Dos dez artigos publicados, a
edição de dezembro da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz apresenta pesquisas
que investigam importantes aspectos relacionados a doenças infecciosas na
América Latina. Realizado em Cuba, um estudo identifica a presença do vírus HPV
em casos de câncer colorretal e reforça a hipótese de associação do patógeno
com a doença. Outro trabalho detecta, pela primeira vez na Colômbia, a presença
da bactéria Leptospira santarosai, contribuindo para o conhecimento sobre
microrganismos causadores da leptospirose no país. Enquanto isso, um estudo
conduzido na Argentina relata o achado de uma mutação genética associada à
resistência a medicamentos antivirais em vírus Influenza A (H3N2), causadores
da gripe comum, alertando para a importância da vigilância laboratorial na
orientação do tratamento da doença. A edição da revista ‘Memórias’ pode ser
acessada gratuitamente online.
Vírus HPV em casos de câncer
em Cuba
A identificação de vírus HPV
em casos de câncer colorretal durante um estudo realizado em Cuba reforça a
hipótese de que o microrganismo pode contribuir para o desenvolvimento da
doença, assim como ocorre em tumores do colo do útero. Liderado pelo Instituto
de Medicina Tropical Pedro Kourí em colaboração com o Instituto de
Gastroenterologia, ambos cubanos, o trabalho analisou amostras do tecido
tumoral de 42 pacientes. Com base em métodos moleculares, o objetivo foi
detectar a presença das linhagens clinicamente mais relevantes do HPV. O
material genético do vírus foi encontrado em 42% dos adenocarcinomas, forma
mais comum de câncer colorretal, e em 28% dos adenomas, lesão precursora da
doença. Por outro lado, a infecção não foi diagnosticada em nenhuma das 21
amostras de pacientes com inflamação crônica benigna da mucosa colorretal,
conhecida como colite, analisadas como controle.
O artigo ressalta que os
resultados observados na população cubana estão alinhados a pesquisas
internacionais. Por exemplo, as linhagens do vírus encontradas nas amostras –
HPV 16 e HPV 33 – também foram apontadas como as mais frequentes em uma
meta-análise de 33 estudos, que incluiu dados de mais de 2,6 mil casos de
adenocarcinoma. Para os autores, embora os dados ainda não sejam suficientes
para estabelecer de forma definitiva o papel do HPV no câncer colorretal, os
dados sugerem que o vírus pode ser um cofator no desenvolvimento da doença, o
que pode ter implicações importantes para o tratamento e prevenção do agravo.
“Se for verificado que a infecção por HPV tem um papel causal na carcinogênese
colorretal, então as vacinas profiláticas contra o vírus poderão ser utilizadas
para prevenir uma grande proporção de casos esporádicos deste tipo de câncer”,
destacam os cientistas no artigo. Confira o estudo.
Nova espécie de bactéria
causadora de leptospirose na Colômbia
Uma espécie de bactéria
causadora da leptospirose que ainda não tinha sido encontrada na Colômbia teve
o primeiro registro em um estudo das Universidades de Antioquia e CES, na
Colômbia, em colaboração com o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que atua como
Centro Colaborador para Leptospirose junto à Organização Mundial da Saúde
(OMS). Quatro sorotipos de Leptospira santarosai foram detectados em amostras
de pacientes e de cães diagnosticados com a doença. De acordo com os
pesquisadores, patógenos L. santarosai já tinham sido identificados em casos de
infecção humana na Costa Rica e nas Antilhas e em hospedeiros animais no Peru,
Brasil e México. O estudo analisou 25 isolados bacterianos, obtidos a partir de
amostras de pacientes, macacos, cães e ratos, além de fontes ambientais de água
usadas para consumo humano. Bactérias da espécie L. interrogans, principal
agente causador da leptospirose no mundo, foram encontradas nas amostras de
macacos e ratos. Já a espécie L. meyeri, que é potencialmente causadora de
doença, foi achada nas amostras de água.
Uma vez que as bactérias
Leptospira apresentam grande diversidade, sendo classificadas em 21 espécies
genéticas e cerca de 300 sorotipos, dos quais 260 são patogênicos, os autores
do estudo afirmam que a caracterização dos microrganismos locais pode
contribuir para a prevenção e o controle da doença. Os pesquisadores sugerem
direcionar os testes de diagnóstico considerando as variedades da bactéria que
ocorrem no país. Eles destacam, ainda, que a identificação de reservatórios da
doença é importante para reduzir a dispersão das bactérias no meio ambiente e o
risco de contato das pessoas com animais infectados. Leia o artigo.
Resistência do vírus Influenza
a medicamentos antivirais na Argentina
Uma mutação genética associada
à resistência a medicamentos antivirais foi detectada em vírus Influenza A
(H3N2), causadores da gripe comum, em um caso na Argentina. O achado foi
realizado pelo Departamento de Virologia do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas,
que atua como Centro Nacional de Influenza junto à OMS, em parceria com a
Universidade de Tucuman, na Argentina. Foram analisadas 842 amostras do vírus
H3N2 relativas a pessoas que foram infectadas em 2014. Neste conjunto, uma
paciente com histórico de leucemia linfoblástica aguda, tipo de câncer que
afeta células de defesa do organismo, chamou atenção: a amostra coletada após
dez dias de tratamento com oseltamivir revelou a presença de vírus com uma
alteração genética associada à resistência ao medicamento, o que não tinha sido
verificado na amostra coletada antes do início da terapia. Segundo os
cientistas, o vírus Influenza que acometia esta paciente tinha uma mutação
conhecida como E119V, uma das mais comuns após a administração de inibidores da
enzima neuroaminidase – principal classe de antivirais usada contra a gripe, da
qual o oseltamivir faz parte. A mutação provoca uma mudança que reduz o efeito
dos fármacos. O problema é mais frequente em pacientes com imunidade
comprometida, já que eles costumam apresentar períodos de excreção viral
prolongados após o início do tratamento, o que favorece o processo de seleção
de mecanismos de resistência do vírus.
O trabalho destaca que a
identificação do genótipo do vírus não é suficiente para determinar que a
resposta ao tratamento está comprometida. No entanto, seguindo as orientações
do grupo de trabalho da OMS sobre vigilância da suscetibilidade dos vírus
influenza a medicamentos antivirais, a terapia deve ser revista diante desse
resultado. “Amostras para testes com inibidores de neuroaminidase devem ser
coletadas especialmente em pacientes imunocomprometidos submetidos ao
tratamento da gripe. Elas devem ser analisadas imediatamente, usando técnicas
de base molecular para detectar mutações associadas às formas comuns de
resistência, e o resultado deve ser prontamente fornecido aos médicos, de modo
que terapias alternativas possam ser iniciadas”, enfatizam os cientistas no
artigo. Acesse a pesquisa.
Maíra Menezes (IOC/Fiocruz)


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