Pesquisas da UFRJ progridem na
tentativa de criar uma vacina contra o vírus da zika.
Em experimentos realizados,
camundongos não contraíram a doença e tornaram-se imunes a ela. O segredo para
a elaboração de uma vacina da zika pode estar em uma bomba de pressão.
Há um ano, pesquisadores da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) estudam como o vírus que causa a
doença reage quando colocado dentro de uma bomba que aumenta a sua pressão
hidrostática. Eles concluíram que esse processo inativa o vírus, tornando-o
incapaz de infectar uma pessoa. Além disso, mesmo inativo, o microrganismo
mantém sua capacidade imunogênica, isto é, a capacidade de gerar imunidade em
quem entra em contato com ele. Estes são dois critérios básicos para criar uma
vacina.
Na pesquisa, os cientistas
colocam o vírus em uma solução dentro de um tubo feito especialmente para ser
pressurizado. Depois, inserem o tubo dentro da tal bomba de pressão, na qual
ele fica mergulhado em água ou etanol. A bomba é ligada, e a pressão
hidrostática aumenta. Em seguida, os pesquisadores retiram o tubo e expõem
camundongos ao vírus. Nos cerca de 30 experimentos feitos até agora, os animais
não apenas continuaram com a saúde intacta, como também ficaram imunes ao
vírus.
O estudo se mostra promissor
porque, além de camundongos saudáveis, os pesquisadores usaram animais
imunodeficientes, ou seja, com sistema imunológico debilitado por doenças, como
a Aids. Todas as cobaias reagiram positivamente. Isto leva os cientistas a
acreditar que os microrganismos poderiam compor uma vacina eficaz para toda a
população, mesmo para pessoas com alguma enfermidade autoimune ou outro tipo de
problema. Mas ainda são necessários mais estudos até que se possa testar o
experimento em humanos.
— Nossa linha de pensamento é
que, se nem os animais mais frágeis são afetados de forma negativa, esse vírus
daria uma vacina segura — comenta a cientista Andréa Cheble de Oliveira, do
Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, da UFRJ, uma das autoras da
pesquisa.
Para ela, a chave para a
inativação do vírus é a alta pressão exercida sobre ele, alterando sua
estrutura sem destruí-lo.
— O vírus é totalmente
alterado em sua estrutura, mas sua aparência continua a mesma. É isto que
parece importante para manter a capacidade imunogênica — destaca ela. — Além
disso, a pressão é um agente físico, não químico. Muitas vacinas hoje usam
agentes químicos, e, por isso, produzem efeitos colaterais. Quanto menos
agentes químicos forem empregados, menos efeitos colaterais as pessoas terão.
O estudo é parte do conjunto
de trabalhos da Rede Zika.
O esforço conjunto de
cientistas teve início quando o surto da doença começou, e o Ministério da
Saúde declarou estado de emergência, em novembro do ano passado, por conta da
epidemia de microcefalia — malformação do cérebro de bebês relacionada com a
infecção das gestantes com o vírus. A Rede Zika foi criada pela Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) para trazer respostas, o
quanto antes, sobre essa doença, cujos primeiros casos no Brasil foram
registrados em 2015.
Diretor científico da Faperj,
Jerson Lima Silva lembrou que o Brasil responde hoje por 15% dos artigos
publicados sobre zika no mundo. Considerando apenas publicações nacionais, o
Estado do Rio foi responsável por aproximadamente 35% dos artigos sobre o
assunto, diz o pesquisador.
— Neste primeiro ano de
trabalho, a Rede Zika teve importância fundamental para os resultados na
ciência, contribuindo com descobertas relevantes — afirma ele, que também
integra a equipe que usa uma bomba de pressão para tentar chegar à tão
aguardada vacina.
DEMANDA URGENTE DA SOCIEDADE
Desde que os surtos de zika
começaram, cientistas de todo o mundo iniciaram uma caça à vacina. Enquanto
qualquer imunização demora anos ou décadas até ser disponibilizada, tudo indica
que a vacina contra o vírus da zika não levará tanto tempo.
— Temos que buscar fazer essa
pesquisa o mais rápido possível, de forma segura e eficaz. Vamos trabalhar
possíveis reações cruzadas com dengue, febre amarela e outras doenças. Vacinas
demoram a ser produzidas, mas temos que acelerar a criação desta. É uma demanda
urgente da sociedade — afirma Jerson Lima Silva.
Ele sabe, porém, que o caminho
para uma vacina não permite atalhos. Depois que terminar a fase do estudo com
experimentos em camundongos, são necessários testes em animais maiores, como
macacos. Trata-se de uma etapa mais cara, portanto exigirá que o trabalho seja
publicado, antes, em revistas científicas, para que possa angariar verba.
Depois dos exames em macacos, se os resultados forem positivos, a pesquisa pode
seguir para os ensaios clínicos, com pessoas.
— A vantagem é que,
diferentemente da dengue, a zika só tem um tipo de vírus. Então, é mais fácil
desenvolver uma vacina. Trata-se um inimigo só — pontua Lima Silva. — Mas é uma
doença muito grave, precisamos testar todas as armas que temos.
Além dele e de Andréa Cheble
de Oliveira, participam da pesquisa o professor André Marco de Oliveira Gomes,
do Instituto de Bioquímica Médica, os pós-doutorandos Carlos Henrique Dumard e
Francisca Hildemagna Guedes da Silva, e o professor Herbert Guedes, do
Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, também da UFRJ.
O Globo


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