
necessário na fisiopatologia da endometriose, uma vez que promove o implante de
endométrio no peritônio (tecido que reveste internamente o abdômen), traz efeitos
proliferativos e antiapoptóticos (apoptose é a morte celular) nas células
endometriais e estimula a inflamação local e sistêmica.
Com base na “hipótese da
importância do estrogênio”, a supressão completa do estrogênio pode não ser
necessária para controlar a dor associada à endometriose, e o estrogênio pode
ser ajustado a um nível adequado para controlar a dor, mas minimizar os efeitos
hipoestrogênicos.
“Embora o tratamento cirúrgico
por videolaparoscopia cirúrgica seja o “padrão ouro” para a resolução
“definitiva” deste distúrbio, nem sempre a intervenção pode ser indicada,
principalmente nas pacientes que são jovens e ainda não têm filhos. A indicação
cirúrgica deve ser sempre ponderada quanto aos seus prós e contras”, alerta
Cambiaghi.
Endometriose - Pixabay
As terapias de primeira linha
para dor relacionada à endometriose incluem drogas antiinflamatórias
não-esteroidais (AINEs) e contraceptivos orais contendo progesterona. As
terapias de segunda linha envolvem formulações de depósito injetável de
agonistas do hormônio liberador de gonadotropina (GnRH), como o acetato de
leuprolide. Os agentes são eficazes e reduzem os níveis de estrogênio para
níveis pós-menopausa e estão associados a efeitos colaterais (por exemplo,
perda óssea progressiva e sintomas vasomotores graves – ondas de calor), que
limitam seu uso a seis meses.
As opções médicas permanecem
limitadas. As progesteronas, muitas vezes estão associadas a sangramento, ganho
de peso e alterações de humor. Agentes androgênicos, como o danazol, estão
associados à acne, hirsutismo e alterações no perfil lipídico. A ablação
cirúrgica ou a excisão das lesões podem seja eficazes.
“O Elagolix é um antagonista
oral e os estudos mostraram eficácia no controle tanto da dismenorreia quanto
da dor pélvica não menstrual, com um perfil de segurança aceitável em uma dose
(uma vez ao dia de 150 mg) que produza supressão parcial do estrogênio. O
Elagolix (na dose de 200 mg duas vezes ao dia) levou à supressão quase completa
do estrogênio”, finaliza o médico.
Outros medicamentos na fase
final de pesquisa:
·Relugolix: um antagonista
seletivo não peptídico, atualmente está em fase III de ensaios clínicos para o
tratamento da endometriose, do leiomioma uterino e do câncer de próstata.
·Linzagolix: é um antagonista de hormônio liberador de gonadotropina de pequena molécula, não peptídico, ativo oralmente (antagonista de GnRH) que está em desenvolvimento para o tratamento de útero leiomioma e endometriose.
·SKI 26 O70: antagonista do hormônio libertador de gonadotropina (GNRH), é um novo antagonista de GnRH não peptídico, ativo por via oral ainda nos estudos iniciais. Vilaprisan (codinome de desenvolvimento BAY-1002670): é um modulador esteroidal seletivo de receptor de progesterona sintético (SPRM) que está em desenvolvimento para o tratamento de endometriose e miomas uterinos.
Arnaldo Schizzi Cambiaghi é
diretor do Centro de reprodução humana do IPGO, ginecologista-obstetra
especialista em medicina reprodutiva. Membro-titular do Colégio Brasileiro de
Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica, da European
Society of Human Reproductive Medicine. Formado pela Faculdade de Ciências
Médicas da Santa casa de São Paulo e pós-graduado pela AAGL, Illinois, EUA em
Advance Laparoscopic Surgery. Também é autor de diversos livros.
Cármen Guaresemin, SEGS
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