Em
meio à retração econômica, regulamentação desconexa e concorrência desleal
ganham força e derrubam desempenho do setor de transporte de medicamentos. Sem
mudanças, as margens tendem a continuar em queda junto com o número de empresas
especializadas na área.
Com
dificuldade de repassar custos aos clientes, operadores logísticos
especializados apresentam perda de margem desde 2009. Segundo a pesquisa
“Transporte de Medicamentos no Brasil”, da Associação Nacional do Transporte de
Carga e Logística (NTC&Logística), a margem das empresas entrevistadas caiu
43,8% em 2015, ante 2009. “E a tendência é que continue”, afirma o
vice-presidente Comercial da RV Ímola, Thiago Amaral. Na companhia, a
perspectiva é de queda de quase 18% em 2016, ante 2015.
Assim
como a RV Ímola, outras estão na mesma situação. “Somos cerca de 20 no
transporte de medicamentos e 40% do mercado está entre 12 empresas. Se a gente
observar os players de 10 anos atrás, poucos continuaram e se não houver uma
mudança isso pode diminuir ainda mais”, explica Amaral.
De
acordo com ele, os custos relacionados ao transporte (combustível, dissídio e
linhas de financiamento para compra de veículos) estão cada vez mais altos e,
em contrapartida, o repasse está difícil. “Como tem muita gente ociosa, os
clientes estão renegociação do contrato”, conta. Além dos custos, a mão de obra
para operar os caminhões refrigerados também é cara.
“O
problema é que nem todos têm o mesmo patamar de custos”, complementa. Segundo
ele, o volume de transportadoras que não são da área e não cumprem todos os
requisitos está crescendo. Essas empresas encontraram uma brecha para entrar no
mercado por conta da crise econômica. “Alguns laboratórios têm feito vista
grossa”, reclama.
“Com
a crise, o controle de qualidade dos laboratórios se perdeu um pouco”, ressalta
o vice-presidente extraordinário coordenador da câmara técnica de transporte de
produtos farmacêuticos (TFARMA )da NTC&Logística, Clovis Gil.
Um
caso muito comum, de acordo com Gil, é a licença necessária para atuar no ramo
que exige que as transportadoras tenham permissão da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) de cada região em que irá atuar. “Mas tem sido
comum algumas realizarem o transporte com apenas uma licença”, conta.
De
acordo com Gil, antes o controle de qualidade determinava quem está apto a
realizar o transporte e, agora, com a crise alguns laboratórios estão
analisando em primeiro lugar o preço. “A maioria ainda preservam o cuidado, mas
tem outros que não”, sinaliza.
O
problema não é apenas a falta de licença em uma região, mas a falta de
padronização de cada Anvisa local. “Cada uma tem uma interpretação diferente”,
explica Thiago Amaral da RV Ímola.
Desta
forma, quem está irregular acaba tirando em apenas um lugar (menos criterioso)
e quem vai fazer quer tirar em todas as regiões tem dificuldade de unificar as
operações. “Muitas vezes o entendimento técnico da regional é diferente da
estadual que por sua vez é diferente da federal”, discorre.
Fiscalização
Este
não é o único desafio na regulamentação. Ainda na opinião de Clovis Gil da
NTC&Logística, a falta de clareza e especificidade das regras é o principal
desafio do setor. “Algumas resoluções (RDC) de armazenamento foram adaptações
de exigências feitas a laboratórios que muitas vezes não fazem sentido”, diz.
Outra
questão é a falta de padronização no carregamento. “Alguns laboratórios colocam
200 unidades em uma caixa e outros colocam 25. O ideal seria padronizar o
recebimento e o transporte. Além disso, o padrão de embalagem que cada uma tem
é diferente.”
Na
contrapartida, ele argumenta que tem regras que podem ser exigidas: como a
obrigatoriedade de caminhão refrigerado. “O Brasil tem dimensão continental e
os medicamentos devem ficar em temperaturas específicas para não perder suas
propriedades.”
Para
que as medidas sejam revistas, a entidade junto com uma consultoria está
trabalhando em regras de padronização que está em fase final. “Ainda devemos
apresentar a cartilha às associadas, mas posteriormente levaremos à Anvisa em
Brasília”, conta.
Alternativas
Para
conseguir crescer, a RV Ímola realizou uma remodelagem da malha logística que
exigiu o fechamento de 100 armazéns. “Agora as cidades que eram atendidas por
eles fazemos através de outras unidades”, explica Thiago Amaral da RV Ímola.
Segundo o executivo, com a diminuição de custos fixos foi possível reduzir em
30% os gastos. “Mesmo que eu tenha agora custos variáveis, que são mais altos,
para atender essas cidades, só preciso pagar quando tiver carga. Com isso,
acabei ganhando margem”, diz.
A
expectativa para 2017 é que a nova reestruturação ajude no crescimento da
receita, que neste ano deve ser de R$ 120 milhões.
Vivian
Ito
Fonte: DCI

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