Segundo colégio americano de
psiquiatras, o uso dessa classe de calmantes e ansiolíticos aumenta o risco de
demência em até 82%. Saiba mais sobre outros efeitos colaterais e mecanismos de
ação dessas substâncias
Pacientes que tomam medicamentos do
tipo benzodiazepínicos para tratar condições psiquiátricas devem considerar a
transição para outras terapias pelos riscos aumentados de demência,
ressaltam especialistas do American College of Osteopathic Neurologists
and Psychiatrists.
O risco associado ao uso dessa classe
de medicamentos será um dos temas da reunião anual da associação, a OMED 2015,
que irá ocorrer entre 17 e 21 de outubro em Orlando, nos Estados Unidos. O
informe dos especialistas é um apelo para que novos protocolos em psiquiatria
sejam seguidos.
Eles explicam que já há informações
consolidadas sobre os riscos dos medicamentos benzodiazepínicos, mas alguns
médicos continuam a receitar os compostos – seja pelos rápidos resultados
com o tratamento, seja pela dificuldade para a transição para novas
opções.
As benzodiazepinas incluem
medicamentos como o diazepam (nome comercial Valium), clonazepam (nome
comercial Rivotril), bromazepam (nome comercial Lexotan) e alprazolam(nome
comercial Frontal). Eles são usados como tratamento primário para a
insônia, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno
obsessivo-compulsivo e outras condições
O psiquiatra Helene
Alphonso, um dos especialistas responsáveis pela divulgação dos estudos na
reunião em Orlando, cita exemplos de pesquisas que encontraram a relação
entre o uso e Alzheimer.
Uma revisão dos
dados de 9.000 pacientes canadenses descobriu que aqueles
que tomaram a droga por um período superior a três meses, mas inferior a
180 dias, tiveram risco aumentado de desenvolver a doença em 32%. Quando
o período de uso de um benzodiazepínico passa de seis meses, o risco chega a
84%. Resultados semelhantes foram encontrados por pesquisadores franceses que
estudaram mais de 1.000 pacientes idosos.
O uso prolongado de
benzodiazepínicos deve ser evitado pelos seus altos riscos, afirmam
especialistas. Foto: Ingimage
Alphonso afirma que, devido a escassez de profissionais de saúde mental em áreas carentes, médicos da atenção básica à saúde acabam por receitar essa classe de medicamentos para dar alívio a pacientes com sintomas psiquiátricos. “Mas é necessário uma melhor estratégia a longo prazo”, ressalta.
“Embora seja apenas uma correlação, e
não uma demonstração de que realmente os remédios sejam responsáveis pelo
surgimento do Alzheimer, há muitas razões para evitar essa classe de drogas
como primeira opção.”
Uma primeira
alternativa, cita Alphonso, são antidepressivos. “A pesquisa atual é
extremamente clara e médicos precisam fazer parcerias com seus pacientes para
movê-los para outras terapias, como antidepressivos, que são comprovadamente
mais seguros e eficazes.”
O argumento para
limitar o uso de benzodiazepínicos é particularmente forte para os pacientes
com 65 anos ou mais, mais suscetíveis a quedas, lesões, overdose acidental e
morte quando tomam os medicamentos.
Os riscos fizeram
com que a Sociedade Americana de Geriatria estabelecesse diretrizes em 2012 que
rotularam essas drogas como “inadequadas” para o tratamento da insônia,
agitação ou delírio.
A ação dos benzodiazepínicos
Essa classe de
medicamentos foi aprovada nos anos 1960 nos Estados Unidos – acreditava-se que
fossem mais seguros que os barbitúricos, usados no início do século XX para o
tratamento da insônia e ansiedade.
Mais tóxicos, o uso
de barbitúricos foi descontinuado por registros de parada cardíaca,
complicações pulmonares e suicídios associados ao uso. Hoje só são usados para
a induzir anestesia geral e em casos de síndromes convulsivas
graves.
Tanto os
barbitúricos como os benzodiazepínicos atuam no Sistema Nervoso Central.
Constituído por estruturas como o cérebro e a medula, o sistema é responsável
por receber e processar informações.
Eles têm por alvo
mecanismos que envolvem o neurotransmissor GABA (sigla para ácido
gama-aminobutírico). Um neurotransmissor é uma substância que realiza a
comunicação de um neurônio com o outro, já que eles não se tocam. O GABA é
responsável pela sensação de relaxamento. Ou seja, na presença dele, os
neurônios vão se comunicando em rede e avisando a todo o corpo que é hora de
relaxar.
Os
benzodiazepínicos são amplamente utilizados e sua indicação depende, muitas
vezes, do tempo que produzem o efeito de sedação no organismo. Os de
longa duração (de oito a dezesseis horas) são utilizados no tratamento de
epilepsia, úlceras e hipertensão arterial; os de ação média (quatro a seis
horas) são administrados para tratar insônia e os de curta ação (imediata) são
utilizados como anestésicos e sedativos.
Outros efeitos adversos já foram
associados ao uso como perda de memória, perda de concentração, dificuldade
motora, reação paradoxal (maior excitação depois do uso), indiferença afetiva,
quedas, fraturas, tontura, zumbidos, sensação de ressaca (sonolência excessiva)
e dependência. Cerca de 50% dos pacientes que usam benzodiazepínicos por mais
de 12 meses evoluem para síndrome de abstinência.1
Estima-se que 50
milhões de pessoas façam uso diário de benzodiazepínicos. A maior prevalência
encontra-se entre as mulheres acima de 50 anos, com problemas médicos e
psiquiátricos crônicos. Os benzodiazepínicos são responsáveis por cerca de 50%
de toda a prescrição de psicotrópicos. Um em cada 10 adultos recebe prescrições
de benzodiazepínicos a cada ano, a maioria feita por clínicos gerais. 2
Link curto: http://brasileiros.com.br/7vGYD
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