O
novo número da revista Ciência e Saúde Coletiva (vol.23 n.5), de
maio de 2018, é dedicado às doenças e agravos não transmissíveis (Dant),
questão fundamental perante o desafio contemporâneo no enfrentamento desses
agravos que combinam dois grupos de eventos: as doenças crônicas não
transmissíveis - DCNT (como as cardiovasculares, neoplasias, respiratórias
crônicas e diabetes) e as causas externas (acidentes e violências). De acordo
com as pesquisadoras Deborah Carvalho Malta, da Universidade Federal de Minas
Gerais, e Marta Maria Alves da Silva, da Universidade Federal de Goiás, o
aumento da carga de DCNT afeta mais as pessoas de baixa renda e reflete os
efeitos negativos da globalização, das desigualdades no acesso aos serviços de
saúde, urbanização rápida, vida sedentária, da alimentação com alto teor
calórico e marketing que estimula o uso do tabaco e do álcool.
Segundo a revista, as Dant representam a maioria das causas de morbimortalidade no mundo e no Brasil, além de resultarem em mortes prematuras, incapacidades, perda da qualidade de vida e importantes impactos econômicos. No caso das violências, existem sólidas evidências que destacam as desigualdades associadas aos recortes de gênero, raça/cor, baixa escolaridade e renda, pessoas com deficiência, crianças e idosos, dentre outros, populações essas que devem ser priorizadas em políticas públicas de promoção da equidade.
Nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e na Agenda 2030, informam as pesquisadoras, diversos indicadores referentes às Dant foram incluídos como metas de redução da mortalidade de DCNT e das mortes no trânsito, metas de redução do tabaco e do consumo abusivo do álcool, eliminação da violência contra mulheres e meninas, acesso a sistemas de transporte seguros, sustentáveis, expansão do transporte público. Essas metas reforçam a ação intersetorial.
O Brasil possui importantes marcos no seu compromisso com o tema, como a criação da Coordenação Geral de Dant em 2003 no Ministério da Saúde, e a organização da Vigilância de Dant, para o monitoramento desses agravos. O aprendizado em relação às Dant é organizar a vigilância desses eventos, atuar na redução das desigualdades e iniquidades, instituir agenda regulatória que reduza vulnerabilidades e, sobretudo, atuar de forma participativa, articulada e intersetorial, concluem as pesquisadoras.
No artigo Prevalência de acidentes de trabalho e fatores associados em fazendas de tabaco em São Lourenço do Sul-RS, de Adriana Marchon Zago, da Universidade Federal de Pelotas; Rodrigo Dalke Meucci, Nadia Fiori, Maria Laura Vidal Carret e Anaclaudia Gastal Fassa, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Neice Muller Xavier Faria, da Secretaria Municipal de Saúde de Bento Gonçalves, o objetivo foi avaliar a prevalência de acidentes de trabalho e fatores associados em fazendas de tabaco em São Lourenço do Sul-RS. Estudo transversal com 488 produtores de tabaco, avaliando características sociodemográficas, comportamentais, laborais e associação com acidentes de trabalho ocorridos ao longo da vida. A prevalência de lesão foi de 24%; 46% das lesões graves causaram lesões superficiais, e 26% causaram fraturas. Políticas de prevenção de acidentes de trabalho rurais precisam ser estabelecidas, particularmente para a agricultura de tabaco.
O artigo Necessidades de saúde de camponeses em conflito ambiental frente à instalação de Perímetros Irrigados, desenvolvido pelos pesquisadores Andrezza Graziella Veríssimo Pontes e Jennifer Vale Silva, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; Raquel Maria Rigotto, da Universidade Federal do Ceará, analisa necessidades de saúde de camponeses, identificadas por um coletivo de atores da universidade, Sistema Único de Saúde e movimentos sociais. Pesquisa-ação, cujo grupo foi constituído por agentes comunitários de saúde, trabalhadores de Centro de Referência em Saúde do Trabalhador, professor universitário e representantes de movimentos sociais. A categorização temática evidenciou cinco conjuntos de necessidades de saúde: de revisão do modelo de desenvolvimento agrário, de boas condições de vida, de mobilização social, de evitar uso de agrotóxicos e de atuação do SUS. O diálogo de saberes e a troca de experiência potencializaram o reconhecimento de necessidades de saúde que requerem ações intersetoriais. As necessidades de saúde devem ser compreendidas no contexto dos territórios em que os sujeitos individuais e coletivos se inserem, reconhecendo-se a complexidade das questões sociais, econômicas, culturais e ambientais.
O artigo Discursos sobre humanização: profissionais e usuários em uma instituição complexa de saúde, de Laura Ribeiro Ferreira e Elizabeth Artmann, da ENSP, apresenta os discursos de profissionais e usuários de uma instituição de pesquisa e assistência em saúde acerca da humanização. Os achados apontam para a importância do conjunto de tecnologias duras, leve-duras e leves para a prática humanizada. O papel de articulação da ação comunicativa foi destacado tanto na formação de redes entre os profissionais, como na relação entre profissionais e pacientes. O fato de a instituição realizar pesquisa foi considerado pelos profissionais e usuários como fator que eleva a qualidade da assistência e contribui para a humanização. Usuários enfatizaram a importância da resolutividade para o atendimento humanizado e consideraram-se bem-atendidos. Os profissionais destacaram as condições de trabalho e a autonomia de profissionais e de pacientes, com a valorização do saber de cada um. O trabalho intersetorial aparece como importante desafio para o instituto e o SUS, segundo as pesquisadoras.
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Fonte: Ensp/Fiocruz
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