Escolha do ministro da Saúde
para presidência da Fiocruz gera crise na fundação
A Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz) está tentando acionar diretamente o presidente da República, Michel
Temer, na tentativa de reverter a nomeação da pesquisadora Tania Cremonini de
Araújo-Jorge como sua nova presidente, disse ao jornal “O Estado de S. Paulo” o
atual presidente da instituição, Paulo Gadelha. A escolha de Tania pelo
ministro da Saúde, Ricardo Barros, gerou uma crise, porque viola a tradição de
nomear o primeiro colocado das eleições internas da fundação. A vencedora do
pleito foi Nísia Trindade, com 2.556 votos, contra os 1.695 obtidos por Tania.
A notícia de que a nomeação de
Tania será publicada no Diário Oficial na próxima segunda-feira, 2, foi
publicada nesta sexta no jornal O Globo e, segundo Gadelha, caiu como “uma
bomba” e “criou turbulência” na Fiocruz. “Era totalmente imprevisível e
irracional. Nísia teve 60% dos votos e tem apoio de todo o corpo de diretores
da Fiocruz. Estou muito surpreso com a possibilidade de não acolherem (a
vencedora)”, disse.
Para Gadelha, a confirmação da
nomeação da segunda colocada seria considerada “uma intervenção extemporânea de
natureza política”.
A escolha do candidato eleito
pelos servidores vem sendo respeitada há mais de 20 anos. Gadelha disse que
tentou entrar em contato com o ministro, mas não teve sucesso. Como o
ministério afirmou que não iria se manifestar, porque a decisão é de
competência do presidente da República, a diretoria da fundação começou a
articular contato com o presidente Michel Temer.
De acordo com Gadelha, o
presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) e membro do
Conselho Superior da Fiocruz, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, chegou a conversar
com Temer por telefone, pedindo que ele reveja a decisão. Embora a nomeação
seja realizada pela presidência, a indicação do ministro da Saúde tem grande
peso na decisão, uma vez que a fundação é vinculada à pasta.
“A questão agora está na
sensibilidade do presidente Temer para reverter (a escolha) e dar tranquilidade
a uma instituição que, mesmo com a turbulência que o País viveu, manteve
capacidade de resposta significativa”, disse Gadelha.
A notícia levou funcionários
da Fiocruz a se reunirem na instituição às vésperas da virada do ano. Em
reunião emergencial realizada nesta sexta-feira (30) para tratar do caso, o
Conselho Deliberativo da Fiocruz decidiu encaminhar uma nota oficial ao
presidente e ao ministro, declarar estado permanente de reunião e criar uma
“comissão de notáveis” – pessoas como ex-presidentes da Fiocruz, membros do
Conselho Superior e reitores de universidades – para dialogar com o governo
federal.
Além disso, o congresso
interno, que reúne delegados de todas as unidades da fundação e delibera sobre
situações de crise, se reunirá nos dias 13 e 14 de janeiro.
A pesquisadora Tania Cremonini
de Araújo-Jorge foi convocada para a reunião do conselho, mas não compareceu
alegando estar gripada. De acordo com Gadelha, a expectativa é que ela ajude a
resolver a crise, se mobilizando em defesa do sistema eleitoral e pela nomeação
de Nísia. “A maioria da Fiocruz espera que seja nomeada a mais votada”, disse.
O presidente da Fiocruz avalia que a situação pode trazer um problema sério de
governabilidade para uma eventual gestão de Tania.
A Fiocruz tem manifestado
preocupação em relação a declarações polêmicas de Barros e em maio publicou uma
carta em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS). Em visita à fundação no início
de dezembro, Barros foi recebido por manifestantes que se identificaram como
funcionários e estudantes da Fiocruz. Segundo Gadelha, a relação estabelecida com
Barros é respeitosa, mas uma instituição como a Fiocruz não pode ser acrítica.
O novo presidente da Fiocruz
comandará a instituição pelos próximos quatro anos
Estadão Conteúdo
0 comentários:
Postar um comentário