Software criado por dois
médicos e um programador permite registar e partilhar informações clínicas de
pacientes com câncer de mama para agilizar decisões sobre tratamentos. Precisa
de 250 mil euros.
Chama-se OncoStats e qualquer
analogia entre oncologia e estatística não é coincidência. A plataforma, criada
por dois médicos com jeito para a Matemática, Estatística, Gestão e programação
de software quer mudar a prática da oncologia no mundo. Como?
Organizando e sistematizando
as informações clínicas de doentes oncológicos.
Objetivo: facilitar o
conhecimento que cada médico tem sobre os seus doentes e agilizar decisões
sobre que tratamentos prescrever. Mas, para passar da teoria à prática, precisa
de 250 mil euros, em troca de 10% do capital. Anda à procura deles
na plataforma de financiamento coletivo (crowdfunding) Seedrs.
Desenhada por médicos e para
médicos, a plataforma nasceu quando Miguel Borges, 28 anos, acabou o curso de
Medicina e estava fazendo residência no hospital de Guimarães, no final de
2014. Na passagem pela área da oncologia, o médico deparou com “alguns
problemas”, como a falta de dados sobre o sucesso dos tratamentos ao câncer da
mama que eram ali acompanhados e que pudessem ser entregues à Administração
Regional de Saúde do Norte. Juntou-se ao colega Firmino Machado e nasceu
o software que permite sistematizar esses dados, o OncoStats.
Pensamos numa ferramenta que
permitisse à diretora de oncologia distribuir pelos outros oncologistas e pelos
cirurgiões gerais, que trabalhavam no grupo do câncer da mama, o registo de
informação clínica com qualidade, parametrizada, que conseguisse refletir o
pensamento clínico para o interior de uma base de dados”, explica Miguel
Borges, CEO e cofundador da OncoStats.
Na prática, a plataforma
permite obter o resumo da situação de cada doente: o tipo de tumor, a
progressão da doença, os tratamentos já realizados, informações
sociodemográficas e o histórico familiar, fator importante se houver uma
componente genético na doença.
A versão inicial do software está
sendo testada em ambiente clínico no Hospital de Vila Nova de Gaia e no
Hospital da Luz Arrábida (privado), também em Gaia, para pacientes com câncer
da mama. Mas a previsão é que o software possa ser aplicado a outros tipos de
cancro, como o da próstata, do cólon ou do pulmão. Também está sendo testada a
integração do OncoStats com os outros sistemas de informação existentes nas
unidades hospitalares.
O contexto ideal para a
utilização do software, explica Miguel Borges, é a consulta do grupo
multidisciplinar na oncologia que reúne oncologistas, cirurgiões gerais e um
radioterapeuta, porque “muitos dos médicos que estão naquela reunião não
conhecem o doente”.
É o momento em que colocamos o
software à frente dos oncologistas e eles resumem toda a informação que é
relevante sobre determinado doente numa reunião de grupo, que existe com o
propósito de não serem tomadas decisões apenas por uma pessoa. Pelo menos,
damos a garantia de que eles vão tomar uma decisão mais adequada ao paciente
naquele momento, porque estão a rever uma série de informações”, esclarece o
médico.
Dois milhões de euros que
passam pelo Brasil, Reino Unido, Alemanha e Suíça
Apesar do OncoStats ter já
dois anos de maturação, a empresa só foi criada no final do ano passado e
esteve seis meses no programa de incubação da Startup Braga. Está avaliada em
cerca de dois milhões de euros e o investimento feito até ao momento foi suportado
por capitais próprios dos fundadores. O software está numa
fase final de testes, mas a startup quer difundir o produto
pelo mercado nacional. Está a ser desenhada uma estratégia internacional que
passará pelo Brasil, Reino Unido, Alemanha e Suíça.
Os planos passam, agora, por
encontrar investidores lá fora. Daí a campanha que estão promovendo na Seedrs.
Querem contratar profissionais para compor uma Equipe com dedicação e gestão
exclusiva, constituída por um gestor executivo, três programadores, um investigador
e um administrativo. Até ao momento, a startup atingiu já 44% do objetivo
fixado.
A partir do momento que
passarmos a ter uma equipe com dedicação exclusiva teremos uma velocidade de
operação e de funcionamento que não tínhamos antes. Isto foi crescendo de uma
ideia que era só para um hospital, que depois passou para uma estratégia
nacional. Agora, estamos a pensar que isto é bom para qualquer hospital que
trate doentes oncológicos no mundo”, remata Miguel Borges.
Por enquanto, ainda não é
possível fazer um balanço da aplicação prática do OncoStats mas a perspectiva é
a de obter uma “utilização do software a 100% por todos os médicos” nos
hospitais onde está a ser implementado, nota o CEO da startup.
Para os administradores
hospitalares e diretores clínicos, os ganhos passam pela otimização dos tempos
de consulta e custos envolvidos no processo oncológico, nomeadamente na
realização de exames. De acordo com os fundadores do projeto, a utilização
desta tecnologia torna os diagnósticos mais precisos. Já os doentes, explicam,
vão poder comunicar o seu estado e efeitos secundários dos tratamentos
ambulatórios com as equipas clínicas, através de uma aplicação móvel que ainda
está a ser desenvolvida.
Cristiana Faria Moreira,
Editado por Ana Pimentel


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