A Assembleia Legislativa do
Rio de Janeiro (Alerj) formou um grupo executivo para planejar a criação do
Complexo Econômico e Industrial da Saúde no estado (CEIS). A proposta foi
apresentada pela deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) durante reunião
virtual, nesta segunda-feira (24/08), do Fórum Rio de Desenvolvimento,
promovido pelo Legislativo fluminense. O CEIS vai reunir representantes das
universidades, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), da Federação das Indústrias do
Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e do Conselho de Secretários municipais da
Saúde.
Reunião virtual do Fórum do Desenvolvimento Estratégico do Estado do Rio de Janeiro (Foto: Divulgação)
O presidente Alerj, deputado
André Ceciliano (PT), que conduziu a reunião, antecipou que o grupo será
liderado pelo economista e diretor da Assessoria Fiscal da Casa, Mauro Osório.
"Esse grupo será fundamental para que sejam desenhadas estratégias para
abordarmos esse tema. Nessa reunião de hoje, notamos que o setor industrial da
saúde é o novo pré-sal e precisamos trabalhar nisso", disse Ceciliano.
A próxima reunião do fórum –
composto por parlamentares estaduais e federais da bancada fluminense,
representantes de universidades públicas e economistas -será no dia 14 de
setembro, para discutir o setor de óleo e gás.
Setor promissor
Segundo dados apresentados
pelo economista e pesquisador da Fiocruz, Carlos Gadelha, o Brasil tem o maior
sistema universal de saúde do mundo em termos de população, emprega 7 milhões
de pessoas e movimento 9% do Produto Interno Bruto (PIB). No entanto, 53% dos
insumos necessários para produção do setor de saúde brasileiro são importados e
15% do PIB da saúde vai para fora do Brasil.
"Esse setor tem um alto
potencial de estimular emprego e aumentar a economia, mas precisamos ter um
sistema produtivo e tecnológico eficiente, atuar de forma sistêmica ou não
vamos conseguir ter sucesso", pontuou.
Gadelha ainda destacou que 90
países estão criando barreira para exportar itens de saúde e que investir nesse
setor se torna um elemento decisivo para avançar economicamente. "Pagamos
bem os nossos pesquisadores. Talvez essa seja a área mais forte do nosso
estado. Em média, 30% a 40% dos nossos grupos de estudo estão na área da saúde.
Precisamos ver a saúde como uma oportunidade de crescimento. Precisamos deixar
de ver o SUS como um mercado apenas consumidor e pensar nessa área como algo
estratégico. E precisamos financiar políticas públicas", apontou.
Em 2019, antes da pandemia, as
importações de respiradores do país somaram US$ 52,22 milhões, segundo dados
apresentados pelo economista. Ele concordou que o diagnóstico era ruim, mas
destacou que o estado precisa propor uma nova forma de política. Nos momentos
de crise, o projeto de futuro se faz ainda mais necessário” concluiu.
Para a deputada Jandira
Feghali, os dados apresentados foram esclarecedores e com base neles será
possível ampliar a discussão sobre o tema em nível nacional. "A criação
desse grupo será fundamental. Isso pra mim é uma novidade política. Agora
precisamos saber qual é a potência do nosso estado no setor, quanto precisamos
investir e quem entraria para produzir os equipamentos aqui. Com esse Complexo
criado vamos conseguir mostrar o tamanho do Rio e construir de fato a luta que
precisamos”, afirmou.
Universidades
A importância das
universidades nesse setor também foi apresentada pela reitora da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Garcia. Ela lembrou que, em três
meses, a UFRJ conseguiu criar ventiladores mecânico no combate à covid-19.
"A resposta foi muito rápida e conseguimos provar o nosso valor. Temos um
parque de equipamento que funciona e mentes atuantes, porém, dependendo do
investimento que se faça nestas áreas, poderemos perder esse trem do futuro e
esses profissionais", alertou. Atualmente a universidade conta com mais de
120 projetos sobre o coronavírus.
A falta de iniciativas de
inteligência artificial também preocupa a reitora. "Em 2019 o país teve
apenas duas iniciativas no setor. Ficamos atrás de países como Uruguai e
Argentina, que apresentaram três iniciativas. Além de países desenvolvidos,
como os Estados Unidos, apresentaram 36 iniciativas no último ano. Isso mostra
que se não entrarmos nessa discussão vamos cada vez mais nos manter como um
país periférico e distante de avanços", destacou.
Já o reitor da Universidade
Federal Fluminense (UFF), Antonio Nóbrega, destacou que tem três eixos que
precisam ser analisados: o profissional, o institucional e o político.
"Isso é o necessário para se ter uma política de longo prazo e de
qualidade. Nós temos um potencial enorme, mas ainda somos muito dependentes da
esfera Federal e isso precisa acabar."
O deputado estadual Luiz Paulo
concluiu, destacando que será preciso levantar um diagnóstico e uma proposta
para avançar com políticas públicas de incentivo ao setor da saúde. "Já
estou careca de ouvir a Firjan falar em redução de alíquota e estou quase
decidido a votar contra qualquer projeto de isenção ou redução de imposto,
enquanto não houver uma proposta do incentivo industrial no estado. Precisamos
colocar a indústria nisso”, finalizou.
0 comentários:
Postar um comentário